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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Ter | 04.06.13

Historia de um resgate

Muito engraçado este texto do João Miguel Tavares, retirado do seu blogue "Pais de Quatro" onde compara o seu ambiente familiar aos mercados financeiros. Vale mesmo a pena ler.

 «A minha casa está como os mercados: demasiado exposta a flutuações. Consoante o estado de espírito de cada membro e as variações de confiança entre uns e outros, assim se vai alterando a dinâmica familiar. Cabe aos pais o papel de reguladores caseiros, tentando gerir as interacções entre os vários players, com o objectivo de evitar um crash em matérias sentimentais ou fases de grandes depressões de qualquer um dos quatro activos mais frágeis, que possam em última análise afundar a bolsa doméstica.

Aquilo que tenho em casa mais próximo de um swap de alto risco é o Gui. O Gui é um tipo castiço, que quando é apanhado bem-disposto promete sempre altas taxas de juro em termos de divertimento. Mas a sua instabilidade é grande, e de repente vai-se a ver e estamos com um problema tóxico nas mãos. A velocidade a que ele consegue passar do choro ao riso é tão grande que cheguei a inventar uma nova palavra – o chorriso – para designar o seu estranho estado. E a verdade é que, apesar de já levar cinco anos de maturidade, as flutuações do seu humor nunca permitem a acalmia no coração de um corretor.

Hoje em dia, os problemas advêm sobretudo da sua falta de sustentabilidade afectiva, em boa parte por os seus sentimentos ainda estarem indexados à Rita. Quando a Rita apareceu no mercado, há nove meses, o Gui teve uma notável performance, ao ponto de a nossa agência familiar lhe ter dado triplo A em matéria de solidez emocional. Mas, aos poucos, começaram a aparecer alguns sinais de que o seu rating possa ter sido mal avaliado: não tanto por causa de ciúmes jogados às claras no mercado da dívida amorosa, mas por causa de um acumular de pequenas birras, mal negociadas debaixo da mesa e sempre à procura de transferências para paraísos sentimentais.

A mais recente prova dessa actuação desregulada ocorreu quando decidimos montar na sala um parque para a Rita, que já se consegue sentar e estava farta de viajar da cama para a cadeira e da cadeira para a cama. A Rita gostou muito do seu novo parque, mas o Gui tratou logo de lhe fazer uma OPA hostil. Tirou os sapatos, saltou lá para dentro e decidiu armar-se em défice português: demasiado grande para estar ali, mas muito difícil de remover. Não fosse os reguladores terem ameaçado aplicar-lhe uma boa dose de austeridade no sítio onde as costas acabam, e por esta altura o Gui ainda lá estava.»

Dom | 02.06.13

Peditórios

(imagem retirada da NET)
Decorreu este fim-de-semana mais uma campanha do “Banco Alimentar Contra a Fome”. Na verdade os peditórios tornaram-se um procedimento comum no nosso País, permanecendo como uma inevitabilidade e como um vício. Vivemos literalmente no país da pedinchice. Para qualquer lado que se vá, são mãos estendidas! É ver os peditórios para tudo e mais um par de botas:crianças desamparadas, animais desvalidos, cegos, deficientes, arrumadores de carros. Enfim! Tudo serve de pretexto para pedir. Se é certo que milhares de voluntários prestam-se a dar o seu genuíno e generoso contributo a estas causas, participando ativamente em todos esses peditórios, sabemos bem que nem sempre os donativos chegam aqueles que mais deles necessitam. Considero, ainda, este tipo de caridade demasiado humilhante, sendo que estas supostas boas ações, mais não são que a valorização e reforço de um modelo de que qualquer sociedade se devia envergonhar e combater: a caridade como solução para os mais desprotegidos. Isto porque, efetivamente a caridade pode atenuar pontualmente alguns problemas, nas não resolve o problema de fundo. As necessidades básicas e a pobreza são problemas estruturais que deverão ser combatidos com políticas socias públicas. O estado social deve ser capaz de proteger os mais desfavorecidos. É também para isso que pagamos os nossos impostos! 
Dom | 02.06.13

O que está em causa no Orçamento Retificativo

 (retirado daqui)

 O Orçamento para 2013 está em discussão na Assembleia da República, após ter sido aprovado em Conselho de Ministros. Vejamos o que está em causa no Orçamento Retificativo que deverá ser aprovado pelos partidos da maioria e com os votos contra dos partidos de esquerda.

