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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 28.05.18

Falta um debate alargado sobre a Eutanásia

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«Na próxima terça-feira, a Assembleia da República discute e vota na generalidade os quatro projetos de lei (PAN, BE, PS e PEV) para despenalizar e regular a morte medicamente assistida. Nestes últimos meses, partidos, responsáveis da saúde e alguns movimentos da sociedade civil foram tomando posição. Infelizmente, não houve um debate alargado, nem integrador dos diferentes pontos de vista. Agora, serão os deputados a decidir por todos, sendo esse voto depois confirmado, ou não, pelo presidente da República. A pergunta fundamental continua em aberto: quem pode decidir o fim da nossa vida?

 

Numa primeira abordagem, parecerá imbatível o argumento de que cada um tem o direito de querer morrer com dignidade, nomeadamente em situações de doença ou lesão incuráveis que provoquem um sofrimento intenso. A vida humana é inviolável, mas nunca poderá ser irrenunciável quando perspetivada à luz dos direitos e das liberdades que nos assistem. Assim apresentada, a eutanásia facilmente reunirá consenso. Acontece que há várias modulações a ter em conta.

 

Destaquemos os médicos. A Ordem dos Médicos sempre se revelou contra a eutanásia. Num debate organizado pelo Conselho Nacional de Ética paras as Ciências da Vida a 20 de junho de 2017 em Braga, o bastonário afirmou que, "caso a eutanásia venha a ser despenalizada, a maioria dos médicos serão objetores de consciência". Anteontem, Miguel Guimarães juntou os anteriores bastonários para entregar uma carta ao presidente da República onde se sublinha que a classe tem a obrigação de cumprir o Código Deontológico da sua profissão e, como tal, não pode ser a favor da despenalização da eutanásia. Na notícia que reportava esta audiência em Belém, o JN escolhia para título uma citação do atual bastonário: "A sociedade não está preparada". Ora, poderá ser este um dos argumentos a usar pelo presidente para travar a lei. Na extensa entrevista que deu no início do mês ao "Público" e à Rádio Renascença, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que a sua opinião e a sua fé católica não interferirão na sua decisão: "Se tiver dúvidas de constitucionalidade, suscitarei fiscalização preventiva; se não tiver, nem de constitucionalidade nem de natureza política, promulgarei". Todavia, há quem duvide que assim seja, até porque o presidente tem ouvido muitas vozes que lhe manifestam muitas reservas quanto a este passo legislativo (as audiências de ontem no Palácio de Belém são um bom exemplo disso). O próprio patrocinou mesmo o ciclo de conferências organizado pelo Conselho Nacional de Ética paras as Ciências da Vida onde se ouviram muitas posições contrárias a esta iniciativa do Parlamento português.

 

É verdade que o debate não foi amplo, nem participativo. De cada um dos lados, houve pessoas que se mobilizaram, mas isso não foi o suficiente para que houvesse um vasto esclarecimento».

 

Felisbela Lopes - JN

Ter | 22.05.18

António Arnault - 1936-2018

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 Morreu hoje António Arnaut, advogado, um dos fundadores do PS, atual Presidente honorário do partido.

 

Arnaut foi autarca em Penela, de onde era natural, dirigente da Ordem dos Advogados, deputado à Constituinte, deputado à Assembleia da República, vogal do Conselho Superior da Magistratura, e Grão-Mestre da Maçonaria entre 2002 e 2005. Fundou e dirigiu a Associação Portuguesa de Escritores Juristas. Publicou oito livros de poesia, quatro romances, dois contos e quinze volumes de ensaio sobre Direito, Saúde Pública, Torga, Pessoa e a Maçonaria. É Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

 

A ele se deve a criação do Serviço Nacional de Saúde, que lançou em 1979, quando era ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional. O 'Pai do SNS', como ficou conhecido, deixou-nos de herança este serviço que com todas as falhas é uma das mais importantes conquistas da Democracia portuguesa.

 

Deixa-nos, igualmente, um legado inestimável de determinação, coragem, dedicação à liberdade e à causa pública.

 

Qua | 16.05.18

Dia negro na academia do Sporting

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15 de maio de 2018 ficará inevitavelmente marcado como dia mais negro da história do Sporting, quiçá do futebol português, quando um grupo de 50 hooligans encapuchados invadiu a Academia do Sporting, agrediu jogadores, treinador, equipa técnica e todo o staff, ainda para mais em véspera de um jogo tão importante como a Taça de Portugal.

