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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sab | 27.05.17

Madonna em Lisboa

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Madonna tem sido notícia na última semana. A cada nova publicação no Instagram novas notícias surgiam. A visita ao liceu francês e os rumores de que terá visto algumas casas à venda em Lisboa apontaram para a possibilidade de a cantora se querer mudar para a capital portuguesa. A partir daí foi um verdadeiro frenesim noticioso:

 

Madonna em Lisboa;

Madonna no Hotel Ritz;

Madonna no Liceu Francês;

Madonna no Alentejo;

Madonna janta no Bairro Alto;

Madonna disputa palacete com Phil Collins;

Madonna anda a cavalo;

Madonna em Sintra;

Madonna na Praia da Comporta;

Madonna na Academia do Benfica:

Madonna no Mosteiro dos Jerónimos (que fechou para a visita da rainha da Pop)

Madonna janta com Nuno Gomes (o do Benfica);

Madonna encontra-se com o Presidente da Câmara​ de Lisboa (talvez com um catálogo de vendas da Remax ou da ERA na mão).

 

Consigo perceber que alguém como a Madonna queira vir morar para Lisboa e nós só podemos congratular-nos com isso. Já o resto, sobre cada passo dela e acabando na vassalagem dos políticos, não me parece apenas exagerado mas completamente parolo e saloio, para já nem falar que só mostra que há estrangeiros de primeira e vulgares cidadãos contribuintes como nós de terceira ou quarta categoria.

 

Às vezes até parece somos um país evoluído, mas depois há sempre quem nos faça questão de recordar que ainda parecemos um país de terceiro mundo.

 

Podemos melhorar todos os indicadores económicos, mas o 'défice de provincianismo excessivo', esse, perdurará em nós ainda por muito tempo.

 

Ter | 23.05.17

Saída dos défices excessivos

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Mais uma boa notícia para Portugal e para os portugueses: soubemos também ontem que Portugal está prestes a sair dos «procedimentos por défices excessivos» (PDE), decisão há muito aguardada pelas autoridades portuguesas.

 

Com um défice excessivo desde 2009, Portugal conseguiu pela primeira vez em 2016 fixar o défice abaixo dos 3% como é exigido pelas regras europeias.

 

As próprias previsões económicas da Comissão Europeia antecipam que Portugal continuará com um défice abaixo dos três por cento em 2017 e 2018, estando assim reunidas as condições para a saída.

 

A saída de Portugal do PDE é um sinal de que as contas públicas poderão entrar numa trajetória de sustentabilidade,  significando um aumento da confiança dos investidores internacionais na evolução das finanças públicas do país, podendo ser mais fácil a realização de investimentos públicos e reformas estruturais.

 

No entanto, esta decisão não significa necessariamente um alívio para Portugal uma vez que, saindo do PDE, passa do braço corretivo para o braço preventivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento, ficando do mesmo modo obrigado a apresentar ajustamentos estruturais todos os anos e a baixar a dívida pública a um ritmo mais acelerado, sendo-lhe exigido uma descida forte destes dois indicadores: o défice estrutural e a dívida pública.

Sex | 19.05.17

Portugal, o melhor país da Europa

 

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(…)«Foi-me prometido Portugal, um país mediterrâneo com clima simpático, mas que, desde que Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, apenas conseguiu estar nas bocas do mundo quando um ousado jovem de skate foi trend no 9GAG por gritar Sai da frente Guedes.

 

Deve ter havido um engano. O resto da Europa está a funcionar normalmente, na mediana: franceses andam entretidos com Le Pen, ingleses andam entretidos com Brexit e espanhóis continuam pouco entretidos por não entrar nas anedotas do português, do inglês e do francês.

 

Por cá, estamos imparáveis. Somos campeões da Europa de futebol. Temos o melhor jogador do mundo em futebol, futebol de salão, futebol de praia e desconfio que se houvesse futebol de pomar, com duas nespereiras a fazer de baliza, o melhor do mundo também era nosso.

 

Algo está mal. Desconfio que nos foi dado um país em segunda-mão, porque os exemplos de virtude já não são só com o desporto que se joga com o pé.

 

Vencemos a Eurovisão. Organizámos o maior evento de empreendedorismo da Europa. O NOS Alive foi eleito um dos melhores festivais da Europa. A Forbes deu um shout-out ao Vhils. Temos faculdades portuguesas a liderar o ranking do Financial Times. Até o pastel de nata, que era só nosso, decidimos exportar para o resto da Europa só para poder dizer que mesmo assim o nosso é que é o melhor da Europa.

