Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba.
Vergílio Ferreira
No derby madrileno o Real foi goleado pelo Atlético. Um golo do internacional português Tiago aos 14 minutos lançou o Atlético de Madrid para uma das mais tranquilas vitórias de sempre, face ao rival Real Madrid, uma vitória por 4-0, na 22.ª jornada da Liga espanhola de futebol.
Jogando em casa, o Atlético comandou as iniciativas durante o jogo, com 12 finalizações, contra apenas duas do Real. Cristiano Ronaldo regressou, após cumprir dois jogos de suspensão, mas pouco apareceu em jogo. Sem James Rodríguez, Sergio Ramos, Pepe e Modric todos lesionados e com uma defesa de segunda linha, o Real Madrid foi completamente dominado no Vicente Calderón.
A vitória colocou o Atlético mais perto da luta pelo título. Mas, apesar da derrota, o Real Madrid continua em 1º da Liga espanhola, com 54 pontos, mais quatro do que o Barcelona, que defronta o Atlético de Bilbau domingo. O Atlético de Madrid segue em 3º, também com 50 pontos.
Yanis Varoufakis, ministro das finanças grego, encontrou-se esta semana em Londres com o seu homólogo do Reino Unido, George Osborne em busca de apoio para o plano de renegociação da dívida grega.
O tema da reunião, como se imagina, era de importância vital para a economia europeia, no entanto, o encontro entre os dois ministros das Finanças criou enorme ruído na imprensa e nas redes sociais, não por motivos políticos e económicos, mas porque as atenções centraram-se no estilo «casual» do novo ministro grego. Descontraído, sem gravata, com uma camisa em tons de azul forte e um casaco comprido de cabedal negro. Algo que estamos pouco habituados a ver num ministro das Finanças.
Na tomada de posse, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, 40 anos – o mais jovem primeiro-ministro da Grécia – surgiu de fato escuro, sapatos escuros, camisa branca mas sem gravata. Brincou, aliás, com o tema, declarando que não vai usar o acessório masculino até conseguir renegociar a dívida grega.
Esta nova imagem adotada pelos políticos gregos é um sinal de inovação, mas também uma forma de contestação aos modelos instituídos e à forma como os políticos se apresentam - vestidos todos de igual, com uma imagem cinzentona.
O «estilo Syriza» como já é conhecido tem feito furor. Mais do que uma questão de moda, trata-se de uma mensagem que se pretende passar. A roupa casual é naturalmente uma forma de estilo, mas não deixa igualmente der ser uma maneira do novo governo grego assinalar as suas marcas contra o status quo e contra o mainstream.
Não sabemos se no plano político e económico o sucesso do Syriza será garantido. Porém, ao nível do estilo e do dress code a revolução já se faz sentir!!
«A 5 de fevereiro de 1985, na Madeira, nascia Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, filho de Maria Dolores dos Santos e José Dinis Aveiro.
Foi na freguesia de Santo António, no Funchal, que o pequeno Ronaldo viveu a sua infância e começou a dar os primeiros toques na bola. A sua viagem pelo futebol começou em 1992, no clube da terra - o Futebol Clube Andorinha - mas três anos depois não passou despercebido aos olhos do Nacional da Madeira.
A partir daí, o sonho do miúdo que só queria jogar à bola ganhou asas e levou-o até Lisboa, até ao conhecido Sporting Clube de Portugal. Com apenas 12 anos, Cristiano Ronaldo era já considerado uma mais valia para as camadas de formação do clube de Alvalade.
A potência, a velocidade, o drible, o remate forte, a capacidade de choque e o jogo aéreo eram de outro mundo, o que levou o treinador Lazlo Boloni a colocá-lo, num jogo da equipa principal do Sporting, aos 58 minutos. Era a primeira mão da 3ª eliminatória da Liga dos Campeões, frente ao Inter Milão a 14 de agosto de 2002. Pouco depois, o jovem de apenas 17 anos estreia-se como titular na equipa verde e branca num jogo a contar para o campeonato nacional, frente ao Moreirense, onde conseguiu mesmo marcar dois golos.
O talento do camisola 28 do clube leonino foi além fronteiras, tendo sido rapidamente comprado aos leões pelo gigante Manchester United por 15 milhões de euros, após um jogo amigável entre as duas equipas na inauguração do Estádio José de Alvalade (6 de agosto de 2003).
