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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 31.10.16

A gritaria sobre o ordenado do Presidente da CGD

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«A gritaria centra-se no ordenado do novo Presidente, numa festa da demagogia própria de um país que continua a não gostar de ver uma camisa lavada a um pobre.

  1. Foram sete cães a um osso, como diz o povo e sem ofensa. O osso é a CGD, que se transformou pelas piores razões numa algazarra política e mediática que não só impede que se pense a sério sobre o assunto como ameaça deitar abaixo uma solução penosamente negociada em Bruxelas e que garantia, pela primeira vez, uma gestão estritamente profissional do banco, tirando-a do eterno abraço do Bloco Central. A gritaria centra-se no ordenado do novo Presidente, numa festa da demagogia própria de um país que continua a não gostar de ver uma camisa lavada a um pobre. Seguiu-se a defesa apaixonada do Estado de Direito, que ficaria lesado caso Domingues não entregasse no TC a sua declaração de rendimentos. O povo gosta. As consequências, essas, não são para aqui chamadas. Pelo contrário, a gritaria pode ajudar a esquecer coisas passadas e bastante incómodas para os partidos do anterior Governo.
  2. Passos Coelho é o primeiro responsável pelo que se está a passar. Deixou, com a cumplicidade da troika europeia, que o sistema bancário português mergulhasse numa crise profunda, alegadamente para cumprir a regra nº 1 do breviário neoliberal segundo a qual o Estado não tem nada a ver com o que se passa na banca. Em caso de falência, o problema é dela. Consegue dizer tranquilamente que o actual Governo está a dar cabo do sistema financeiro. A sua ideia sobre o banco público é que, provavelmente, nem sequer devia existir. E, em caso de existir, deveria ser “salvo” por capitais privados, para influenciar o accionista principal. Com que vantagem? Passos não actualizou o breviário, depois da queda do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. A administração americana também disse que o assunto não era com ela e foi elogiada por deixar cair um dos maiores bancos de investimento do mundo. Só se pôde vangloriar uma semana. O resto da história, sabemo-la demasiado bem. Sabemos também que o sistema financeiro europeu está muito longe de ter os seus problemas resolvidos. Apenas a Inglaterra e os EUA já fizeram o que era preciso, com muito dinheiro público e regras novas (no caso americano).
  3. O Governo de Costa herdou uma situação próxima do colapso nos bancos. Era preciso salvar a Caixa com dinheiro público, contra as regras de Bruxelas sobre as ajudas de Estado. A argumentação foi difícil mas, coisa rara, teve ganho de causa. Pela primeira vez, a administração da instituição passou a ser inteiramente profissional. Acabaram as “Cardonas” (o CDS também teve direito à sua fatia do bolo) ou os “Varas”, fruto de uma regra não escrita segundo a qual a Caixa devia ser gerida por uma administração negociada entre PS e PSD: de preferência, um presidente do PSD quando o PS estava no Governo e vice-versa. Isto não quer dizer que alguns dos gestores que passaram pelo conselho de administração não fossem competentes. Houve-os, de facto. Mas a mácula partidária sempre pairou sobre as suas decisões. Da mesma maneira que houve sempre um debate político sobre se o Estado devia manter um banco público. São legítimas as diferentes posições. Mas a prudência foi sempre aconselhando a manutenção da Caixa nas mãos do Estado, e hoje por maioria de razão. A crise financeira acelerou o processo de internacionalização da banca privada, demasiado pequena e dispersa para sobreviver, passando a sua propriedade para capitais angolanos, chineses e espanhóis. Mas nada disso interessa. Interessa que a questão de fundo seja diluída em várias frentes de combate. E é exactamente o que está a acontecer. Depois do ordenado são as declarações de rendimentos dos gestores que devem ser entregues no Constitucional. Usam-se grandes palavras como o Estado de Direito e a democracia, embora haja pareceres jurídicos distintos. E, à falta de melhor, ainda há ao seu alcance uma qualquer comissão parlamentar de inquérito, em nome da transparência para pôr tudo em pratos limpos. Para retirar credibilidade à Caixa parece que vale tudo.
  4. Já quanto ao vencimento do presidente da Caixa, PPC esqueceu o breviário e juntou-se a Catarina Martins. Tem a legitimidade de quem é contra os bancos públicos e, portanto, os grandes ordenados devem ficar apenas para os privados. Assunção Cristas conseguiu, mesmo assim, ultrapassá-lo em matéria de demagogia, quando disse que um país com pensões tão baixas não podia permitir-se um salário desta natureza. Esqueceu-se do que o Governo a que pertenceu fez às pensões pequenas e remediadas, deixando um lastro de injustiça e de impotência que só mesmo quem o viveu pode testemunhar. Quanto ao polémico salário, com sorte António Domingues leva menos de 15 mil euros para casa. Seria preciso alguém que tivesse feito um voto de pobreza ou, então, ser absolutamente incompetente, para aceitar um ordenado inferior ao do Presidente. Também seria de desconfiar que o novo presidente chegasse à Caixa sem qualquer património, depois de uma carreira de 25 anos no BPI.
  5. É verdade que somos um país profundamente desigual em ternos europeus. Ainda não conseguimos vencer a armadilha da pobreza. Mantemos como herança um défice de educação que não existe na maioria dos nossos parceiros mais ricos. Temos um tecido empresarial onde predominam as pequenas empresas sem qualquer capacidade de gestão e muitas médias que sofrem do mesmo mal. Temos um salário mínimo que é uma vergonha, mas que terá de ser combatido a sério pelo aumento da produtividade do trabalho (mais tecnologia, mais educação, melhor gestão). Ficámos ainda mais pobres com esta crise que assentou o seu ajustamento na redução dos rendimentos do trabalho e das pensões. A decência é necessária mas a demagogia não. Não é o salário do presidente da Caixa que aumenta as desigualdades.
  6. E já que estamos à volta da Caixa, vale a pena recordar qual foi a reacção de muita gente quando o BCE resolveu vetar as escolhas de alguns dos administradores não executivos, que incluíam nomes tão respeitáveis e competentes como Leonor Beleza. As dúvidas levantadas em Frankfurt sobre a sua capacidade de gestão ou a recomendação de cursos acelerados no INSEAD é, pura e simplesmente, inadmissível. Mas deu imenso gozo a muita gente, sempre entusiasmada com a última chicotada que levamos da Europa, a confirmar como não valemos nada.