O que se pretendeu com isto? Sinceramente ainda não percebi. Que os jogadores abandonem o clube a custo zero? Que fujam para os nossos rivais? Custa-me a acreditar que algum sportinguista, digno desse nome, pratique estes atos de vandalismo. Isto nem parece um ato de contestação, parece quase um ato de ódio e vandalismo puro, de alguém que quer prejudicar o clube.

Os adeptos mostrarem-se indignados após o jogo na Madeira é normal. O que não é normal é assistir-se a este espetáculo deplorável. Tenho para mim que esta espiral violência é o culminar de todo um processo tem vindo a incendiar progressivamente o futebol português perpetrado por dirigentes, gabinetes de comunicação, comentadores e claques.

O Sporting pode estar perante uma crise inimaginável: ver todos os principais ativos da Sporting SAD rescindirem o contrato com justa causa; ver os melhores jogadores reforçarem os clubes rivais a custo zero: perder centenas de milhões de euros sem representarem mais-valias para o clube. Nem quero imaginar um cenário destes. Seria trágico para o meu clube.

E perante o dia mais negro na história do Sporting o que disse Bruno de Carvalho? «Foi chato». «Temos de nos habituar que isto faz parte do dia-a-dia.». «Felizmente as coisas estão a correr dentro da normalidade». «Vamos esperar calmamente».

Estas declarações são inaceitáveis. É imperioso que Bruno de Carvalho e o seu staff saia quanto antes e que se convoquem eleições para que a normalidade seja enfim reposta.

Seg | 14.05.18

É hora de mudar

 

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Jorge Jesus mudou-se do Benfica para o Sporting com o objetivo de interromper um longo jejum no campeonato, tendo sido um ás-de-trunfo de Bruno de Carvalho.

 

Tirando o primeiro ano em que efetivamente "jogámos à bola" mas não fomos campeões por "uma unha negra", a verdade é que esta é a segunda época consecutiva em que Jesus falha clamorosamente e por culpa própria, os objetivos a que se propôs aquando da sua chegada a Alvalade.

 

Uma supertaça e uma taça da liga em 3 anos e com milhões de investimento no plantel é manifestamente pouco. Se a isto acrescermos os rotundos fracassos na primeira liga, mais absurdo se torna o binómio investimento/retorno. Se é para ficar em 3º lugar, então um treinador como José Couceiro, por exemplo, serve perfeitamente.

 

Jesus foi um erro de casting. Desvirtuou o nosso ADN da formação e não cumpriu os objetivos a que se propôs. Por culpa dele vimos ontem voar 27 milhões. Sim ele ontem teve culpas na derrota nos Barreiros, porque montou mal a equipa, porque colocou William e Piccini a titulares quando estes não estavam aptos fisicamente. Fez substituições ridículas. Ontem aquele jogo era para ganhar e perdemo-lo por culpa de Jorge Jesus. Mais uma vez se vê que falta  capacidade  para gerir um plantel.

 

Jesus não é o melhor treinador em Portugal como alguns apregoam. Até pode ser muito bom nos treinos. Mas não basta saber treinar. Chega para ser treinador adjunto. Mas para ser treinador principal é preciso ser líder, ter uma boa comunicação, saber preparar os jogos, conhecer os adversários, reagir bem à pressão e fazer uma boa leitura do jogo. E nisso Jesus falha redondamente. Nos jogos contra equipas da mesma valia raramente surpreende. Nos jogos decisivos falha demasiadas vezes.

 

Depois um bom treinador não cria desculpas antes das derrotas, com a história dos jogos a meio da semana e depois dos jogos perdidos não justifica com as condições meteorológicas: o vento, o calor. Jesus nunca assume os fracassos, mas quando ganha puxa os louros para si.

 

Bruno de Carvalho tem culpa neste capítulo porque é o principal responsável pela contratação de um treinador pago a peso de ouro e da consequente renovação de contrato.

  

Bruno de Carvalho não tem estado bem, é bom que diga, mas a verdade é que nas restantes modalidades a coisa até nem tem corrido mal. Fracassou na mais preponderante, no futebol. Tem, por isso, de assumir a contratação de Jorge Jesus, reconhecer que falhou e tentar reparar os danos causados.

 

Ganhar a Taça de Portugal (se a ganharmos!), não chega! Jorge Jesus deveria por a mão na consciência e sair pelo próprio pé, coisa que certamente não irá acontecer. O melhor será tentar chegar a um entendimento com o treinador.

