Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba.
Vergílio Ferreira
Não se sabe por onde o Sr. Fernando Seara andou desde 2010. Na China? Em lugares ainda mais proibitivos, sem nenhuma comunicação com o mundo exterior? Na lua? Ou simplesmente mergulhado nas profundas trevas da sua inconsciência? E é ele, como pretende, um ex-comentador de futebol e um antigo presidente da Câmara de Sintra? A sua verdadeira identidade intriga toda a gente. Seja como for, o sr. Seara não tem com certeza vivido em Portugal e, por isso, caiu do céu num estado de inocência e de ignorância que deixou Lisboa de boca aberta. Um destes dias, saí de casa e, olhando para os cartazes da criatura, julguei que se tratava da provocação de um milionário louco, como nos filmes de 1930. Mas, pouco a pouco, acabei por me convencer de que a coisa era a sério.
Os cartazes do sr. Seara, que o CDS e o PSD, os partidos do Governo, autorizaram e apoiam, prometem só isto: "estacionamento gratuito para residentes em qualquer zona da cidade": "manuais escolares para todos" (uma promessa ambígua, que tanto pode incluir os manuais do 1º ciclo como os manuais de Biologia ou de Medicina); "residências sociais para os mais carenciados"; "túnel no Saldanha (eixo central)"; "brigadas permanentes de limpeza" para garantir que Lisboa se torna num sítio muito "limpo", presumo que gabado na Europa pelo seu asseio. Estas promessas do sr. Seara ou são absolutamente inviáveis (como o "estacionamento gratuito para residentes", por exemplo) ou sintomas de uma megalomania patológica (o túnel do Saldanha), que é um perigo para o cidadão desprevenido.
António Costa conseguiu ao fim de muito tempo e de muito esforço reduzir a dívida da Câmara de Lisboa e chegar a uma situação financeira sustentável. O "programa" de Seara (se merece o nome) iria uma dúzia de meses criar uma nova dívida muitas vezes superior à antiga. Mas parece que ninguém lhe chamou a atenção para esse ridículo pormenor; e nem o CDS e o PSD se importam que ele faça uma campanha destinada a arruinar o Estado e a ludibriar o eleitorado. Esta prática não escandaliza agremiações que por ela sempre manifestaram uma especial preferência. Só não se percebe como, no meio do regabofe estabelecido, o Governo ainda arranja coragem para "cortar" dez por cento aos pensionistas do Estado e aos pobres reformados do "regime geral". A desvergonha é ilimitada». Vasco Pulido Valente, no Público ontem
«O ministro Crato não quer Inglês obrigatório no 1.º ciclo. Renega o caminho que estava a ser trilhado nesse sentido e que era das melhores heranças do anterior Governo.
Não me parece que seja necessário discorrer sobre a importância da língua inglesa nos nossos tempos. Talvez seja até insultuoso explicar o quão essencial é começar desde cedo a aprendizagem do inglês. Também, por outro lado, é capaz de não interessar vir repetir a ladainha que é preciso o mínimo de estabilidade nas políticas públicas, sobretudo nas que dizem respeito à educação.
Mas sejamos compreensivos, todos sabemos as dificuldades que estamos a passar e também tem de haver austeridade na Educação. O ministro tinha de cortar em algum lado e dentro das várias opções de política educativa disponíveis decidiu cortar no ensino do Inglês, acabando com a obrigatoriedade da oferta de inglês no 1.º ciclo, nas Actividades de Enriquecimento Curricular.
Aliás, consequente com esta medida, também fez aumentar as turmas do 2.º ciclo. É patente e notório: Crato acha que as escolas públicas devem desinvestir no Inglês. No ensino, sublinhe-se. É que apesar de não querer ensinar, quer fazer exames - acabou de instituir um exame de inglês do 9.º ano, supervisionado pela Universidade de Cambridge. Desde que o aluno passe no exame, o ministro não quer saber de mais nada. Está lá ele interessado se o aluno aprendeu alguma coisa ou não.