Neste Orçamento Retificativo, o Governo mantém as previsões para a economia portuguesa, admitindo, no entanto, efeitos positivos do chamado supercrédito fiscal, mas sem estimar qualquer valor. Para substituir as normas chumbadas, o Executivo prevê poupar 200 milhões de euros com o novo modelo de mobilidade da função pública e com o aumento do horário de trabalho no Estado de 35 para 40 horas. Os serviços do Estado passarão a ter um regime de funcionamento entre as 9:00 e as 13:00 e entre as 14:00 e as 18:00. Relativamente ao novo regime de mobilidade especial, os funcionários públicos que forem colocados no regime de requalificação terão direito ao subsídio de desemprego, caso cessem o vínculo com o Estado ao fim de 12 meses, «findo o período de requalificação sem que haja reinício de funções por parte do trabalhador opera o ato de cessação do contrato de trabalho por ausência de colocação, havendo lugar à correspondente compensação nos termos do artigo 366.º do Código do Trabalho, bem como a atribuição do subsídio de desemprego». Nos casos em que o trabalhador se encontrava integrado «no regime de proteção social convergente será assegurado o pagamento de subsídio de desemprego ou de subsídio social de desemprego, em termos análogos aos previstos no regime geral de segurança social, enquanto não se efetuar a convergência desta eventualidade». Haverá aumento dos descontos dos funcionários públicos e dos aposentados do Estado para o subsistema de saúde (ADSE), deixando de fora pensões até 485 euros. De acordo com a proposta de lei de alteração agora entregue, os trabalhadores do Estado no ativo, bem como os pensionistas verão aumentados os descontos para este subsistema de saúde de 1,5% para 2,25% já este ano e para 2,5% a partir de 1 de Janeiro de 2014. O Governo insiste na proposta de Orçamento Retificativo na taxa de 5% sobre o subsídio de doença e de 6% sobre o subsídio de desemprego, impondo, no entanto, limites mínimos a partir dos quais incide esta taxa. No caso do subsídio de desemprego, apenas quem receber mais do que 419,12 euros líquidos sofrerá um corte de 6%. Quanto ao subsídio de doença, a contribuição vai incidir sobre os trabalhadores com valores de subsídio que não pode ser inferior a 30% do ordenado para o sector de atividade do beneficiário. Para contornar o chumbo do Tribunal Constitucional o Governo garante «o valor mínimo das prestações, nos termos previstos nos respetivos regimes jurídicos». A proposta respeita o decreto-lei publicado em Diário da República a 22 de abril, segundo o qual «o montante diário do subsídio de desemprego, fixado em 65% da remuneração de referência e já reduzido em 10% a partir de 180 dias de concessão não pode ser inferior, em regra, ao valor do indexante dos apoios sociais, que se encontra fixado atualmente em 419,22 euros». Esta alteração contorna, assim, o chumbo do Tribunal Constitucional a esta medida que não salvaguardava, no entendimento dos juízes, os mais vulneráveis. O Governo estima um défice de 5,5% e uma contração de 2,3% este ano, abaixo das estimativas da OCDE conhecidas esta semana. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá contrair 2,3% em 2013 (e não 1,0% previstos no Orçamento de Estado de 2013), o défice será de 5,5% (a nova meta revista em alta com os credores internacionais no sétimo exame regular ao programa de assistência de Portugal) e a taxa de desemprego deverá chegar aos 18,2% (contra os 16,4% inicialmente previstos). O executivo espera gastar mais 270 milhões de euros com subsídios de desemprego e apoio ao emprego, reforçando em 500 milhões de euros o orçamento da Segurança Social. Após rever de 16,4% para 18,2% a taxa de desemprego média anual que espera alcançar este ano (na sétima avaliação do programa) o Governo considera agora gastar mais 270,2 milhões de euros com subsídios de desemprego e apoio ao emprego face ao previsto no Orçamento do Estado para 2013. Junta-se ainda a este pacote a poupança com a renegociação das Parcerias Público-Privadas (PPP). De acordo com a opção apresentada, os encargos brutos com parcerias público-privadas rodoviárias poderão cifrar-se nos 300 milhões de euros em 2013, graças à redução adicional de 50 milhões de euros, resultante do processo de renegociação em curso. O Governo retirou ainda 324,66 milhões de euros ao que esperava desembolsar com ações de formação profissional ao longo de 2013, no âmbito do Orçamento Retificativo apresentado na Assembleia da República.

Sab | 01.06.13

O problema é o Estado?

«aquilo que o Estado português acrescenta à sociedade não se enquadra na teoria do Governo. Os nossos serviços públicos de saúde são bons, a educação é razoável, a segurança social garante a coesão da sociedade, a polícia consegue manter níveis baixos de criminalidade, o investimento público, quando existia, "puxava" pela economia, etc. Foi o Estado que contribuiu mais decisivamente para o desenvolvimento português, antes e depois do 25 de Abril.Aquilo que funciona mal em Portugal não é o Estado, é a sociedade civil e a economia privada. É nesta, especialmente nas pequenas e médias empresas que compõem o tecido económico, que encontramos défice de qualificações, baixa produtividade, pouca inovação, fuga generalizada ao fisco. Há algumas empresas boas, mas infelizmente são poucas. Algumas das melhores desenvolveram-se, não por acaso, à sombra do Estado.».

João Cardoso Rosas, Professor Universitário

Sab | 01.06.13

Dia Mundial da Criança

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre,
bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

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