 

Acho que se fecha aqui um ciclo. Um ciclo que tinha tudo para dar certo, mas que ficou muito aquém das expectativas. É hora de mudar.

Dom | 13.05.18

Festival Eurovisão da Canção

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Israel venceu o Festival Eurovisão da Canção. A canção «Toy», interpretada por Netta e composta por Doron Medley e Stav Beger, conquistou a maioria de votos na grande final do certame que decorreu este ano em Lisboa.

 

Da letra, à música e à performance tudo me pareceu estranho. Não gostei. Mas não fui a única. Salvador Sobral, o vencedor da edição do ano passado do festival da Eurovisão, teceu críticas à canção TOY, da representante de Israel, considerada uma canção  «horrível» pelo músico português.

 

Portugal, com Cláudia Pascoal e Isaura, interpretando a canção O Jardim, ficou em último lugar, depois de  ter vencido em 2017 com Salvador Sobral.

 

Um dos momentos altos aconteceu quando Salvador Sobral e Caetano Veloso subiram ao palco e interpretaram, juntos, a canção vencedora de 2017 Amar pelos Dois.

 

Depois do oásis do ano passado, a Eurovisão voltou ao seu registo habitual: fogo-de-artifício, confettis e purpurinas.

 

Resta salientar a organização competente e sóbria da RTP e o magnífico espetáculo que proporcionou aos milhões de telespetadores espalhados pelo mundo.

Qui | 10.05.18

O problema da natalidade

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A natalidade é um problema com contornos graves em Portugal, já que é o país tem vindo a registar grandes quebras, situando-se, neste momento, na cauda da Europa.

 

No primeiro trimestre nasceram 20 364 crianças no país, menos 371 do que nos primeiros três meses do ano passado, depois de uma ligeira recuperação alcançada em 2014.

 

A manter-se a atual trajetória, a crise de natalidade parece estar para ficar. Como inverter este ciclo?

 

Vale a pena ler este artigo de uma blogger, Kay Xander Mellish, autora do blogue “How to Live in Denmark” que está em Portugal para falar sobre as políticas de natalidade na Dinamarca e que explica o sucesso da natalidade naquele país.

 

No reino da Dinamarca, o homem assume um papel fundamental: passeia os filhos, vai busca-los a escola, ajuda nas tarefas domésticas e ganha dinheiro com a doação de esperma. As mães têm grupos de ajuda.

 

O Estado apoia a natalidade, as crianças ficam em casa um ano, depois vão para as creches e frequentam escolas públicas. Vão de transporte sozinhos desde cedo para a escola e os TPC só começam aos 13.

 

A sociedade dá estatuto a quem  passa tempo com a família e não a quem tem grandes carros, porque «os filhos são o melhor investimento», defende.

 

Vale mesmo a pena ler.

Dom | 06.05.18

História de um dérby lisboeta

 

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No dérby mais importante da época em que estava em causa o segundo lugar e os milhões da Liga dos Campeões, o SCP partia como favorito, já que jogava em casa.

 

Os encarnados entraram em campo sem Jonas e com Samaris e Douglas a jogar de início. No lado do Sporting, Piccini e William Carvalho regressaram como titulares, mas notoriamente sem ritmo competitivo.

 

O Benfica entrou melhor no jogo, o primeiro sinal de perigo surgiu logo aos oito minutos. Rafa escapou a Piccini, que entrou nervoso e inseguro, e rematou, mas a bola acabou por bater no poste. Aos 38 minutos, Rafa voltou a rematar à baliza, mas Rui Patrício atento evitou o golo. A melhor oportunidade do Sporting, aconteceu pouco antes do intervalo quando Bas Dost ao invés de rematar assistiu Gelson que falhou, perdendo uma oportunidade flagrante de golo.

 

A segunda parte começou com os leões a criar boas oportunidades de golo. Aos 57 minutos Bruno Fernandes, remata ao lado e Jiménez aos 69 minutos falha na pequena área. Já perto dos 90, na sequência de um pontapé de canto, Bryan rematou por cima da baliza benfiquista e a equipa de arbitragem assinalou um fora de jogo a Gelson Martins que o deixava cara-acara com o guarda-redes do Benfica.

