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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 29.06.15

As contas de Cavaco sobre a Grécia

O Presidente da República afirmou, esta segunda-feira, que não entende a decisão do governo grego liderado por Tsipras, convocar um referendo sobre o acordo com os credores, sublinhando que o anúncio surpreendeu toda a Europa. Cavaco Silva recusou antecipar o resultado da consulta, mas disse esperar que o país helénico regresse à mesa das negociações pois isso "será benéfico" para a Europa e para a Grécia.

E caso o pior cenário se verifique? Cavaco responde da seguinte forma: «A zona do Euro são 19 países, eu espero que a Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países.». 

Só visto, contado ninguém acredita..... 

Dom | 28.06.15

Seleção Portuguesa de Sub-21 afasta a Alemanha do Campeonato da Europa

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A seleção portuguesa de sub-21 qualificou-se para a final do Campeonato da Europa, depois de derrotar a Alemanha por 5-0. A equipa das quinas fez um jogo magnífico. Os portugueses dominaram a partida do primeiro ao último minuto e não deixaram os alemães pegar no jogo. William Carvalho foi considerado pela UEFA o homem do jogo.

Com apenas um golo sofrido nesta fase final, em que tinha anteriormente contribuído para a eliminação da Inglaterra e da Itália, esta seleção portuguesa de sub-21 tem revelado uma maturidade, uma segurança defensiva e um excelente jogo coletivo comandado por Rui Jorge.

Vemos com satisfação despontar uma nova geração de ouro, semelhante àquela que chegou à final do Europeu de sub-21 em 1994, o que nos permite encarar o futuro do futebol português com otimismo.

A goleada frente à equipa germânica permite-nos, como há 21 anos, sonhar com uma vitória na final, porque face ao que temos vindo a assistir, há todas as razões para confiar nesta equipa e no seu treinador. Não nos vão desiludir certamente!

Dom | 28.06.15

«Nuno Crato quer pôr alunos a ir para a escola de bicicleta»

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 (imagem do DN)

«Nuno Crato quer pôr alunos a ir para a escola de bicicleta» - esta é hoje a manchete do DN e é a prova de que há ministros que não conhecem minimamente as cidades, as vilas e as aldeias do país, nem tão pouco os portugueses. O facto ir para o ministério com motorista está provavelmente a fazer-lhe mal, pois que dispense o motorista e passe a ir de bicicleta para dar o exemplo!

Sab | 27.06.15

Ministra da justiça usa recursos do Estado para fins eleitorais

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Depois de os juízes terem cortado relações com a ministra da Justiça, a propósito do estatuto dos magistrados judiciais e  de aumentos na remuneração, ontem, no Parlamento, Paula Teixeira da Cruz, esteve novamente debaixo de fogo ao ser confrontada com uma notícia do DN, na qual se referia que os diretores-gerais dos serviços do ministério da Justiça haviam recebido, através de correio eletrónico, um pedido para que verificassem «ponto por ponto» se as propostas eleitorais do PS para a área da justiça coincidiam com medidas adotadas pelo Governo.

Todos os partidos da oposição se insurgiram com a circunstância da ministra estar a usar dirigentes da administração pública para fins eleitorais, facto aliás nunca visto na democracia portuguesa.

Entretanto, Paula Teixeira da Cruz primeiro negou e justificou que «o que aconteceu no âmbito desta monitorização, que é normal, foi, tendo-se verificado que havia um conjunto de medidas muito semelhantes às implementadas pelo Governo, foi pedido que se verificasse se essas medidas estavam contidas nas nossas propostas». Depois, sem escapatória, considerou que foi um «erro» que dirigentes do ministério tenham pedido a funcionários para verificar se propostas coincidentes com as defendidas pelo PS foram adotadas pelo Governo, mas negou que fosse para fins eleitorais. «É um erro, foi um erro e todos cometem erros», disse Paula Teixeira da Cruz aos jornalistas, no final do debate no parlamento.

A ministra disse mesmo não lhe parecer «avisado» que no seu ministério tenham pedido para verificar se determinadas medidas, que coincidem com as do programa de governo do PS, coincidiam com as aplicadas pelo Ministério da Justiça. Mas o certo é que pediu e o coordenador do PS para a área da justiça Jorge Lacão mostrou-se indignado.

