Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba.
Vergílio Ferreira
O banco americano de investimentos Goldman Sachs anunciou em julho a contratação do ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, como presidente não executivo e conselheiro, dando nomeadamente assessoria para assuntos relacionados com o Brexit, uma nomeação que, como se sabe, provocou polémica na Europa.
Na sua qualidade de ex-presidente da Comissão Europeia, assim como ex-primeiro-ministro de um Estado-membro, Durão Barroso teria o direito a um tratamento VIP concedido aos líderes e instituições europeias em Bruxelas.
O atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, vai ainda examinar o contrato do seu antecessor com o banco norte-americano de investimento, mas já deu instruções ao seu gabinete para tratar José Manuel Barroso como qualquer outro lobista com ligações a Bruxelas. Barroso passará a ser recebido como um representante de interesses e qualquer comissário europeu ou funcionário da União Europeia que mantiver contactos com Durão Barroso será obrigado a registar esses contactos e a manter notas sobre os mesmos.
Esta foi a resposta surpreendente de Jean-Claude Juncker às novas funções do ex-primeiro-ministro no polémico banco Goldman Sachs que, quer queiramos quer não, constitui uma marca negativa no brilhante currículo de Durão Barroso.
Morreu Dylan da Silva, o soldado que estava em falência hepática na sequência de um golpe de calor sofrido durante os treinos no curso de Comandos.
Esta é a segunda morte de um militar na sequência do treino dos Comandos na região de Alcochete, no distrito de Setúbal, que decorreu há uma semana. No dia do treino um militar morreu e vários outros receberam assistência hospitalar.
O caso já desencadeou investigações na Justiça, mandadas instaurar quer pelo chefe do Estado-Maior do Exército, quer pela Procuradoria-Geral da República – levando mesmo à suspensão dos cursos de Comandos do Exército e houve a garantia do Presidente da República - Chefe Supremo das Forças Armadas - que o caso iria ser apurado até às últimas consequências.
Mas, por mais voltas que dê à cabeça, juro que não consigo entender como se pode permitir que morram dois jovens num curso de formação para Comandos e que se mandem para o hospital mais alguns. «Um golpe de calor» parece-me insuficiente para explicar o que aconteceu. Precisamos de mais explicações.
Não acho que a extinção dos Comandos seja a solução (como defendeu a Catarina Martins do BE) mas é preciso uma investigação rigorosa e mão firme para evitar que novos casos aconteçam.
Toda a minha solidariedade para com as famílias enlutadas.
O juiz mais mediático do país que teve em mãos casos como a Operação Furacão, o Apito Dourado ou a Operação Marquês deu a sua primeira entrevista em televisão.
Dono de uma memória prodigiosa, sabe de cor as páginas dos processos e admite que o conhecimento adquirido lhe dá poder. Conhece «muita da realidade económica de alguns negócios de algumas operações bancárias, de algumas decisões políticas, de algumas decisões jurisprudenciais, o que se passa nos bastidores delas», mas nem por isso se considera perigoso.
Afirma não ter medo, até porque, como salienta, «se tivesse medo não me levantava da cama». «Eu apenas me reclamo de alguma coragem. Tenho tido alguma coragem de tomar algumas decisões».
Questionado sobre se sente observado explicou que acha que é escutado sobre várias formas: «Já me julgo um pouco conhecedor e já identifiquei várias vezes restolhar de papeis, água a marulhar, porque há pessoas que têm a possibilidade de ir para a praia nesta altura do ano e por vezes descuidam-se.».
Carlos Alexandre revelou ainda que há dez anos que não goza férias e ao fim-de-semana, tem por hábito fazer turnos extras no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa para estar atento à realidade do país e para pagar as contas ao final do mês. «Como eu não tenho amigos, amigos no sentido de pródigos, não tenho fortuna herdada de meus pais ou de meus sogros, eu preciso de dinheiro para pagar os meus encargos, porque, frisa, não tem dinheiro, nem contas bancárias em nome de amigos. Até porque amigos, segundo o próprio, são aqueles que aparecem meu funeral e mesmo assim só se não estiver a chover.
Confessa-se uma pessoa «isolada», «com poucos amigos», tipo «bicho-do-mato», sou o «saloio do Mação» (como alguns um dia terão dito), aceitando com normalidade as circunstâncias, mas tem perfeita consciência que se praticar erros grosseiros, ninguém na magistratura o vai «acolitar».
O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal revelou ontem à SIC ter tido problemas de saúdo e de ter estado internado em dezembro de 2014, devido a uma embolia pulmonar e que no ano passado foi a vez de um familiar próximo ter tido um problema grave. Garante que só esse tipo de problemas o poderão no futuro fazer repensar a Justiça como missão e sobre uma possível subida para a Relação, diz que não preenche alguns requisitos, entre os quais a frequência de seminários, publicação de livros, o que lhe retira valoração. «Eu trabalho horas a fio, não quero dizer que as pessoas que foram aos seminários não trabalhem», remata. Outro dos problemas é o facto de não ver grandes vantagens financeiras com essa subida.
