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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 30.09.13

Que se lixem as eleições

«Nenhum dos que aqui estão foi eleito para ganhar as próximas eleições, nem para ajudar a ganhar autárquicas, nem as regionais deste ano nos Açores, nem as europeias que aí vêm a seguir, não foi para isso que fomos eleitos. (…) E quero reafirmar, ao fim deste primeiro ano parlamentar, que se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz: que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal». Esta afirmação é da autoria do primeiro-ministro e foi proferida em julho do ano passado, no jantar de despedida da sessão legislativa com os deputados do PSD. Um dos destinatários das palavras de Passos Coelho foi o líder do PS, António José Seguro, bem como a bancada social-democrata. Mas, com a aproximação das eleições autárquicas, Passos Coelho esqueceu o que antes tinha dito e percorreu o país para apoiar os candidatos do PSD e até, ao que parece, deu instruções a Marco António Costa para apontar baterias contra a Troika. No mesmo dia em que o vice-presidente do PSD falava em “hipocrisia institucional”, Passos criticou o PS e António José Seguro por este reclamar justamente aquilo que o Governo pretende: a flexibilização das metas do défice para 2014. Com o frenesim autárquico, o tom ia mudando “Que se lixem as eleições” parecia não passar de um mero soundbite mas o certo é que os portugueses levaram-no à letra e deram uma resposta à altura nas urnas.

Dom | 29.09.13

Vote!

 

Dia de eleições é sinônimo de dúvida para os indecisos. Não sabemos em quem votar. Não vemos grandes alternativas nem soluções. Afinal, é melhor votar inconscientemente, ou não votar e deixar de exercer este ato de cidadania? Motivos para deixar de exercer tal direito, não faltam. Para muitos, a política pode parecer algo extremamente complexo e aborrecido. Porque os discursos são pobres, porque muitas vezes escutamos, em campanha, promessas de candidatos que depois defraudam as nossas expectativas. A realidade mostra-nos um regime repleto de desigualdades, injustiças, corrupção e compadrio. Mas apesar de tudo e independentemente da nossa opção, não devemos desperdiçar esta possibilidade que está ao nosso alcance. O voto é uma escolha e ser um cidadão responsável também passa por eleger quem pensamos que da melhor forma serve os nossos interesses. O voto é um ato de cidadania que deve ser praticado. É o nosso futuro que está em jogo. A democracia cumpre-se pela possibilidade dos cidadãos poderem escolher os seus governantes e autarcas. Os próximos quatro anos podem fazer uma enorme diferença no nosso concelho, na nossa freguesia, no nosso Pais e até nas nossas vidas. Por isso, VOTE!

Sab | 28.09.13

Diana, o filme

Dezesseis anos depois da morte da  princesa Diana, chega às salas de cinema o filme que se centra nos ultimos dois anos da sua vida, sendo interpretada pela atriz australiana, de origem britânica,  Naomi Watts. Para começar o título do fime  ̶  Diana  ̶  leva o espectador ao engano, levando-o a imaginar que se trata de um filme biográfico. Mas na verdade o realizador alemão, Oliver Hirschbiegel optou por focar-se nos dois anos que antecederam a sua morte, mais especificamente na suposta "história de amor" secreta com o cirurgião paquistanês Hasnat Khan, interpretado por Naveen Andrews (da série "Lost"). Hasnat Khan nunca confirmou o relacionamento com Diana e declarou à imprensa britânica que o filme era baseado em "boatos" e  que parecia "totalmente falso". Os produtores admitiram que nunca o consultaram. Depois o caso com o egípcio Dodi Al-Fayed (interpretado por Cas Anvar) é apresentado como um caso ligeiro, sem dar grande ênfase a esta relação. O filme nunca chega a ser emocionante, nem despertar grande  interesse. Sabe-se que fazer um filme sobre Diana não se afigurava tarefa fácil, contudo Diana merecia melhor e, já agora, os espetadores também.

