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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 24.02.20

Português infetado com coronavírus

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Desde o final de 2019 que o número de contágios e mortes associados ao coronavírus não pára de aumentar. O surto começou na China e já chegou a outras latitudes. Na Europa, Itália é o ponto mais crítico, com infeções em três regiões no Norte do país (Lombardia, Véneto e Piemonte) o que levou ao cancelamento do Carnaval em Veneza.

 

Por cá, o primeiro português infetado é tripulante do navio de cruzeiro atracado no Japão. O homem de 41 anos, natural da Nazaré, trabalha a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess.

 

Adriano Luís Maranhão faz parte da tripulação do navio há cinco anos onde exerce funções como canalizador. Natural da Nazaré, conheceu o diagnóstico às 14h deste sábado. Está no navio desde dia 13 de dezembro. Inicialmente não apresentava sintomas, contudo o estado de saúde do português piorou, de acordo com a sua mulher, Emmanuelle Maranhão, que afirmou que o marido ainda não obteve qualquer ajuda das autoridades. «Tem mais febre, frio, dor e está mais abatido».

 

Emmanuelle Maranhão afirma que apesar de a embaixada portuguesa no Japão dizer que vai levar Adriano Maranhão para o hospital, ainda não o fez, criticando a inação da diplomacia.

 

Adiantou ainda que não consegue estabelecer contacto com a empresa, Princess Cruise, a quem competiria, em primeiro lugar, retirar os seus funcionários do navio.

 

Das 3711 pessoas que teve a bordo - tendo em conta que agora só estarão ali agora os tripulantes - o Diamond Princess registou, até agora, 630 doentes infetados com o vírus. O navio está de quarentena desde o dia 5 de fevereiro e tornou-se a maior fonte de contágio fora da China.

 

É absolutamente lamentável a atitude das autoridades nipónicas de não criar cordões sanitários de evacuação que permitam o desembarque dos tripulantes. Deviam tomar medidas no sentido de serem evacuados todos os tripulantes para ser tratados, bem como todos os  passageiros, ainda que não contaminados, deveriam ser repatriados e colocados em quarentena para sua segurança.

 

Quanto mais tempo permanecerem fechadas no navio mais probabilidades de têm de ficar infetadas e agravarem o seu estado de saúde, isso parece-me evidente.

Dom | 23.02.20

Vasco Pulido Valente (1941-2020)

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Numa semana  marcada por algumas mortes de figuras ligadas à política, casos de  Pina Moura e do o deputado do PS, João Ataíde das Neves,  Vasco Pulido Valente também partiu.

VPV era um espírito livre, uma mente brilhante, com uma lucidez incomum. Corrosivo e incómodo q.b., se calhar exagerando algumas vezes, sabia agitar, com sabedoria e sem medos, as águas de um país por vezes cinzento.

A morte de Vasco Pulido Valente deixa, indubitavelmente, um vazio, ao nível da crítica social e política, impossível de preencher.

Seg | 17.02.20

Marega alvo de insultos racistas

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Ontem, no jogo entre o Vitória de Guimarães e o Futebol Club do Porto, o jogador Moussa Marega foi alvo de insultos racistas. Aconteceu poucos minutos depois de Marega ter marcado o segundo golo do FC Porto na partida. Nos festejos o jogador foi apupado e várias cadeiras foram arremessadas para o relvado. 

 

Marega, visivelmente perturbado e perante a passividade do árbitro da partida, abandonou o terreno do jogo em Guimarães. Companheiros de equipa e até o treinador, Sérgio Conceição, ainda tentaram demovê-lo, mas o avançado maliano quis mesmo por sair, acabando por ser substituído.

 

O que se passou com Marega foi inadmissível. As instâncias desportivas que vieram de imediato condenar estes atos têm que ter mão pesada para os infratores. Não nos esqueçamos que racismo é crime.