 

Com este resultado, Sporting e Benfica ficam empatados com 78 pontos, mas devido à vantagem no confronto direto, a equipa de Alvalade passa para o 2º lugar. Má arbitragem de Carlos Xistra que cometeu erros grosseiros com influência no resultado. Fez vista grossa a duas faltas para grande penalidade a Rúben Dias, ambas na primeira parte, uma sobre Mathieu e a outra sobre Bas Dost. Já no segundo período, perdoou-lhe a expulsão, por uma flagrante cotovelada em Gelson Martins. Incompreensível como Rubén Dias faz faltas sucessivas em todo o jogo e não vê um único cartão.

 

O resultado do derby lisboeta permitiu ao FC Porto comemorar, já ontem, a conquista do campeonato.

 

A uma jornada do fim o SCP só depende de si próprio para assegurar o 2º lugar, sendo certo que o próximo jogo é com o Marítimo nos Barreiros, um campo tradicionalmente difícil para qualquer equipa.

Ter | 01.05.18

As rendas excessivas da eletricidade.

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Numa altura em que continua adiada a acusação relativa à Operação Marquês, são agora as rendas excessivas da eletricidade a perfilarem-se na agenda mediática.

 

O processo tem nove arguidos, entre eles, o ex-ministro da Economia Manuel Pinho, o presidente-executivo da EDP, António Mexia.

 

O tema tem marcado os vários governos e a discussão política ao longo dos anos. O episódio mais mediático foi a demissão do secretário de Estado da Energia do governo de Passos Coelho, Henrique Gomes.

 

A investigação às rendas excessivas no setor da eletricidade foi aberta em 2012, está a ser conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e decorre no âmbito de um processo que abrange os contratos CMEC (custos de manutenção do equilíbrio contratual) que foram criados em 2004, no Governo de Durão Barroso, na sequência da liberalização do mercado da eletricidade. Neste processo é também investigado o prolongamento da concessão de várias barragens à EDP, em 2007. Este prolongamento permitiu à EDP continuar a receber os pagamentos dos CMEC referentes a estas barragens por muito mais tempo. O ministro da Economia que decidiu os pagamentos dos CMEC e do prolongamento das barragens foi precisamente Manuel Pinho, no Governo de José Sócrates.

 

Mais tarde, quando saiu do cargo, Manuel Pinho foi dar aulas em Nova Iorque, no curso de eólicas da Universidade de Colúmbia, acumulando essas funções com as de administrador do BES Africa. Posteriormente, desviculou-se do BES, negociando uma reforma antecipada que viria a ser cancelada pelo Novo Banco.

 

Na senda do Ministério Público está agora o patrocínio de 1,2 milhões de euros pagos pela EDP à universidade norte-americana de Columbia, através de uma sociedade offshore (a Tartaruga Foundation, com sede no Panamá), dos quais 500 mil euros foram recebidos enquanto era ministro de José Sócrates, o que permitiu que Pinho lá tivesse começado a dar aulas sobre energias renováveis em 2010. As ordens de pagamento terão sido realizadas pelo líder do antigo BES, Ricardo Salgado.

 

Este facto é tanto mais relevante porquanto Manuel Pinho é suspeito de ter tomado um conjunto de decisões em termos de legislação de produção e venda de eletricidade, enquanto titular da pasta da Economia que terão beneficiado a EDP num total de cerca de 1,2 mil milhões de euros. Sendo certo que o BES chegou a ter 3% do capital social da EDP, usufruindo indiretamente desse alegados benefícios enquanto acionista.

 

Refira-se que os portugueses têm de pagar um total de 3,9 mil milhões de euros de custos de eletricidade, entre 2000 e 2020, devido a rendas excessivas, o que significa que isto representa um custo de 390 euros por pessoa, no prazo de duas décadas.

 

No entanto, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches deu luz verde às contas finais feitas pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que reconheceu pagamentos de 154 milhões de euros à EDP, menos 102,5 milhões que os cálculos pedidos pela elétrica. As contas da empresa liderada por António Mexia apontam para valores a receber entre 256,5 milhões de euros e 271 milhões. A diferença de mais de 100 milhões de euros poderá levar a EDP a contestar nos tribunais os pagamentos.

 

O corte destas rendas terá certamente impacto direto nas tarifas de eletricidade, ao baixar os custos do sistema elétrico, pagos através da fatura da luz e  e que faz com que Portugal seja dos países com a fatura elétrica mais alta,  o que contradiz a afirmação de António Mexia: «A eletricidade não é cara. As casas é que são mal construídas». A eletricidade é de facto cara  por más decisões políticas.