A irresponsabilidade é de tal ordem que ainda corremos o risco de ver a solução para a Caixa soçobrar, dando mais uma machadada na credibilidade ainda muito frágil do sistema financeiro. Vê-se e não se acredita. Ou então está aqui uma das explicações para nossa aparente incapacidade de criar uma sociedade mais ricas e mais igual.».

Teresa de Sousa - jornal Público

Sab | 29.10.16

Sporting vai de mal a pior

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Jorge Jesus é, na minha opinião, o  grande responsável do mau momento que a equipa atravessa por ter apostado em jogadores como o Elias, Markovic, Zeeglar ou Schelloto e em avançados que atá à data provaram zero. E ainda mais culpado por metê-los a jogar. Custa-me acreditar que não haja um lateral melhor a jogar na equipa B. Para não falar dos jogadores emprestados que fariam certamente mais e melhor do que os que lá estão. Vendemos dois jogadores, compramos seis, e ficamos muito pior do que estávamos. Como é possível?

 

O que será necessário acontecer mais para que Jorge Jesus mude drasticamente a equipa?!

 

Enquanto JJ não reconhecer que o problema está na inclusão de jogadores sem qualidade técnica ou tática e física para jogarem no Sporting, a equipa continuará consecutivamente a perder pontos como ontem frente ao Nacional. JJ não pode simplesmente argumentar que houve saídas na equipa (João Mário, Slimani) ou com a lesão de Adrien ou que os jogadores ainda não adquiriram a melhor forma, porque isto acontece em todas as equipas – veja-se o caso do Benfica – pese embora a onda de lesões, a saída de jogadores influentes com que o clube se tem confrontado, nem por isso se deixa esmorecer, pelo contrário, soma e segue. Aliás, é exatamente por essa razão que a SAD leonina paga 5 milhões/ano ao treinador leonino, para ele arranjar soluções e pôr a equipa a jogar bom futebol.