Qua | 25.09.13

Alargamento do horário de trabalho

O diploma que alarga o horário de trabalho da Função Pública de 35 para 40 horas semanais obteve luz verde de Cavaco Silva e foi publicado em Diário da República no final de Agosto, com produção de efeitos a partir de 28 de Setembro (próximo sábado). Porém, várias estruturas sindicais avançaram entretanto para os tribunais administrativos com providências cautelares para tentarem suspender de imediato a aplicação da lei. Um processo que decorre em paralelo com a fiscalização sucessiva do diploma no Tribunal Constitucional (TC), a pedido dos partidos da oposição. O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) foi o primeiro a ver, segunda-feira ao final do dia, a sua providência cautelar aceite pelo tribunal. Como a providência tem efeitos suspensivos imediatos, isto significaria que os trabalhadores do Fisco poderiam não ter de trabalhar 40 horas por semana já a partir de sábado, ficando a aplicação da lei suspensa até à decisão deste tribunal. Contudo, o Governo ainda pode “obrigar” estes funcionários a cumprir a lei das 40 horas a partir de sábado. O Executivo tem agora 15 dias para contra-argumentar e pode apresentar no tribunal, até sexta-feira, uma resolução fundamentada de interesse público que, por sua vez, irá travar de imediato a intenção dos sindicatos. «Acho difícil que os sindicatos tenham condições para conseguirem suspender com efeitos imediatos a aplicação das 40 horas», explica o especialista em Direito Administrativo, Luís Fábrica, ao Diário Económico. «Só quando o juiz se pronunciar, ou seja, quando houver uma decisão, é que isso pode acontecer. Até lá, o Governo pode apresentar uma resolução fundamentada de interesse público, como aliás, é habitual», explica Luís Fábrica. Ou seja, por agora, o Governo deverá conseguir que a medida se aplique já a partir de sábado. Mas se, mais tarde, na ação principal, o juiz apreciar favoravelmente a posição dos sindicatos, a situação poderá complicar-se para o Governo. «Se o tribunal der razão aos sindicatos e se o número de providências cautelares for elevado, então poderá haver um problema. O processo pode demorar meses ou mesmo anos e, quando houver decisão, a medida já não fará sentido». (fonte: Diário Económico)

Qua | 25.09.13

Chegou o outono

 
O outono começou esta semana, mas só hoje é que a mudança de estação fez-se sentir de uma forma repentina!
Bem vindo Outono, com toda a tua força!
Adeus Verão... até ao próximo ano...
Ter | 24.09.13

Os erros de Crato

Após a recente polémica em torno da decisão do Ministério da Educação e Ciência (MEC) de acabar com a obrigatoriedade do inglês como oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular, tema que já havíamos dado conta, o ministro da Educação reconsiderou e quer agora que todos os alunos do 1º ciclo passem a ter inglês como disciplina curricular obrigatória, tendo pedido até ajuda ao Conselho Nacional de Educação para pensar como fazer a mudança. Sinceramente a imagem de Crato não sai nada bem na fotografia. O que transparece é um total desnorte do MEC. Esta medida é apenas uma das muitas trapalhadas do ministro Crato.

O arranque do ano escolar foi o que se sabe: legislação aprovada em julho e agosto interferindo com a organização já estabelecida para Setembro, criando o caos nas escolas. A não colocação atempada de professores; a situação de inúmeros docentes em mobilidade com horários zero em condições perfeitamente insólitas; o decréscimo do número de turmas e o consequente aumento de alunos por classe; a substituição de manuais escolares em cima da hora e em cima do joelho; a redução de funcionários da Ação Educativa; a diminuição de técnicos de Educação Especial; a ideia assombrosa do cheque-ensino; o fim dos cursos profissionais nas escolas públicas; a seleção das empresas que patrocinam os famosos exames de inglês e last but not least, a nomeação da mulher para integrar o conselho científico das Ciências Sociais e Humanidades da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Enfim, a lista é infindável e mostra bem a desorganização e a incompetência que grassa naquele Ministério.