Lacão considerou que esta situação «é inaceitável» porque se trata de «instrumentalizar a administração pública a propósito de interesses políticos partidários».

O líder parlamentar Ferro Rodrigues exigiu também imediatas explicações do primeiro-ministro sobre a possibilidade de altos quadros da administração pública estarem a ser «instrumentalizados» para a luta política, recebendo ordens superiores para analisarem o programa eleitoral do PS.

Também António Costa, insistiu que o primeiro-ministro teria de dar urgentemente um «cabal esclarecimento» à alegada utilização, por parte de vários ministérios, dos serviços do Estado para apreciação do programa de Governo socialista.«É um caso absolutamente exemplar do uso abusivo das instituições do Estado para o combate político». O líder socialista acrescentou que o PS «tem indicações» de que, além do caso do Ministério da Justiça, divulgado pelo Diário de Notícias, aquela prática está a ser seguida «em vários outros ministérios». Disse, por isso, ser da «estrita obrigação do primeiro-ministro dar imediato esclarecimento sobre como e em que condições, a máquina do Estado está a ser utilizada num combate que deve ser entre partidos mas onde não é aceitável que a coligação de direita possa mobilizar os recursos do Estado para o combate político ao PS».

Infelizmente o desempenho de Paula Teixeira da Cruz à frente do ministério da justiça tem sido tão desastroso que já nada nos espanta!

Ter | 23.06.15

A bola agora está do lado dos credores europeus

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O dia de ontem foi agitado em Bruxelas. O governo de Atenas apresentou novas propostas e a bola está agora do lado das lideranças europeias, declarou esta segunda-feira o primeiro-ministro grego. Tudo depende da conclusão a que chegarem quem as instituições europeias (Comissão Europeia, do BCE e do FMI).

Alexis Tsipras falava no final da cimeira de emergência dos chefes de Estado e do Governo da zona euro, que decorreu em Bruxelas e que terminou sem um acordo, mas com alguns sinais de esperança. O primeiro-ministro grego estava visivelmente satisfeito e não resistiu a proferir uma frase repetida pelos líderes e ministros das finanças de outros países: «agora a bola está do lado dos líderes europeus».

A proposta grega prevê um saldo excedente orçamental primário de 1% do PIB este ano, 2% em 2016 e 3% em 2017, como defendem os credores.

O plano inclui cortes nas pensões e restrições imediatas nas reformas antecipadas, com poupanças de 60 milhões de euros este ano e de 30 milhões no próximo. Há ainda um aumento das contribuições para as pensões, que se estima gerarem receita mais 350 milhões de euros em 2015 e 800 milhões em 2016, assim como aumento da contribuição para a saúde dos aposentados, de 135 milhões de euros este ano e 510 milhões em 2016. A promessa do Syriza em não penalizar as pensões mais baixas deverá manter-se.

Em matéria de impostos, o governo de Tsipras propõe uma reforma do IVA que geraria receitas na ordem dos 380 milhões de euros já este ano e 1.300 milhões no próximo. As empresas com lucros acima de 500 mil euros pagariam um imposto de 12% e a taxa de IRC seria agravada em 3% no próximo ano, sendo que a estimativa de aumento da receita seria 410 milhões de euros em 2016.

Seg | 22.06.15

Grexit?

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O tempo para se encontrar uma solução para a Grécia começa a escassear, a probabilidade de que não se encontrar uma solução aumenta de dia para dia e a saída da Grécia do Euro afigura-se como uma uma forte possibilidade.

Caso falhe o acordo, a Grécia só muito dificilmente terá acesso à nova tranche de empréstimo, no valor de 7,2 mil milhões de euros e, nesse caso, entrará em default.

A saída da Grécia da moeda única será sempre uma má solução com consequências nefastas para a economia e para o clima de confiança entre os estados membros da UE.