Já em Inglaterra, Sir Alex Ferguson aposta em Cristiano Ronaldo como camisola 7 - CR7 como ficou conhecido. O internacional português não deixou ficar mal o treinador dos "red devils" e em 2004, ajudava o clube a conquistar a Taça de Inglaterra.
Também na seleção das quinas, CR7 foi decisivo para conduzir a ambição portuguesa à final do Euro 2004. Desde então, Ronaldo esteve sempre entre as escolhas dos selecionadores portugueses.
Hoje, com três bolas de ouro e mais de 400 golos marcados, CR7 veste a camisola de outro gigante no mundo do futebol, o Real Madrid.
E agora com 30 anos como será o futuro de Ronaldo? O melhor jogador da atualidade está numa excelente forma física, o que leva a crer que tenha capacidade para mais seis anos a abanar as redes com os seus golos».
«Não me deixe morrer, eu quero viver», foi desta forma desesperada que José Carlos Saldanha, doente que aguarda tratamento contra a hepatite C, suplicou ao ministro da Saúde, durante uma audição que decorreu, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar da Saúde.
Quem viu esta peça no telejornal não pode certamente ficar indiferente a este apelo de José Carlos Saldanha pedindo ao ministro da Saúde que lhe disponibilize o milagroso medicamento Sovaldi, sem o qual não conseguirá sobreviver.
José Carlos Saldanha, acompanhado pelos filhos de duas doentes com hepatite C, uma das quais falecida recentemente, assistiu ao debate sobre o estado das urgências hospitalares, mas também sobre o acesso aos tratamentos contra a hepatite C.
Segundo declarou, o próprio doente terá proposto a Paulo Macedo custear metade tratamento, não tendo recebido qualquer resposta da parte do Ministério da Saúde.
José Carlos Saldanha foi entrevistado, na passada quinta-feira, no Jornal das 8, da TVI. Durante a entrevista, o doente revelou que espera há um ano que o pedido para o seu tratamento seja acolhido e falou de uma «guerra» que tem travado para poder aceder a este tratamento.
«Não sou um doente imaginário, sou real. A guerra tem sido grande e o meu tempo de antena é muito curto. [...] Existe uma cura e eu não percebo do que estão à espera.». «O senhor ministro olha para nós como números», afirmou.
O ministro da Saúde acabou por receber os familiares de duas doentes com hepatite C, tendo garantido que iria averiguar a razão de uma das doentes ter falecido sem receber um medicamento inovador.
David Gomes, o filho da doente falecida, quer saber a razão pela qual a mãe, «que pelos vistos era uma doente tão prioritária que acabou por morrer», não recebeu o fármaco.
O preço do Sovaldi (sofosbuvir) tem gerado muita polémica. É claro que 48000 euros é uma soma exorbitante, mas estamos a falar de vidas humanas, será que alguém já fez as contas sobre quanto custa, anualmente, cada um destes doentes ao Estado em internamentos e cuidados de saúde? Em lugar de estar a tratar doentes durante anos e anos com medicamentos paliativos que só aliviam os sintomas mas não curam a doença, não será mais razoável investir num medicamento com um grau de fiabilidade de 90% e devolver a saúde às pessoas? Quanto custa uma vida?
Eu entendo que o Estado tente negociar com a farmacêutica para que esta desça o preço do medicamento, aliás, há mesmo uma iniciativa da UE para que as negociações se façam com todos os Estados-membros a fim de aumentar o poder negocial, o que não entendo é que entretanto se deixem morrer pessoas.
O Infarmed pode e deve negociar os preços, mas não sem antes disponibilizar o tratamento aos doentes que dele necessitam. Não se pode de forma alguma negar o direito à vida de quem espera há anos por uma cura por questões meramente economicistas.
«As eleições gregas levaram o Partido Socialista grego (PASOK) praticamente à extinção. Este partido dominou a paisagem política do país desde o fim da ditadura e teve seis maiorias absolutas entre 1981 e 2007. Foi um pilar do sistema político grego até que a sua resposta à crise, decalcando o pensamento e a ação dos partidos da Direita, conduziu ao colapso da Grécia (queda de 25% do PIB) e à autodestruição do PASOK. Hoje é a 7.ª força política grega.
O PASOK tornou-se dispensável perante o eleitorado grego porque deixou de oferecer respostas alternativas no quadro dos valores da social-democracia e os socialistas votaram maioritariamente no Syriza.
