Quando o jornalismo estraga um bom mistério ...
Elena Ferrante é um pseudónimo de uma escritora italiana, cujo livro mais conhecido é «A Amiga Genial» que li estas férias, cuja história centra-se à volta de duas crianças, Elena e Lila, de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade adolescente. O percurso separa-as quando Elena continua os estudos liceais e Lila tem de trabalhar para ajudar a sua família, pese embora a amizade de ambas continue.
Desde sempre a autora manteve algum mistério quanto à sua verdadeira identidade, refugiando-se no anonimato. As entrevistas dadas eram escritas, as perguntas enviadas, porque para a escritora italiana o nome «Elena Ferrante» começa e acaba nas páginas de cada um dos seus livros. A sua verdade é exclusivamente literária. Para lá disso, surge a lenda. «Já fiz o suficiente por esta história. Escrevi-a.» disse um dia a propósito.
Dai que não admira que a suposta revelação da verdadeira identidade da escritora best-seller italiana, um dos maiores e mais misteriosos fenómenos da literatura internacional contemporânea, tenha causado tanta polémica e acusações de invasão de privacidade.
O editor de Ferrante, Sandro Ferri, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, diz-se chocado com aquilo que considera uma tentativa de desmascarar uma pessoa que propositalmente evitou os holofotes e sempre alegou querer apenas escrever os seus livros.
Na verdade, temos que admitir que enquanto há pessoas que gostam e querem promover-se, aparecendo escarrapachadas nas páginas dos jornais e revistas, há outras porém que desejam preservar o seu anonimato e estão no seu direito. Qual a necessidade de revelar a identidade de determinadas pessoas contra a vontade dos próprios?