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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Qua | 07.11.18

Sobre as Touradas

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A ministra da Cultura, Graça Fonseca, interveio no Parlamento sobre o tema “Tauromaquia” e ao longo da discussão foi várias vezes questionada sobre a diferenciação de critérios na proposta de redução da taxa de IVA de 13% para 6% em espetáculos artísticos e sobre as afirmações de que «a tauromaquia não é uma questão de gosto, é uma questão de civilização». A ministra não recuou na sua posição, insistindo que «há valores civilizacionais que diferenciam políticas».

  

No seu comentário semanal na TVI, Miguel Sousa Tavares (MST), defendeu o sector da tauromaquia e a componente cultural. Está no seu direito. Afinal gostos não se discutem. O que já parece mais discutível é a argumentação de Sousa Tavares: «civilização, o civismo e o gosto é tudo subjetivo», destacando que está a «crescer uma perseguição às touradas» iniciada e incentivada por André Silva, o deputado do PAN que «sozinho aterroriza todo o Parlamento». «Ele mete mais medo do que um touro selvagem na arena», disse ainda MST, esclarecendo que «qualquer ditadura imposta em nome do gosto de uma maioria é sempre uma ditadura e é perigosa».

 

Sousa Tavares destacou ainda a importância da tauromaquia no que à «cultura e economia» dizem respeito, lembrando que «há muita gente que vive disto» e que este é um sector que «dá emprego a muita gente». Sim, e depois? É por essa razão que se deve manter as touradas? Há muito gente que vive à conta de expedientes ilícitos e a economia paralela, certamente, dá emprego a muita gente. É essa a razão por que deve continuar? Não me parece!

  

«Dizem que é para não impressionar os menores com a crueldade do espetáculo, mas os menores veem coisas muito piores em horas normais na televisão até mesmo nos videojogos e nas redes sociais», salientou MST, acrescentando sobre uma corrida transmitida pela RTP  que não foi  «para proteger os menores da crueldade do espetáculo, é porque a corrida foi de tal maneira bonita que têm medo que os jovens gostem da tourada». Simplesmente patético este tipo de argumentação!

 

E depois, continuou :«essa é a verdade, foi um ato de censura. É assim que começa, uma maioria impõe a sua ditadura do gosto e é assim que nascem os Bolsonaros. Não é esta uma decisão típica de Bolsonaros também?», rematou MST.

 

Mas qual censura? Qual ditadura? Ditadura é retirar o touro do seu habitat, enfia-lo numa camioneta durante horas (onde perde 10% do seu peso), ficar fechado outras tantas horas numa praça de touros, ver as pontas dos seus chifres serem serradas a frio, ser picado, torturado e depois ser lançado numa praça, para gáudio de uma minoria aos berros que se entusiasma de cada vez que um ferro que lhe perfura a carne. Isto sim é barbárie!

  

Sou absolutamente contra as touradas e entendo que nem todos os aspetos culturais sejam recomendáveis. A prática de espetáculos ou desportos que envolvem atos de crueldade assumidos sobre pessoas ou animais são, na verdade, reprováveis.

 

Não se trata de gostar ou deixar de gostar de tourada; o que está em causa é o reconhecer que se trata de um espetáculo em que os protagonistas são forçados a entrar e, torturados sem qualquer motivo lógico e racional.

 

Por isso, espero ver esta prática desaparecer a breve trecho e que, ainda por cima, vive à conta dos dinheiros públicos, dos cofres dos municípios e da RTP que transmite e promove estes espetáculos em horário nobre. Se os contribuintes não pagassem através dos seus impostos a tauromaquia, possivelmente ela já teria desaparecido. Aliás, o Estado não pode nem deve patrocinar qualquer tipo de violência, seja ela de que índole for.

 

Já as afirmações do BE e da deputada Mariana Mortágua, confesso que também não percebo muito bem. Ou seja, como é possível alguém afirmar que sendo tortura, deve pagar um IVA de 23%? Há qualquer coisa de estranho nesta linha de raciocínio. É quase como se concordássemos que a tortura e a barbárie pudessem ser toleradas desde que devidamente taxadas! Não há que manter, baixar ou aumentar o IVA destas práticas. Deve, isso sim, pugnar-se pela a extinção desta barbárie. A tourada é um ato torpe de crueldade e covardia de animais indefesos.