Ora, fazendo aqui uma espécie de perfil psicológico deste «super juiz», eu diria que tem traços um bocado perturbadores, nomeadamente quando se reporta aos sons das escutas. Faz gala em dizer que não tem amigos e que é bicho do mato. Que até sente que os seus colegas o discriminam. Aceita uma quantidade de trabalho anormal que nenhum ser humano deveria suportar, facto que já havia referido aqui.
Evidentemente, com tantos processos com milhões de páginas e milhões de ficheiros para analisar parece óbvio que o juiz não tem tempo para refletir e ponderar bem as decisões que toma. Por isso mesmo prende preventivamente para ganhar tempo.
Deviam impedir que um juiz pudesse acumular tanto volume de trabalho. O resultado é justamente o atraso da justiça. O processo Marques é a prova disso mesmo.
Portugal conquistou de 24 prémios, nos World Travel Awards. Os WTA, reconhecidos como os Óscares do Turismo europeu, têm vindo a tornar-se um carimbo de qualidade turística para os destinos premiados.
Das 91 categorias a que concorreu, Portugal conseguiu arrecadar a vitória em 24. Destaque para o triunfo do Algarve como melhor destino europeu de praia e da Madeira como a melhor ilha na Europa.
Entre os vários prémios conquistados por hotéis e resorts em território nacional, a TAP foi ainda distinguida como a melhor companhia europeia a voar para África e também para a América do Sul, assim como os Passadiços de Paiva conquistaram o galardão para melhor projeto de desenvolvimento turístico (em reconstrução após o incêndio).
A capital Lisboa foi ainda distinguida como a melhor cidade europeia para viajar de cruzeiro e ainda ganhou na categoria de melhor porto da Europa. Contudo, foi a cidade russa de São Petersburgo a levar o galardão de melhor cidade, algo que acontece pelo segundo ano consecutivo.
Por fim, o Turismo de Portugal foi eleito o melhor órgão de turismo europeu.
«Criticar alguém que se encontra no topo da popularidade não é fácil. O Presidente da República bate hoje todos os recordes de popularidade, beneficiando quer de qualidades que lhe são próprias, quer do contraste com o Presidente anterior, quer da actual conjuntura política, em que ele aparece como um moderador amável, cujas intenções explícitas parecem a todos benévolas. Sendo assim tudo parece desculpável.
Acresce que esse Presidente é Marcelo Rebelo de Sousa, com todos os defeitos e virtudes que se lhe conhecem. Nesta mesma semana, na abertura do ano judicial, fez um dos melhores discursos produzidos a partir de um lugar de poder que se ouviram nos últimos anos em Portugal. Fez teoria e prática e produziu um discurso muito acima do que é habitual, pela qualidade, e ancorado quer nos seus conhecimentos, quer também no melhor da sua sensibilidade. Foi uma coisa que há muito não se ouvia, o discurso de um presidente de formação social-democrata, que não a renega, mas que a aplica numa matéria muito sensível.
Se, também por isso, é difícil criticar Marcelo, a verdade é que ele está a criar um enorme problema para si, para o Governo, para o funcionamento normal do sistema político-constitucional. Há quem o desculpe dizendo que é uma questão de estilo, mas lamento dizer que me parece um problema de fundo, de conteúdo, que o estilo agrava, em vez de moderar. Não cometo a injustiça de dizer que em Marcelo o estilo é o conteúdo, porque sei que no fundo permanece algo que explica o discurso do ano judicial, mas também o Marcelo inovador da comunicação social, para o bem e para o mal, e um táctico capaz de estratégia, nem sempre mas às vezes, e com uma mistura de uma sensibilidade oportunista com um sentimento genuíno.
Compreendo muito bem a estratégia não enunciada que está por trás da acção presidencial: Marcelo aceita a “geringonça”, mas pensa que ela é inerentemente instável, nem que seja pela Europa, e quer ter uma solução alternativa. Essa solução, que claramente prefere, é uma aliança entre PS e PSD. Ele sabe que ela hoje não é possível, não tanto por causa de Costa, mas por causa de Passos Coelho. Por isso, aponta para uma possível saída de Passos depois de um mau resultado autárquico, e daí o prazo que definiu para umas hipotéticas eleições, que foi erradamente interpretado como sendo para o Governo PS, quando o é para Passos. Marcelo sabe que Costa se pode entender bem com outro líder do PSD, Rio por exemplo, mas não com Passos. Há muita coisa que pode correr mal nesta estratégia, mas ela tem sentido e é legítimo que o Presidente a tenha, dentro dos limites da sua actuação e dos poderes presidenciais. Mas não é isso que me preocupa hoje na acção do Presidente.