 

Aliás, estes fenómenos de racismo no desporto não são inéditos. Nos últimos anos, vários clubes europeus têm sido palco de episódios de racismo. Há uns tempos, o avançado italiano Mario Balotelli agastado com os insultos racistas que recebia dos adeptos, pegou na bola e chutou-a para a bancada. Depois disso, o jogador do Brescia dirigia-se para o balneário, tendo sido travado tanto por colegas como pelos adversários. A partida foi interrompida pelo árbitro que obrigou a que fosse emitido um comunicado pelo speaker do estádio. Foi dito que caso os adeptos continuassem com insultos racistas, as equipas abandonariam o campo.

 

Pena que o árbitro, Luís Godinho, que arbitrou ontem o encontro em Guimarães não tenha tido o mesmo comportamento.

Qua | 12.02.20

Eutanásia

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«Está à porta a discussão e provável aprovação da despenalização da eutanásia em Portugal e eu não sinto folia nenhuma no facto e não julgo que seja de celebração fácil.

 

Julgo que nenhum sistema pode avançar com a eutanásia sem garantir que opera cuidados paliativos de modo irrepreensível. E nenhum sistema pode ser decente se não se precaver contra claros suicídios, voluntários ou forçados, que não se prendam com lúcidas e dignas decisões.

 

A vulnerabilidade das pessoas, por doença ou velhice, favorece estados depressivos e de abandono que podem propiciar a fantasia da morte. Tendo em conta o horrível que é a solidão, e tendo em conta o horrível de muitas famílias, pouco solidárias ou disfuncionais, confusas ou oportunistas, imagino bem que pelo cansaço ou pela fúria, por vingança ou ganância, muitos elegíveis para a eutanásia se verão encurralados, como se pedir a morte fosse a única coisa decente a fazer.

 

Horroriza-me que, aberta a oportunidade institucional de morrer, usemos a morte como resposta obrigatória para aqueles que viveriam apaziguados num contexto de cuidado e carinho.

 

Não sou, naturalmente, contra a opção lúcida de alguém que, assistido por uma bateria de médicos especialistas, encontre apenas na morte uma solução. Não posso ser contra a liberdade das pessoas de mente saudável. O que me parece impossível de conter é a precipitação para a morte dos que se deprimem, dos que se fragilizam sobretudo por falta de um sistema de acompanhamento humano, afetivo e pragmático, que os manteria justificados na vida.

 

Na Holanda já serão cerca de 20 casos diários de eutanásia por dia. Mais. Pretende-se disponibilizar o comprimido Drion gratuitamente às pessoas com mais de 70 anos, oferecendo-lhes a possibilidade de se suicidarem sem mais burocracia ou dificuldade. Ao invés de se investir na valorização das pessoas mais velhas, ocupando-as e acompanhando-as, cria-se lentamente a ideia de que são uma excrescência da sociedade. Considero um horror. A mudança de paradigma, passando de uma humanidade de resiliência para uma de suicidas, só pode aproveitar a estados onde a dimensão social faliu e se espera abreviar encargos por folia com a morte.

 

O que mais vejo são velhos à míngua de atenção, apressados para a morte porque parecem servir para nada. A tristezinha dos mais novos anseia pelo sossego, pelo quarto vago, pela despreocupação, pela herança. Fácil será de imaginar que, progredindo sem cuidado na despenalização, chegaremos a muito suicídio que não será senão uma forma de homicídio perpetrado pelo interesse de alguns e pela desfaçatez de todos.».

 

Valter Hugo Mãe

 

Ter | 11.02.20

Parasitas foi a grande surpresa dos Óscares 2020

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O filme de guerra 1917, de Sam Mendes,  era o grande favorito para vencer o Óscar na categoria de Melhor Filme, na cerimónia dos óscares de 2020, mas a produção sul-coreana realizada por Bong Joon Ho foi a grande surpresa da noite dos Óscares, tornando-se a primeira produção em língua estrangeira a ganhar na categoria nas 92 edições do certame.