Para além dos impactos do ponto de vista económicos e financeiros para os gregos foram do Euro que naturalmente serão significativos, sobretudo no curto prazo, há que ter igualmente em conta aspetos que se prendem com o plano geopolítico pelos desequilíbrios que acarretam. Seguramente mudar-se-ão as relações entre a Grécia e os restantes Estados-membros da EU e com a saída da Grécia, este país estreitará relações económicas, financeiras e políticas com a Rússia (e eventualmente com a China), fator que contribuirá para um desequilibro geopolítico, numa altura em que as relações entre EUA/Europa e Rússia estão longe de serem as melhores, em larga medida devido ao problema da Ucrânia que, como se viu, mereceu uma abordagem desastrosa por parte da EU.

Por tudo isto espera-se que a Cimeira extraordinária dos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia agendada para hoje constitua uma evolução no sentido de um acordo para a Grécia, porque a questão da Grécia não afeta apenas o país helénico, mas também o futuro da consolidação europeia como processo político, social, económico e cultural, o princípio fundamental da visão dos seus fundadores.

Dom | 21.06.15

É oficial: chegou o verão!

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Embora o tempo quente já há muito se tenha feito sentir, o solstício de verão aconteceu hoje, mais precisamente às 16h38, marcando oficialmente o início do Verão no Hemisfério Norte e de inverno no hemisfério sul), com o maior número de horas de luz solar do ano.

Em termos científicos, o solstício de verão consiste no momento em que o hemisfério norte da Terra está mais diretamente virado para o Sol.

Este momento corresponde ao momento em que o Sol atinge altura máxima, medida a partir da linha do Equador. O termo solstício deriva do Latim das palavras sol e sistere que significam «Sol parado», uma vez que nos dias em antes e após o solstício de verão, o Sol parece manter-se à mesma altura no meio-dia e pôr-se e nascer no mesmo ponto em relação ao horizonte.

À medida que os dias passam, é possível voltar a observar o Sol a pôr-se e a nascer um pouco mais a sul. Este processo mantém-se até que o Sol se ponha e atinja o ponto mais a sul do ano, altura em que ocorre o solstício de inverno, a 21 de dezembro.

Hoje é o dia mais longo do ano. Esta é das estações mais aguardadas. Verão é sinónimo de praia, férias, descanso e muita diversão. Muito mais do que uma estação, é todo um estado de alma onde se vagueia dos excessos e se fica à mercê da terna indolência... num dolce far niente. Tão bom!

Sab | 20.06.15

Demasiado lampeiros

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 «(…)O que se passa hoje é como se, invisivelmente, se estivesse a realizar uma das funções essenciais que Orwell atribuía ao Big Brother, que era tirar todos os anos algumas palavras de circulação, porque sabia que é mais fácil controlar pessoas cujo vocabulário é restrito e que, por isso, tem dificuldades em expressar-se com clareza e riqueza e, em consequência, dominam menos o mundo em que vivem. O incremento de formas de expressão quase guturais como os SMS e o Twitter, apenas dá expressão a um problema mais de fundo que é desertificação do vocabulário, fruto de pouca leitura, e de um universo mediático muito pobre e estereotipado. Salva-nos o senhor Vice-Primeiro Ministro Portas que anda para aí a dizer que as “exportações estão a bombar”, convencido que ninguém o acha ridículo no seu afã propagandístico. Viva o Big Brother!

Tudo isto vem a propósito da palavra que mais me veio à cabeça – bem sei que uma cabeça muito deformada pelo “ressabiamento” por este governo não me ter dado um cargo qualquer – quando ouvi o debate parlamentar com o Primeiro-ministro na sexta-feira passada. Como ele está lampeiro com a verdade! Lampeiro é a palavra do dia.

Lampeiros com a verdade, neste governo e no anterior, há muitos. Sócrates é sempre o primeiro exemplo, mas Maria Luís Albuquerque partilha com ele a mesma desenvoltura na inverdade, como se diz na Terra dos Eufemismos. E agora Passos deu um curso completo dentro da nova tese de que tudo que se diz que ele disse é um mito urbano. Não existiu. Antes, no tempo do outro, era a ”narrativa”, agora é o “mito urbano”.