O drama do PASOK acompanha a implosão da Esquerda democrática filiada na Internacional Socialista em tantos outros países europeus, mas a derrota começou muito antes.
Iniciou-se pela crença de que havia uma adesão mais ou menos perene a partidos sistémicos, mas os vínculos emocionais por acontecimentos marcantes (ex: transição democrática, adesão à UE, etc.) contam cada vez menos. Por outro lado, muitos partidos socialistas assumiram a sua própria derrota ideológica antes de perderem nas urnas, aceitando gerir um sistema socioeconómico cada vez mais desigual em vez de o transformar.
A cedência ao realismo impossibilista dos partidos da Direita levou muitos socialistas a uma mera gestão das circunstâncias no quadro das regras impostas por terceiros, estranhas aos seus valores. Aí foram incapazes de perceber a armadilha em que se colocaram perante os liberais, reproduzindo uma angustiante falta de respostas. Quantos socialistas não olham para a função governativa nos limites estritos das balizas do tratado orçamental e de regras europeias que, como todas as regras e tratados, devem ser alterados quando deixam de servir os povos?
Ora, o PASOK deixou de cumprir a sua função histórica ao assimilar o eco do falso extremismo perante medidas que há poucos anos seriam consideradas sociais-democratas: maior regulação pública, reversão de privatizações de setores estratégicos, aumento do salário mínimo, mais progressividade fiscal, impostos pesados sobre grandes fortunas, forte taxação de heranças, reestruturação de dívida usurária que abafa o desenvolvimento.
Pensando como a Direita, os socialistas do PASOK acabaram a governar como a Direita, formatando-se aos maneirismos dos eurocratas. Preferiram abdicar de transformar as relações entre capital e trabalho (em favor deste), anulando o seu papel nas sociedades modernas. Com isso deixaram de ser úteis como instrumento de mudança social para muitos socialistas gregos, que votaram no Syriza com uma genuína expectativa de mudança.
Os socialistas do PASOK não são caso único e cabe a outros confirmar a mesma sentença ou escrever outro desfecho.
Aviar os medicamentos prescritos pelo médico sem receita prescrita em suporte papel passou a ser possível a partir de ontem, devido ao Sistema da Receita Eletrónica Sem Papel, bastando, para o efeito, apenas apresentar o cartão de cidadão na farmácia.
Esta medida pretende, simultaneamente, oferecer maior comodidade aos utentes e simultaneamente ajudar a reduzir as eventuais fraudes, passando a receita médica a ser validada através do cartão de cidadão.
Em certos casos nem sequer será preciso passar pelo centro de saúde para recolher a receita médica: os medicamentos poderão ser requisitados online no Portal do Utente e, posteriormente, aviados nas farmácias, que terão à disposição leitores eletrónicos do cartão do cidadão.
A introdução deste tipo de receitas eletrónicas permitirá a médicos e doentes deixarem de usar a tradicional receita médica em papel e substituírem este suporte por uma referência numérica a partir da qual o farmacêutico poderá ler a prescrição médica, melhorando a comunicação entre as farmácias e o sistema central de saúde, passando a ser possível dar baixa imediata das receitas que já foram concretizadas.
Esta referência também estará disponível para o Serviço Nacional de Saúde. Logo, a receita eletrónica implica que o médico passe o receituário através de um programa informático, sendo necessário que os médicos tenham apenas acesso a um terminal de computador.
Aparentemente todos sairão a ganhar com este projeto, mas será efetivamente assim? Será que os direitos dos utentes à privacidade e o direito à proteção dos dados clínicos que constituem princípios éticos inquestionáveis e fundamentais estarão protegidos e salvaguardados por este sistema?
Sinceramente tenho algumas dúvidas! Estas são questões muito delicadas e complexas, na medida em que mexem com um bem essencial como é a saúde, com o direito de acesso à mesma bem como a proteção dos dados clínicos dos utentes que devem ser garantidos.
«O dr. Ricardo Salgado resolveu envolver o Presidente da República, o primeiro- ministro e o vice primeiro-ministro na suspeita e obscura falência do banco e do grupo Espírito Santo; e numa carta à comissão parlamentar de inquérito anunciou que tinha falado com os três muito antes do desastre se consumar. A manobra é inteligente. Sozinho e ainda à solta (por uma caução de milhões de euros) Ricardo Salgado precisa de “politizar” as coisas para turvar o caso ou, pelo menos, para reduzir a sua responsabilidade nesta infecta história. A simples revelação de que se encontrou com os mais poderosos representantes do Estado (sem revelar o que disse e o que lhe disseram), insinua uma cumplicidade que provavelmente nunca existiu, mas que, mesmo em hipótese, lhe fornece um saco de justificações.