É assim: quer saber inglês? Se a escola decidir não ter essa disciplina ou não tiver meios para a ensinar, deve o aluno ir aprender onde melhor lhe aprouver. Crato deve querer incentivar o empreendedorismo nos miúdos. Pode ser até que o Ministério da Educação faça uns anúncios televisivos com uns senhores que se deram bem na vida a dizer: "Eu nunca aprendi inglês e vejam onde eu cheguei" ou "eu ia descalço para a escola, a minha turma tinha 50 alunos das quatro classes e não me fez mal nenhum".
Nuno Crato quer mesmo promover a desigualdade de oportunidades, quer mesmo limitar o acesso dos mais pobres ao ensino. Não é possível que um indivíduo medianamente inteligente não perceba que acabar com a obrigatoriedade do ensino do Inglês é fomentar a desigualdade de oportunidades, que os rapazes e as raparigas de famílias mais abastadas irão para escolas privadas de línguas a que as famílias mais pobres não têm acesso.
O ministro mente, mente claramente quando diz que quer mais liberdade de escolha. O ministro não pode ignorar que sem o mínimo de igualdade a liberdade não existe. Que liberdade de escolha tem uma família que não tem dinheiro para pôr um filho a aprender uma língua estrangeira?
E a propósito de liberdade de escolha, que tal deixar as escolas decidirem se devem ensinar História, Matemática ou Português? Isso é que era liberdade de escolha como deve ser.
O ministro Crato não gosta da escola pública. Não gosta, pronto. Não gosta da comunidade escolar, não gosta do espaço, não acha que a convivência entre alunos mais pobres e mais ricos, com mais e menos livros em casa, com interesses diferentes, de diferentes raças e origens sociais ajude no crescimento dos rapazes e das raparigas. Crato não acredita na escola como um espaço de desenvolvimento pessoal e de crescimento do sentido de comunidade. Crato não acha que criar uma comunidade de professores, encarregados de educação e alunos faça sentido. Aqueles edifícios são para ir fazer exames da quarta classe, do quinto ano, disto e daquilo. Assim sendo, não são precisos computadores, Magalhães ou outros, não é precisa a Parque Escolar - para que melhorar as escolas? -, não é preciso formar e melhorar professores - para quê se só são necessárias pessoas para corrigir testes. Pronto, vá lá, ter umas aulitas e ala para casa ou para a rua ou para outro lado qualquer. Para isso se diminuí o tempo de permanência na escola, se diminuíram as atividades extracurriculares e era capaz de apostar que as aulas de substituição estão em sério risco.
O ministro Crato confunde tudo. Confunde exigência, rigor e aprendizagem com exames, confunde disciplina com autoritarismo e não percebe que a liberdade exige um mínimo de igualdade.
A actual escola pública está carregada de defeitos e insuficiências, há poucas coisas mais urgentes do que a sua melhoria e o seu desenvolvimento. Mesmo carregada de problemas, não só é um dos melhores frutos da democracia portuguesa como é dos pouquíssimos veículos de coesão e progressão social da nossa comunidade. Levou uma geração a construí-la. Mas como tudo na vida, leva muito menos tempo destruir do que construir. Ninguém melhor do que um revolucionário para o fazer.» (Pedro Marques Lopes, DN)
A primeira vez que José Mourinho treinou o Chelsea, o seu desempenho foi coroado de sucesso (seis títulos em quase três anos), mas o seu regresso a Stamford Bridge está a evidenciar alguns precalços na magnífica carreira do técnico português. De facto, a derrota do Chelsea frente ao Basileia (2-1) foi a surpresa do arranque da fase de grupos da Liga dos Campeões. Em casa, Mourinho somou a sua segunda derrota consecutiva, depois de ter perdido com o Everton na 4ª jornada da Liga inglesa, o que colocou o técnico português debaixo de fogo dos media ingleses que não lhe pouparam duras criticas. Também no campeonato a equipa está a ter o pior início de temporada desde 2002/03 (uma vitória e três empates) .Os “blues” estão em 6º lugar com sete pontos, a três do líder Liverpool (dez pontos). Depois deste desempenho algo desastroso, José Mourinho já perdeu o seu estado de graça. A ele se aplica na perfeição a canção imortalizada por Rui Veloso: «nunca voltes ao lugar onde já foste feliz....».