 

O sucesso não surgiu do nada. O filme já havia arrecadado uma série de reconhecimentos importantes. Ainda assim, surpreendeu os críticos de cinema a apostadores. E a vitória foi avassaladora. Ganhou estatuetas nas categorias de Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Filme Estrangeiro.

 

Ainda não vi o filme. Não gosto de ver filmes 'oscarizados' – vá-se lá saber porquê -, mas este conto ver.

 

Quanto ao mais tudo previsível. Renée Zellweger foi a melhor atriz, por Judy e Laura Dern, a melhor atriz secundária, por Marriage Story. Sem surpresas, Joaquín Phoenix ganhou a estatueta pela sua fabulosa interpretação em Joker e Brad Pitt, a de ator secundário por Era Uma Vez em Hollywood, confirmaram o favoritismo.

 

Eis a Lista completa de vencedores:

 

Melhor Filme

“Parasite” 

Melhor Ator

Joaquin Phoenix, “Joker”

Melhor Atriz

Renee Zellweger, “Judy”

 Melhor Realização

Bong Joon Ho, “Parasite” 

Melhor Filme de Animação

“Toy Story 4” 

Melhor Atriz Secundária

Laura Dern, “Marriage Story”

Melhor Guarda Roupa

“Little Women”, Jacqueline Durran 

Melhor Mistura de Som

“1917″ 

Melhor Edição de Som

“Ford v. Ferrari” 

Melhor Curta de Animação

“Hair Love”

Melhor Curta Metragem

“The Neighbor’s Window” 

Melhor Banda Sonora Original

“Joker”

Melhor Ator Secundário

Brad Pitt, “Once Upon a Time… in Hollywood” 

Melhor Montagem

“Ford v Ferrari”, Andrew Buckland e Michael McCusker

Melhor Filme Internacional

“Parasite” 

Melhor Curta Documental

“Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)” 

Melhor Documentário

“American Factory”

Melhor Design de Produção

“Once Upon a Time… in Hollywood”, Barbara Ling e Nancy Haigh 

Melhor Cinematografia

“1917”, Roger Deakins

Melhores Efeitos Visuais

“1917” 

Melhor Caracterização

“Bombshell” 

Melhor Canção Original

“I’m Gonna Love Me Again”, Rocketman 

Melhor Argumento Adaptado

“Jojo Rabbit”, Taika Waititi 

Melhor Argumento Original

“Parasite”, Bong Joon Ho e Han Jin Won

 

 

 

 

 

Qui | 06.02.20

Kirk Douglas (1916 - 2020)

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Morreu hoje uma lenda do cinema. Tinha 103 anos. Com uma carreira de mais de seis décadas, Kirk Douglas foi um dos mais conhecidos rostos de Hollywood.

 

A sua carreira começou em 1946, quando depois de uma insistência de Lauren Bacall, estreou-se no cinema em O Estranho Amor de Martha Ivers.

 

Conhecido pelo seu feitio difícil, pouco predisposto a cedências, foram poucos os realizadores que quiseram repetir a experiência de o convidar para os seus filmes. Mesmo assim, Kirk Douglas participou em 80 filmes, a que se somam dúzia e meia de colaborações na TV. Entre os filmes mais famosos destacam-se Sede de viver (1956), em que interpretou Van Gogh, Duelo de titãs (1959), Spartacus (1960) e Sete dias de maio (1964).

 

Nomeado três vezes para o Óscar de Melhor Ator, bem como por duas vezes como produtor por - O Grande Ídolo, Cativos do Mal e A Vida Apaixonante de Van Gogh, filmes lançados entre 1949 e 1956 -, Douglas reconheceria que os seus piores momentos na gestão da sua carreira terão coincidido com as recusas dos papéis entregues a William Holden em Inferno na Terra e a Lee Marvin em A Mulher Felina, ambos passaportes para a desejada estatueta atribuída pela Academia. No entanto foi em 1996 que a Academia de Hollywood o imortalizou com o Óscar honorário, que recebeu das mãos do realizador Steven Spielberg.