Para sorte dele, o dr. Cavaco reagiu com uma declaração embrulhada e comprometedora. Nada o impedia de reconhecer que vira Salgado e de lembrar cordatamente o seu dever de reserva. Com alguma parcimónia e gravidade, encerrava o assunto. Mas Cavaco, que sempre foi vingativo e provinciano, não ficou pela solução mais lógica e acrescentou muito excitado que nunca comentara a situação do BES, tinha citado simplesmente a opinião do Banco de Portugal sobre o BES – o resto era “mentira”. Ora, como o país logo concluiu, o Presidente da República não citaria a opinião do Banco, se não concordasse com ela. E, como o Banco se enganara, isto levou à ruína uns milhares de accionistas e depositantes do BES, que acreditavam na autoridade e no bom senso do dr. Cavaco.
A memória dos portugueses não é famosa e ninguém se lembrou do célebre episódio do “gato por lebre”, que inaugurou a carreira do homem. Só a esquerda, que o odeia com uma intensidade assustadora, ferrou o dente naquela miserável trapalhada e não a deixará tão cedo. E com razão. O dr. Cavaco exibe a cada passo, até nos mais pequenos pormenores, a sua incapacidade para o cargo em que infelizmente o puseram. Este incidente não é uma gaffe inócua e desculpável, é uma intervenção profunda na vida material do país, agravada por uma fuga desordenada à franqueza e à verdade política. O sr. Presidente da República devia daqui em diante observar um silêncio penitente e total, com o fim meritório de não assanhar a crise que ele consentiu e em parte criou. Não merece a nossa confiança».
As eleições na Grécia marcaram um tempo de mudança que está a contagiar outros países europeus.
Em Espanha, cavalgando a onda grega, cerca de cem mil espanhóis participaram, em Madrid, na emblemática Puerta del Sol na «marcha da mudança» convocada pelo «Podemos».
A marcha do "Podemos" de ontem em Espanha não foi um mero comício partidário. O partido de Pablo Iglésias assume-se como uma verdadeira alternativa política ao Partido Popular, no poder, com vista às eleições gerais, previstas para o fim do ano.O "Podemos" tenta cativar os espanhóis com algumas bandeiras: o referendo sobre a independência da Catalunha e a saída da Espanha da NATO, além de estar naturalmente contra a atual política europeia.
Há diferenças entre o Podemos e o Syriza, mas ambos têm um denominador comum: representam a base do movimento anti austeridade que ganha ímpeto na Europa, mais ligada à insatisfação popular com os governos vigentes e o clamor por uma mudança imediata. Essa frustração que grassa em Espanha é o pilar do crescimento vertiginoso do “Podemos”. Mergulhada numa crise económica que já dura há seis anos e com quase um quarto da população a viver o drama do desemprego, Espanha pode muito bem ser o próximo país, depois da Grécia, a eleger uma alternativa de extrema-esquerda.
Mas se a curto prazo a vitória do Syriza na Grécia dá uma injeção de ânimo a Pablo Iglesias e ao Podemos, os espanhóis terão quase um ano inteiro para acompanhar de perto os passos de Alexis Tsipras e do Syriza à frente do governo grego. Sendo certo que o sucesso do projeto anti austeridade grego pode ter uma influência positiva nas ambições da extrema-esquerda espanhola, um fracasso pode ter um efeito devastador.
Em Portugal o Syriza não se assemelha em nenhum partido do espetro político nacional. Qualquer semelhança entre o BE e o Syriza é pura coincidência. A força do Syriza é a imagem do seu líder: não é uma força ideológica, é uma força carismática personificada em Alex Tsipras. O BE é um conjunto de forças de extrema-esquerda que se uniram como partido de protesto com algumas ideias interessantes e inovadoras, mas que atualmente atravessa uma crise de liderança. O Bloco, como se sabe, após a saída de Louçã, começou em decadência. Hoje não tem uma liderança forte, fala a várias vozes (seis) – e, ao contrário do Syriza (cujas intenções de voto e popularidade foi crescendo), o Bloco de Esquerda encontra-se em queda vertiginosa, em termos de popularidade e intenções de voto.