 

Parece-me caricato que o treinador do Sporting não perceba que as razões por que perdermos pontos nos últimos jogos resultam de três situações fundamentais: laterais pouco evoluídos tecnicamente que não dão profundidade ofensiva; meio campo que não funciona e o 2 º avançado ainda por definir.

 

Apesar de não ganharmos um campeonato há 14 anos, nos último dois anos tinhamos conseguido impor-nos aos adversários e jogar taco a taco. Este ano e por este andar, tudo voltará à triste normalidade. Parece que voltamos à época 2012-1013 em que o SCP ficou no 7º lugar.

 

Enfim, Champions e Campeonato terminados em Outubro, é o que é! Sinceramente os sócios e adeptos que não se cansam de apoiar a equipa, não merciam isto.

Sex | 28.10.16

Um dia aziago

 

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Há notícias que são como como um «murro no estômago». Situações que estão longe da nossa imaginação, talvez por julgarmos que nunca irão acontecer.  Ontem foi um dia aziago, desapareceram dois homens brilhantes. Muito diferentes, mas ambos distintos e excelentes nas suas áreas e que eu admirava sobremaneira.

 

Um, João Lobo Antunes, era e uma referência no mundo da ciência e da medicina – um príncipe da medicina – foi um neurocirurgião brilhante. Adorava a escrita e a música, era um pensador livre e humanista. Mandatário das candidaturas de Jorge Sampaio e Cavaco Silva a Belém, conselheiro de Estado, professor, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Prémio Pessoa em 1996, a vida João Lobo Antunes deixa uma marca forte áreas distintas.

 

O Jaime Fernandes era um príncipe da rádio. Tinha uma voz magnifica, uma das melhores vozes radiofónicas, era um grande profissional da comunicação, marcou uma época na rádio, nos idos de 80 e 90. Foi um grande amante da música, que sempre divulgou e promoveu.

 

São baixas graves, irremediáveis. Claro que o mundo não pára e haverá certamente novos valores a surgir. Mas para nós, que os conhecíamos e admirávamos, o nosso mundo fica mais pobre. Cada vez vai ficando mais pobre…

Qua | 26.10.16

Futebol no feminino

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Pela primeira vez na sua história, a seleção portuguesa de futebol feminino apurou-se para a fase final do Euro2017.

 

As atletas portuguesas empataram a uma bola na Roménia, na segunda mão do playoff de acesso à competição, depois do nulo em casa no primeiro encontro. O golo marcado fora, no prolongamento, por Andreia Norton, chegou para a seleção lusa fazer uma festa e carimbar o passaporte para o Europeu da Holanda do próximo ano.

 

Parabéns, meninas, ficamos a torcer por vós!

Qua | 26.10.16

No país dos doutores

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«A queda do assessor do PM que não era licenciado é apenas a face visível de uma sociedade em que a aparência é mais importante que a realidade. Onde o "doutor" é mais importante que a nossa identidade própria, onde é usada a palavra "doutor" como se um título nobiliárquico se tratasse como nos aristocratas de séculos passados, onde as mentes ridículas tratam toda a gente por "sôtôr" como se isso fosse algum sinal de educação mas é apenas de subserviência. O valor das pessoas não reside num canudo, há muitos "doutores" incultos, incompetentes, vigaristas e corruptos e muita gente que não andou na universidade que é a melhor nas suas profissões. As pessoas, o seu âmago, são muito mais importantes que títulos. Cabe a todos mudar esta provinciana mentalidade».

Rui Calafate (facebook)

Ter | 25.10.16

Candidatos à Bola de Ouro

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Cristiano Ronaldo, Rui Patrício e Pepe, futebolistas que fizeram parte da seleção portuguesa que conquistou o título de campeã europeia de 2016, encontram-se na lista de candidatos à Bola de Ouro, escolhidos pela revista francesa France Footbal.