O que se passa é que o Presidente está a falar demais. A falar demais, a falar demais em todos os sentidos, a falar do que não deve, e a falar onde não deve. E o efeito é muito pernicioso, em primeiro lugar, para si, visto que banaliza a sua palavra, e, sendo hoje tacticamente bom para o Governo, a prazo será mau e, em segundo lugar, é muitas vezes um abuso dos seus próprios poderes no limite da inconstitucionalidade ainda verbal e virtual, mas, mesmo assim, tratando-se da palavra do Presidente, ela terá consequências disfuncionais. Somamos a isso um estilo demasiado exposto e exibicionista, embora reconheça que aqui as sensibilidades e o bom gosto são muito subjectivos. Mas o Presidente vai precisar de alguma gravitas, porque vai ter de tomar decisões difíceis, visto que até agora tudo é um mero aperitivo, um amuse-gueule. Ora nessa altura as selfies não lhe vão servir de nada, e se servirem será pior ainda, porque a popularidade pode tornar-se um populismo.
O Presidente fez já sobre todas as matérias da agenda trivial, gastronómica, festiva, cultural, social, económica, política centenas de declarações, muitas centenas de declarações opinativas, do futebol à Caixa Geral de Depósitos, faz declarações formais sempre que sai uma estatística, interpretando-a, produz um metadiscurso de comentário sobre tudo e mais alguma coisa. Alguém me explica por que razão é que o Presidente tem de se pronunciar sobre o espancamento de um jovem feito por outros jovens com imunidade diplomática, matéria que está no âmbito da Justiça? Ele pode dizer que se pronuncia sobre todas as matérias que provocam “alarme público”, mas o Presidente não é o Correio da Manhã e não se perceberá então que não comente casos como a operação Marquês. E alguém me explica por que razão, tendo o Presidente encontros regulares com o primeiro-ministro, antes dessas reuniões se pronuncia em público sobre matérias que deviam permanecer na reserva do Estado? Até agora corre tudo bem porque Costa é para o lado em que dorme melhor, suporta bem o epíteto do “optimista irritante”, coloca-o a seguir debaixo do seu guarda-chuva e uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas não vai ser assim um dia em que Marcelo diga que vai estar vigilante no Inverno para saber o que é que o Governo vai fazer sobre os incêndios — uma matéria de exclusiva responsabilidade governamental terá como resposta que não é preciso o senhor Presidente estar preocupado, porque o Governo sabe muito bem o que deve e o que pode fazer.
No mês de Agosto, o apogeu da silly season, o Presidente ocupou todo o espaço mediático, das televisões às revistas cor-de-rosa, pronunciando-se muitas vezes de forma pouco responsável sobre matérias como a Caixa Geral de Depósitos, mas também teve silêncios, que, tratando-se de Marcelo Rebelo de Sousa, são silêncios que gritam altíssimo: não se pronunciou, por exemplo, sobre comportamentos do fisco que violam a Constituição portuguesa, como denunciou a Comissão Nacional de Protecção de Dados, que, nesta matéria, não é tida nem achada, nem tem poderes para “proteger” nada, matéria que é do foro presidencial ,como garante da Constituição. Não se pronunciou sobre os abusos vexatórios que decisões do BCE comportaram e que nunca foram aplicadas a nenhum outro país e que mostram como as instituições europeias, quando se lhes deixa fazer o que querem, abusam. O abuso diz respeito à soberania nacional, matéria que está no âmago da função presidencial.
Mas eu daria de barato os silêncios, se não fossem no meio de uma logomaquia gigantesca, que pode entreter os jornalistas, muitos dos quais formados na escola dos “cenários” que Marcelo criou no Expresso e no seu comentário televisivo — por isso estão bem uns para os outros —, se não se estivesse a criar uma disfunção que cresce todos os dias, e cujos efeitos de perturbação se vão disseminar pelo sistema político.
Imaginem como é hoje a logomaquia do futebol, a milhas na sua loquacidade inútil do que de pior já existe hoje na política, em que os protagonistas ainda são meninos de coro junto dos comentadores desportivos. Com uma excepção, Marcelo Rebelo de Sousa, que, esse sim, está longe nesta matéria de ser um aprendiz. Mas Marcelo é hoje Presidente e espera-se que a sua palavra não dure o tempo mediático de um dia e que se possa reconhecer nessa palavra autoridade mais do que popularidade.
Este é o Presidente que temos, mas não é a Presidência de que precisamos. E o que mais que tudo é grave é que eu tenho a certeza, mas mesmo a certeza, de que Marcelo Rebelo de Sousa concorda com tudo o que escrevi, sabe que é assim, sabe quais são as consequências, e saberá melhor do que ninguém que “if you live by the word you will die by the word”. E que, um dia, tudo o que sobe desce, ou melhor, cai.»
Agosto já se acabou e com ele as férias de verão. Ficam as recordações do mar, do sol, das bolas de Berlim, dos cheiros a protetor solar e dos dias descontraídos de férias. Para o ano, se Deus quiser, há mais.
Chegou setembro! É tempo de retomar as rotinas. Mas setembro é também um mês de recomeços. Representa a oportunidade de mudar, de ter um novo olhar sobre tudo. As baterias estão recarregadas. A paciência também (ainda que, por vezes, se esgote facilmente). E começa tudo de movo.
Bem-vindo setembro! Que nos traga novas oportunidade e novos projetos. Que nos desafie constantemente. Que a motivação continue e o bom tempo também.