Aconselhar os portugueses a emigrar? Nunca, jamais em tempo algum. Bom, talvez tenha dito aos professores, mas os professores não são portugueses inteiros. Bom, talvez tenha dito algo de parecido, mas uma coisa é ser parecido, outra é ser igual. Igual era se eu dissesse “emigrai e multiplicai-vos” e eu não disse isso. Nem ninguém no “meu governo”. Alexandre Mestre era membro do Governo? Parece que sim, secretário de Estado do Desporto e disse: "Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Como “sair da sua zona de conforto” é uma das frases preferidas do Primeiro-ministro, e a “zona de conforto” é uma coisa maléfica e preguiçosa, vão-se embora depressa. E Relvas, o seu alter-ego e importante dirigente partidário do PSD de 2015, então ministro, não esteve com meias medidas: “é extraordinariamente positivo” “encontrar [oportunidades] fora do seu país” e ainda por cima, “pode fortalecer a sua formação”. Resumindo e concluindo: “Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante". Parece um coro grego de lampeiros.

Continuemos. A crise não atingiu os mais pobres porque “os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”, disse, lampeiro, Passos Coelho. Estou a ouvir bem? Sim, estou. Contestado pela mentirosa afirmação, ele continua a explicar que os cortes no RSI foram apenas cortes na “condição de acesso ao RSI” e um combate à fraude. A saúde? Está de vento em popa, e quem o contraria é o “socialista” que dirige um “observatório” qualquer. Sobre os cortes nos subsídios de desemprego e no complemento solidário de idosos, nem uma palavra, mas são certamente justas medidas para levarem os desempregados e os velhos a saírem da sua “zona de conforto”. Impostos? O IVA não foi aumentado em Portugal, disse Passos Coelho com firmeza. Bom, houve alterações no cabaz de produtos e serviços, mas o IVA, essa coisa conceptual e abstracta, permaneceu sem mudança, foi apenas uma parte. Então a restauração anda toda ao engano, o IVA não aumentou? E na luz, foi um erro da EDP e dos chineses? Lampeiro.

Depois há a Grécia. “Não queremos a Grécia fora do euro” significa, por esta ordem, “queremos derrubar o governo do Syriza”, “queremos o Syriza humilhado a morder o pó das suas promessas eleitorais”, “queremos os gregos a sofrerem mais porque votaram errado e têm que ter consequências”, “queremos a Grécia fora do euro”. O que é que disse pela voz do Presidente? Na Europa “não há excepções”. Há, e muitas. A França por exemplo, que violou o Pacto de Estabilidade. A Alemanha que fez o mesmo. 23 dos 27 países violaram as regras. Consequências? Nenhumas: foi-lhes dado mais tempo para controlar as suas finanças públicas. Mas ninguém tenha dúvidas: nunca nos passou pela cabeça empurrar a Grécia para fora do euro, até porque na Europa “não há excepções”. Lampeiros é o que eles são. Lampeiros

Este tipo de campanha eleitoral é insuportável, e suspeito que vamos ver a coligação a “bombar” este tipo de invenções sem descanso até à boca das urnas. O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo – não tem melhor em que gastar dinheiro? – e vão longe.

Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor Primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “o senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples, é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.

Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de rituais estandardizados da política de salão e conferência de imprensa, deixem-se de salamaleques politicamente correctos, mostrem que não querem pactuar com o mal que dizem existir e experimentem esse franc parler que tanta falta faz à política portuguesa.

Mas, para isso é preciso aquilo que falta no PS (e não só), que é uma genuína indignação com o que se está a passar. Falta a zanga, a fúria de ver Portugal como está e como pode continuar a estar. Falta a indignação que não é de falsete nem de circunstância, mas que vem do fundo e que, essa sim, arrasta multidões e dá representação aos milhões de portugueses que não se sentem representados no sistema político. Eles são apáticos ou estão apáticos? Não é bem verdade, mas se o fosse, como poderia ser de outra maneira se eles olham para os salões onde se move a política da oposição, e vêm gente acomodada com o que se passa, com medo de parecer “radical”, a debitar frases de circunstância, e que não aprenderam nada e não mudaram nada, nem estão incomodados por dentro, como é que se espera que alguém se mobilize com as sombras das sombras das sombras?

Enquanto isto não for varrido pelo bom vento fresco do mar alto, os lampeiros vão sempre ganhar. As sondagens não me admiram, a dureza e o mal são sempre mais eficazes do que o bem e muito mais eficazes do que os moles e os bonzinhos».

José Pacheco Pereira - PUBLICO - 20/6/2015

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