Há escolas do 1º ciclo que este ano letivo deixaram de lecionar a língua inglesa ou que mantêm a oferta reduzida, enquanto outras ainda continuam a ensinar esta língua em todos os anos de escolaridade. A variedade de situações é possível uma vez que estes estabelecimentos de ensino deixaram de ser obrigados a proporcionar aulas de inglês aos alunos do 1º ciclo. O fim da obrigatoriedade foi determinado por um despacho de julho, assinado pelo ministro da Educação. Nuno Crato mandou reduzir as Atividades de Enriquecimento Curricular para metade e retirou a obrigatoriedade do ensino de Inglês, introduzida pela primeira vez em 2005, no governo de José Sócrates por Maria de Lurdes Rodrigues, constituindo uma das bandeiras do anterior governo. Contudo, o ministro da Educação anunciou, há pouco tempo, com pompa e circunstancia, a realização de um exame de inglês obrigatório no 9º ano. O diploma que promulgou a medida, destacava a importância da aprendizagem de línguas estrangeiras para um «percurso formativo de qualidade», sublinhando que existe «uma percentagem expressiva de alunos» que «não reúne ainda os requisitos mínimos de aprendizagem das línguas, nas suas diversas vertentes, nomeadamente, da compreensão e produção escritas e da compreensão e produção orais, pelo que se torna necessário um maior acompanhamento e avaliação do efetivo domínio de línguas estrangeiras, em especial da língua inglesa». Qual a lógica destas duas medidas?
Será que Nuno Crato não vê que o domínio deste idioma constitui uma ferramenta indispensável para aumentar a competitividade das empresas e dos trabalhadores portugueses num mundo globalizado? Será que o Sr. Ministro não entende que a introdução desta medida coloca os alunos deste país em situação de profunda desigualdade, uma vez que haverá, seguramente, alunos a frequentar o 5º ano (2º ciclo), com diferentes graus de aprendizagem? Os nossos níveis de proficiência em Inglês já são dos mais baixos da Europa Ocidental. Isto é só mais um reforço para Portugal continuar a ser um país de periferia, atrasado e elitista, onde só uma pequena minoria terá direito a uma educação de qualidade.
«A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista.
A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!
Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente.
Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica. Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão.
Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores? As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir.»
Natália Correia
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
Partilho da opinião de Leonol Moura expressa no "Jornal de Negócios", em 6 de Setembro de 2013. «A mediocridade, a banalidade das mensagens, o mau gosto, a ausência de qualquer centelha de inteligência, predominam. Se esta gente nem consegue fazer um cartaz decente como poderá gerir uma câmara ou uma junta de freguesia?»
O futuro de António José Seguro poderá jogar-se já mas próximas eleições. Se Seguro tiver uma vitória confortável, leia-se ganhar alguns dos concelhos mais importantes do país, a estratégia de enfrentar a liderança cairá por terra. Caso contrário, sobretudo se os socialistas perderem algumas das autarquias emblemáticas, o problema da liderança poder-se-á reabrir. Augusto Santos Silva já avisou que António José Seguro apesar de ter cumprido bem o seu papel como líder da oposição, «não tem provado o suficiente como candidato a primeiro-ministro», acrescentando que os portugueses ainda desconfiam das capacidades de António José Seguro para lhe confiar os destinos do país. Na TVI 24, Santos Silva afirmou, categoricamente, que se António Costa ganhar a câmara de Lisboa «folgadamente» e se o PS tiver uma derrota na noite autárquica, a questão da liderança do partido pode voltar a colocar-se, ou seja o resultado das eleições autárquicas «pode reabrir questão interna do PS». Quer isto dizer que «Seguro precisa de uma vitória clara, de uma vitória expressiva nas autárquicas».
Os apoiantes de António José Seguro não partilham essa opinião. Julgam que, mesmo que Seguro não tenha uma grande vitória nas próximas eleições, não terá o seu lugar em risco, a menos que tenha uma derrota esmagadora, implicando para tanto que os socialistas perdessem para o PSD as principais câmaras. Para já, António José Seguro quis ser prudente e reduziu a fasquia ao mínimo, considerando que um bom resultado seria obter mais votos que o seu rival. Ora, maior número de votos terá certamente. Maior número de câmaras ver-se-á, na noite de 29 de Setembro.