 

Desconfio que temos o país fora-de-prazo. O nosso estado de graça caducava 3 dias depois do pontapé do Eder, mas 10 meses depois ainda não tem bolor.

 

Todos os dias sai mais um artigo no The Guardian a dizer que Lisboa é a cidade mais cool da Europa, que o Porto é o epicentro da cultura, que o Algarve tem os melhores pores-do-sol, por-dos-sóis, pores-dos-sóis e eu continuo sem saber colocar o plural em palavras com hífen.

 

Não sei como funciona a vossa política de devoluções, mas via com agrado uma troca por Bulgária ou Croácia.

 

Eu só pedi Portugal, e deram-me por engano o melhor país da Europa.».

 

Texto de Guilherme Geirinhas

Sex | 19.05.17

Wishful thinking

 

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A economia portuguesa cresceu 2,8% no 1.º trimestre do ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Certamente embalado por esta onda de otimismo que tem assolado o país, o  Presidente da República referiu, numa conversa com deputados croatas, em Zagreb, que Portugal pode conseguir este ano um crescimento económico à volta de 3,2% e um défice de 1,4%.

 

As declarações  do Chefe de Estado foram captadas pela RTP que mais tarde interpelaram Marcelo sobre aqueles números. De salientar que o Governo previu um crescimento de 1,8%, Marcelo fala agora em 3,2%.

 

O Presidente da República diz que é apenas um dos cenários possíveis Portugal conseguir um défice mais baixo e um crescimento mais alto e que nunca divulgou estes dados porque «ninguém pode revelar uma realidade que não existe».

 

Pois é, mas uma coisa é desejar – desejamos todos – coisa bem diferente é acontecer. Convém não «embandeirar em arco» como o próprio Marcelo referiu há tempos a propósito do crescimento de 2,8% no 1º trimestre deste ano. 

 

 

Qua | 17.05.17

Um discurso destravado

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Assunção Cristas assinou um acordo de coligação para a candidatura autárquica a Lisboa com o vice-presidente do partido monárquico Gonçalo Câmara Pereira. 

 

Quando vi o discurso de Gonçalo da Câmara Pereira sobre o apoio do Partido Monárquico à candidatura de Assunção Cristas nem queria acreditar que, em pleno século XXI,  ainda haja que profira palavras como estas: Assunção Cristas é uma mulher casada que trabalha e não descura a casa. «Como mulher, a dr.ª Assunção Cristas sabe bem que, para se trabalhar, não se pode usar espartilho nem a saia travada, a saia tem de ser larga e, se necessário, vestir calças, calças que ultimamente não se sabe onde andam, custam a ver».

 

Mais tarde, em entrevista ao Observador, quando confrontado com tais declarações Gonçalo da Câmara Pereira quis emendar a mão e considerou as declarações como “elogios” à líder do CDS. «O que quis dizer é que a postura de Assunção Cristas é um bocadinho mais valente do que um homem que trabalha e chega a casa e se senta a beber uísque».

 

Na verdade há apoios que tiram mais votos do que dão!

Ter | 16.05.17

Economia cresce 2,8% no 1º trimestre

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Portugal teve um crescimento do PIB de 2,8% nos primeiros três meses do ano. Segundo os dados do INE ontem revelados, há dez anos que o Produto Interno Bruto não crescia tanto num trimestre. Sem dúvida uma excelente notícia para Portugal e para os portugueses. O contributo do turismo nas exportações de bens e serviços mais elevado que as importações foi determinante assim como a aceleração do investimento.

 

Estes dados levaram vários especialistas a apontar para a hipótese de o País registar em 2017 um crescimento acima de 2%, valor superior às últimas previsões do Governo e do Banco de Portugal, que já tinham apontada para 1,8% o crescimento da economia.

 

O primeiro-ministro António Costa congratulou-se com este número e defendeu que o crescimento de 2,8% mostra que «a confiança dos portugueses não era infundada» e que a combinação de políticas «está adequada».

 

Já o Presidente da República manifestou-se «feliz» com os números divulgados pelo INE, mas pediu que «não se embandeire em arco» para que se consiga manter este valor ao longo do ano, para que Portugal possa crescer «claramente acima dos 2%».

 

O PSD e o CDS por seu turno regozijaram-se com o crescimento de 2,8 por cento da economia portuguesa, mas consideraram que se trata de uma recuperação que se deve às reformas realizadas pelo Governo anterior. Na perspetiva da Direita o tímido crescimento de 2016 foi obra do governo de Costa, mas o crescimento de 2,8 no primeiro trimestre de 2017 já foi graças às reformas implementadas no governo PSD/CDS?