 

Recorde-se que desde 2007 Cristiano Ronaldo era o único português presente na lista final de candidatos a melhor jogador do Mundo.

 

Sabemos bem que Rui Patrício e Pepe dificilmente ganharão, contudo, o facto de estarem nomeados já constitui em si mesmo um justo reconhecimento do valor destes jogadores.

 

Quanto a Cristiano Ronaldo volta a estar nomeado para um prémio que já venceu por três vezes. As apostas dão o português como um dos favoritos a vencer o galardão, depois de ter se ter sagrado campeão europeu pelo Real Madrid e por Portugal.

 

O vencedor será conhecido já em 13 dezembro, numa gala em Zurique.

Dom | 23.10.16

O filme «A rapariga no comboio»

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Tinha alguma curiosidade em ver o filme A Rapariga no Comboio (The Girl on the Train) de Tate Taylor baseado no best seller de Paula Hawkins.

 

Tinha lido o livro no verão do ano passado como vos dei conta aqui. Gostei bastante do livro. Uma narrativa fluida com personagens bem construídas que agarram o leitor do primeiro ao último minuto.

 

Mas ver um filme após ter lido o livro é quase sempre uma desilusão e este não foi exceção. Enquanto o livro tem suspense e é empolgante, o filme é demasiado previsível e pareceu-me que as cenas simplesmente se iam desenvolvendo sem grande ligação entre as personagens.

 

Embora o realizador tentasse ser fiel à história, julgo que ficou muito por explorar. Tendo em conta a carga dramática que o livro tem, o guião do filme apresenta alguns momentos intensos, poucos, motivados sobretudo pela capacidade de representação de  Emily Blunt.

 

Gostei francamente de Emily Blunt no papel de Rachel: Pareceu-me uma boa escolha para interpretar uma alcoólatra deprimida e amargurada. Emily Blunt transformou-se fisicamente para assumir o papel principal (teve inclusive que ganhar alguns quilos). Quanto às restantes personagens, principalmente as masculinas, achei-as pouco consistentes e interessantes.

 

Apesar de tudo não podemos dizer que é um mau filme. Entendo, no entanto, que o livro tinha potencial mais do que suficiente para se fazer um thriller emocionante e arrebatador.

Qui | 20.10.16

O homem mais procurado de Portugal

 

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Pedro João Dias é, por estes dias, o homem mais procurado em Portugal. O homem, de 44 anos, conhecido por ‘Piloto’ (por possuir o brevet), encontra-se a monte. Matou um militar da GNR e um civil, deixando outras cinco pessoas feridas desde que fugiu às autoridades há 10 dias.

 

A GNR reforçou o efetivo no terreno para garantir a segurança das populações. Entretanto algumas aldeias de Vila Real têm sido passadas a pente fino, e apesar de alguns populares terem afirmado ter visto o assassino de Aguiar da Beira, certo é que até ao momento não há vestígio do homem.

 

Pedro Dias é considerado pelas autoridades como «uma força da natureza». É a sua compleição física, forte e robusta, aliada a uma inteligência e sagacidade, que lhe têm permitido resistir a condições adversas e às forças da GNR que há 10 dias o perseguem. Além disso o fugitivo é caçador e conhece como ninguém aqueles campos e vales. Provavelmente estará a ser ajudado por amigos e familiares daquela zona.

 

Por outro lado, o facto de alguns estações de televisão seguirem esta «caça ao homem» quase em direto obviamente que tem dificultado a sua captura. Sabemos como os portugueses anseiam por histórias de sangue e de «faca e alguidar», mas a CMTV ultrapassa todos os limites nos métodos que usa para obter mais share, tendo mesmo transformado este caso num verdadeiro realty show. À conta disto, registou o seu melhor resultado do ano em termos de audiência. Para este canal vale tudo, nem que para isso seja necessário literalmente«encher chouriços» durante horas a fio.

Dom | 16.10.16

Orçamento de Estado

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«Durante cerca de um ano, Passos Coelho teve uma narrativa. Este Governo era despesista, as reversões iam desequilibrar as contas públicas, o investimento ia retrair-se perante o radicalismo de Esquerda, o défice dispararia. E depois? Depois o PS acabaria por abandonar o país. Caberia ao PSD o papel difícil, mas necessário e responsável, de voltar ao comando do navio e pôr as contas em ordem.