Seg | 23.09.13

Praxes Académicas

Com o início de um novo ano letivo regressam as famosas praxes académicas. Nesta semana, foi raro o dia em que não me cruzei com bandos de estudantes universitários, trajados a rigor, com fatos académicos, seguindo caloiros em trajes carnavalescos.

A praxe académica deveria ser um conjunto de práticas salutares, destinadas a contribuir para uma melhor adaptação e integração dos novos alunos que entram no ensino superior. Lembro-me que quando ingressei no ISCTE, eu própria, vivenciei um desses momentos: uma aluna do 2º ano, com a conivência da professora presente na sala, foi-nos dar a primeira aula. Transmitiu-nos regras aberrantes e disparadas (aulas ao fim-de-semana; uma extensa bibliografia de aquisição obrigatória), enfim um momento hilariante e engraçado. Depois, os alunos do 2º ano convidaram-nos para um jantar, onde pudemos trocar algumas impressões sobre o curso, sobre os conteúdos programáticos, os professores, etc.

Sucede que  estas práticas são muitas vezes mal interpretadas ou mal exercidas, tendendo a criar a ilusão de um poder, ainda que efémero, sem controlo, tornando as praxes académicas um tema controverso sem que a sociedade em geral se interrogue, como devia, sobre a violência desnecessária e gratuita praticada ao abrigo das mesmas.

Os seus defensores sustentam que as praxes académicas facilitam o relacionamento entre os caloiros e os veteranos e que não passam de momentos de convívio amigável com a finalidade de conseguir a integração social dos novos alunos na vida académica. Mas para isso é necessário aplicar práticas humilhantes, impostas geralmente pela coação e pelo medo, com laivos de boçalidade e violência sobre o outro, no caso o caloiro? A Universidade deve ser um espaço de liberdade, mas liberdade é uma noção que não encaixa no âmbito da praxe.  

Claro que existem muitos alunos universitários com consciência crítica que não atribuem importância alguma a este folclore, que dele até se distanciam e que sobre ele ironizam. Mas são muitos mais aqueles que, encolhendo os ombros, apenas aceitam o seu lado mais ocasional e simbólico.

Na opinião de João Teixeira Lopes, sociólogo e professor da faculdade de Letras da UP, que trabalhou este tema, estes rituais são diretamente proporcionais à massificação do ensino superior, cujo número de alunos, lembra, praticamente decuplicou entre o final da década de 60 e final de 90. «Para os pais destes alunos - na sua maioria com níveis de escolaridade e de qualificação reduzidos - ver os filhos na universidade é a prova visível de um percurso de ascensão social, ao contrário do que acontecia no princípio dos anos 80, quando frequentar o ensino superior era, já de si, um fator de distinção"». Uma forma de ostentação que poderá estar, de certa forma, relacionado «com o forte investimento por parte dos pais, mas que também é sentido pelos estudantes». Daí, explica Teixeira Lopes, haver uma «necessidade de exibir essa conquista» através de rituais que invadem o espaço público, como é o caso não só da praxe académica, mas do próprio cortejo ou da queima das fitas. «E os estudantes mostram-no da forma mais ruidosa e exuberante possível», diz.

Este "reinventar" das tradições é, na sua opinião, igualmente indissociável de um futuro profissional "pouco risonho", muito provavelmente preenchido por um ciclo de flutuação em vários empregos, que conduzem a um «prolongamento da juventude e da dependência face aos pais», contrariamente ao que acontecia há trinta, ou quarenta anos. Na opinião do sociólogo, essa incerteza «pode conduzir a situações de profunda frustração e refletir-se na agressividade, cada vez mais notória, que os rituais da praxe académica ostentam». «Os incautos acabam por ser apanhados, muito provavelmente por não terem uma alternativa a estes rituais, por este ser o único meio de integração social», continua. E quando se recusa a praxe corre-se o risco de ser-se ostracizado, e «ser-se ostracizado numa faculdade pode significar solidão e depressão», sublinha. Nesse sentido, João Teixeira Lopes critica os movimentos associativos e as juventudes partidárias por não terem a imaginação suficiente para «contrapor alternativas».

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