 

Em 2004 abandonou o cinema. Uma das últimas aparições públicas foi nos Globos de Ouro de 2018.

 

Douglas, pai do também conhecido ator Mickael Douglas era um filantropo, tendo-se associado a várias causas: quando fez 99 anos, doou, juntamente com a sua mulher Anne Buyden, mais de 50 milhões de euros para centros de atendimento e fundos relacionados com o cinema.

Qua | 05.02.20

As declarações de Abel Matos Santos

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As imagens contidas no cartoon de Cristina Sampaio no Público podem ser injustas para o CDS, porque «um dirigente não faz uma instituição», como bem referiu Adolfo Mesquita Nunes, mas as palavras proferidas por Abel Matos Santos que integrava a nova Comissão Executiva do partido são demasiadamente graves e elucidativas da viragem do CDS à direita mais radical.

 

Toda a polémica com Abel Matos Santos teve início com um artigo do Expresso, há uma semana, que revisitava as publicações e comentários no Facebook, entre 2012 e 2016, do antigo porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), o mini-Tea Party centrista, nos quais chamava ao cônsul Aristides Sousa Mendes, que emitiu milhares de vistos para judeus durante a II Guerra Mundial, “agiota de judeus”, fazia odes a Salazar e qualificava a PIDE como “uma das melhores polícias do mundo”.

 

Questionado por aquele semanário, Abel Matos Santos refere que todas as publicações tiveram "o seu contexto", enquanto que a direção do CDS diz desconhecer as declarações – e lembra que o pensamento do dirigente já era conhecido do partido. Ora, se era conhecido por que razão o convidaram a fazer parte da Comissão Executiva?

 

Nas redes sociais as reações não tardaram, criticando veementemente o pensamento de Abel Santos. Perante a situação, no final da semana passada, o ex-vice-presidente do CDS-PP e ex-ministro António Pires de Lima exigiu  publicamente ao novo líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, que retirasse a confiança política a Abel Matos Santos.

 

A polémica estava instalada. Francisco Rodrigues dos Santos ainda tentou, numa primeira fase, segurar o seu dirigente, mas, perante a pressão interna e externa, não teve outro remédio senão ceder. Em comunicado divulgado a comissão executiva dos democratas-cristãos explicitou que no partido «não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o antissemitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade», que teve como consequência a demissão de Abel Santos.

 

Abel Matos Santos abandonou a direção do CDS, ao fim de duas semanas. O psicólogo-clínico integrou as listas apresentadas pelo atual líder, tendo sido eleito em congresso vogal da comissão executiva do CDS-PP.

 

Seg | 03.02.20

Chapeau, Bruno fernandes!

 

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O Sporting sofreu mais uma derrota frente ao Braga, depois de um jogo em que o árbitro, Jorge Sousa, condicionou e de que maneira os jogadores leoninos, mostrando seis amarelos na primeira parte. Mas não é isso que hoje pretendo aqui realçar.

 

O que me apraz registar é que na bancada estava um adepto especial – Bruno Fernandes – e que vão faltando palavras para definir este enorme jogador e este grande sportinguista.

 

Depois de uma semana atribulada, em que jogou na 2ª feira pelo Sporting, na 4ª feira viajou para Manchester, fez um treino ao serviço do clube inglês, foi titular pelo Manchester United no sábado no jogo contra o Wolverhampton, em que fez uma bela partida sendo mesmo considerado o homem do jogo, Bruno regressou no domingo a Portugal e assistiu nas bancadas do Municipal de Braga, o encontro entre SC Braga e Sporting, ao lado do seu empresário, Miguel Pinho.

 

Isto mostra que as palavras que proferiu na despedida: «não sou leão desde o berço, mas serei a partir de agora», garantindo que irá levar o clube e os adeptos no coração, não foram apenas palavras de circunstância. Bruno Fernandes mostrou todo o seu amor à camisola e ao clube de Alvalade, coisa que muitos jogadores formados no Sporting jamais fizeram.

 

Chapeau, Bruno Fernandes!!