 

Recapitulando: para a Direita tudo aquilo que acontecer de positivo na economia portuguesa será resultado do seu governo, aquilo que correr mal ou menos bem será sempre da responsabilidade da Geringonça, independentemente da cronologia dos factos. Estamos esclarecidos!

 

Seg | 15.05.17

«Habituem-se»

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«Salvador Sobral demonstrou a capacidade artística que tem para se deixar surpreender sem se deslumbrar e para logo encontrar de imediato, intuitivamente, a expressão adequada a essa surpresa.

Salvador Sobral recebeu o troféu da sua vitória no festival Eurovisão da Canção e, passado uns segundos, pôs a taça em cima da cabeça. "Como é que eu meto na cabeça que ganhei o prémio, sem deixar que o prémio me suba à cabeça?", foi o que achei que aquilo queria dizer. A partir daí eu tinha a metáfora para esta crónica. No curtíssimo discurso de vitória, a resposta que ele deu foi sucinta e clara: criticar um mundo de música descartável e apelar a que nos lembremos que a música é conteúdo e sentimento. Como uns dias antes tinha sabido o que dizer sobre a tragédia dos refugiados: se somos humanos, temos que saber ser humanitários. Em três passos nítidos, como em toda a sua apenas aparente simplicidade, Salvador Sobral demonstrou a capacidade artística que tem para se deixar surpreender sem se deslumbrar e para logo encontrar de imediato, intuitivamente, a expressão adequada a essa surpresa.

Como meter na cabeça que se ganhou, sem deixar que ganhar nos suba à cabeça? Essa é uma pergunta que começa a ser necessário responder em Portugal, tal o ineditismo de começar a ganhar em eventos artísticos e desportivos europeus daqueles com que sonhávamos desde que os víamos na televisão a preto-e-branco. Quem pensa que estas coisas tocam em milhões de pessoas para depois não terem significado nenhum está apenas a encenar a sua própria cerebralidade. A verdade é esta: para uma geração de portugueses de hoje, ganhar em dois anos seguidos um europeu de futebol e um festival Eurovisão é tão natural quanto era antes irrealista pensá-lo. Se situações semelhantes encheram de força a França, a Espanha ou Grã-Bretanha, como imaginar que não tenham para Portugal uma importância que exceda o mero acontecimento?

E qual importância será essa? A resposta tem três partes.

A primeira é que com equipas coesas e muito profissionais, que exijam a si mesmas trabalhar a alto nível, é mesmo possível levar boas ideias a ganhar. Não há nenhuma fatalidade que nos impeça de o conseguir, desde que não tomemos a atitude dos génios de prateleira que acham que é obrigação do mundo abrir-lhes as portas à passagem. Para nós como para todos os outros, as boas ideias valem pouco sem esforço para as melhorar.

A segunda ideia é que ganhar por ganhar vale pouco, se não é para acrescentar algo de nós ao mundo. Esse algo pode ser uma maneira de ver ou de estar, um idioma ou uma sensibilidade, ou até as influências que trazemos de outros. Não escapou aos melhores ouvidos que havia algo de indefinidamente brasileiro na música que Salvador Sobral cantou de forma extraordinariamente portuguesa. Ainda bem. É isso que faz do nosso país e da nossa cultura qualquer coisa de tão especial. E é isso que fascina quem quer gostar de nós.

A terceira ideia é que a nossa personalidade deve ser um veículo, sim, mas não necessariamente de narcisismo. Na medida em que exista uma maneira portuguesa de olhar as coisas, formada pela história, a cultura e a geografia, melhor será que essa maneira de olhar as coisas não sirva só para olhar para dentro, mas para o que há de universal, na música ou na vida humana.

Por isso, a mensagem é: habituem-se. Não se habituem a que somos os maiores ou que temos de ganhar sempre. Habituem-se a que querendo ter boas ideias bem executadas, querendo saber mais sobre nós mesmos e estando abertos aos outros, Portugal até é capaz de ser feliz na Europa e no mundo.»

Texto de Rui Tavares, Público

Dom | 14.05.17

Um feito histórico!!

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Melhor resultado do que um 5-0 (num jogo que decidiu o campeonato), só mesmo o resultado de 758-615! (no caso, Portugal-Bulgária). Foi esta a diferença entre os dois melhor posicionados na votação final do Festival da Eurovisão.

Viva a extraordinária vitória de Salvador (Éder) Sobral! Como ele disse «Vivemos num mundo de música descartável, de música fast-food sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa»

Fantástico, Salvador! És o orgulho de todos nós!!! Parabéns!

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