 

Com a apresentação do Orçamento do Estado para 2017, o discurso da Oposição fez uma viragem que deita por terra meses e meses desta narrativa sobre despesismo. Eis que a palavra de ordem passou a ser austeridade. Primeiro foi Pedro Passos Coelho a queixar-se que, afinal, "ela" está de volta. Depois Assunção Cristas disse que de facto é isso. Uma austeridade com roupagem diferente, um bocadinho mais à Esquerda, mas em qualquer caso austeridade. E é aqui que o cidadão que tente situar-se neste teatro político e perceber qual a visão de cada partido para o país fica baralhado.

 

Então a contenção na despesa e o rigor não eram um mal necessário? A dureza dos anos da troika não era o único caminho para endireitar as contas do Estado, depois do descontrolo em que PSD e CDS-PP as tinham encontrado? Passos Coelho e Assunção Cristas prefeririam que este orçamento desse aumentos incríveis à Função Pública, aumentasse a eito as pensões e evitasse mais impostos, fazendo disparar de novo o défice?

 

Sem o diabo à solta do lado do défice, os líderes da Oposição têm de encontrar novos perigos em que focar a atenção. E nem lhes falta por onde. Os níveis de investimento continuam perigosamente baixos e ainda não foram apresentadas verdadeiras medidas para promover aquilo de que precisamos como de pão para a boca: o crescimento da economia.

 

O Estado, em rigor, não tem orçamento. Tem um bolo que é reunido à conta de retirar migalhas a cada um dos contribuintes. Sem crescimento, esse exercício será sempre penoso. Ainda assim, é difícil não reconhecer que o modelo proposto para o próximo ano introduz um pouco de justiça social, devolvendo uns tostões a quem mais precisa e procurando ir buscar mais onde faz menos diferença.

 

É urgente uma Oposição construtiva e criativa, que apresente ideias e propostas em vez de esperar pelas desgraças do poder. Sem isso, a sua existência torna-se vazia. E até desnecessária como alternativa. Austeridade por austeridade, para pior já basta esta».

 

JORNAL DE NOTÍCIAS - INÊS CARDOSO

Dom | 16.10.16

Crónicas de escárnio e maldizer

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Vasco Pulido Valente está de volta, agora no Observador. Igual a ele próprios e ao que no habituou desde as suas crónicas no Independente: inteligente, cáustico, amargo, mordaz. A sua imagem de marca é o ceticismo. Mas também o escárnio e o maldizer, uma tradição muito portuguesa com sucesso garantido na imprensa escrita. 

Vejamos, de forma sucinta, como comenta os assuntos que marcaram esta semana no seu diário:

  1. O que diz sobre os taxistas: «Esta querela dos taxistas é um retrato da imbecilidade nacional».
  2. Sobre a eleição de Guterres para a ONU: «Por acaso conheço a criatura. É um homem fraco, influenciável, indeciso e superficial».
  3. Sobre o anterior livro de Sócrates (não leu ainda o novo): «É um exercício escolar sem originalidade ou rigor, que, como lhe compete, exibe uma enorme incultura filosófica».
  4. Sobre as eleições americanas: «O debate entre Trump e Clinton não passa de uma zaragata de bordel. A famosa civilização do Ocidente deu nisto».
  5. Sobre o OE2017: «As discussões sobre o Orçamento de 2017 deixaram à vista a pobreza e a fragilidade de Portugal».
  6. Sobre Portugal: «A choradeira e o ranger de dentes não levam a nada, nem os triunfos vicários com as façanhas de Ronaldo ou Guterres. Sempre foi assim».

À exceção dele próprio, tudo neste país é péssimo, trágico ou apocalíptico, um desastre que ele nos anuncia em crónicas infalivelmente pessimistas e biliares. 

Ora, se todas as suas previsões catastrofistas se cumprissem o país provavelmente há muito que não existiria enquanto nação.

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