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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sex | 29.05.20

A 'bazuca' europeia

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O programa Nova Geração UE está dotado de um ambicioso pacote 750 mil milhões de euros, dos quais 500 mil milhões em subvenções e 250 mil milhões em empréstimos com condições mais favoráveis, e visa dar respostas aos países cuja economia foi mais afetada pela pandemia. O papel do eixo franco-alemão foi determinante para desbravar caminho para a proposta da Comissão.


A medida anunciada por Ursula von der Leyen tem ainda de passar pelo crivo do Conselho e do Parlamento Europeus, para que no início de 2021, durante a Presidência alemã da União Europeia, possa entrar em vigor. Bruxelas admite, ainda assim, que parte das verbas possam ser libertadas a partir do próximo outono.


Portugal poderá vir a receber um total de 15,5 mil milhões de euros em subvenções (distribuídas a fundo perdido) e 10,8 mil milhões de euros sob a forma de empréstimos concedidos em condições favoráveis. No total, 26,3 mil milhões de euros da União Europeia, entre subvenções e empréstimos, para recuperar da crise económica provocada pela pandemia de covid-19.

 

Vários chefes de governo europeus elogiaram a proposta, nomeadamente os chamados “amigos da coesão", tais como os líderes da França, Espanha, Itália, Grécia e Portugal, muito embora tenham tido que de enfrentar as reservas dos líderes da Áustria, Dinamarca, Países Baixos e Suécia, os chamados países “frugais”, pouco amigos de despender verbas a fundo perdido, chegando mesmo a apresentar um plano de estímulo ao relançamento económico da UE que rejeitava qualquer mecanismo de financiamento por dívida comum e defendiam uma distribuição através de empréstimo, mas Von der Leyen insistiu que «o orçamento da UE sempre foi feito de subvenções para investimentos específicos» e reforçou que os subsídios irão «multiplicar a prosperidade para todos».


Porém, caso este envelope financeiro seja aprovado, Portugal poderá receber 19 milhões por dia para recuperar da crise. É a maior dotação de sempre. 

 

Portugal, através desta bazuca europeia que nos poderá cair no colo, ficará em ótimas condições para responder à crise económica gerada pelo Covid – 19, assim saibamos gerir com rigor esta verba que nos será atribuída.

Dom | 24.05.20

Os mortos não são números.

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O jornal norte-americano The New York Times dedica hoje a primeira página da edição a mil às  vítimas da Covid 19, para assinalar a  passagem do número de 100.000 mortes nos Estados Unidos.

«Estas mil pessoas representam apenas um por cento do total. Nenhuma delas era apenas um número», escreve o jornal na capa.

De assinalar que os Estados Unidos da América são o país mais afetado pela pandemia de coronavírus, tanto em número de mortes quanto em casos, com 97.087 mortes para 1.621.658 casos, de acordo com os dados mais recentes.

Qui | 21.05.20

Livraria Barata luta pela sobrevivência

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Leio que a Livraria Barata, em Lisboa, está a lutar pela sobrevivência. Conhecida também por vender livros proibidos no regime salazarista, atravessa um período complicado, fruto do período de confinamento determinado pelo estado de emergência, que a deixou em risco de fechar.


Por isso está a preparar um plano de reestruturação, inclusivamente lançar uma campanha de crowdfunding. A criação desta angariação de donativos através de uma plataforma na internet já está a ser preparada e os detalhes vão ser anunciados brevemente.


Deste modo, a Barata procura dar resposta imediata ao aumento de procura que se verificou a partir do fim de semana passado, na sequência dos alertas feitos pela loja histórica da avenida de Roma, em Lisboa, para a sua grave situação financeira e a possibilidade de ter de encerrar definitivamente as portas.


A Livraria Barata é uma das melhores livrarias da cidade e faz parte da história pessoal de muitos lisboetas.

 

Por favor ajudem, se puderem.

Qua | 20.05.20

Estado apoia grupos de comunicação

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Ficámos a saber que parte do dinheiro dos nossos impostos foi distribuído pelo Governo sob a forma de "apoios à comunicação social", um setor fortemente afetado pela crise provocada pela Covid-19. Os apoios do Governo previstos foram publicados ontem em Diário da República. No total, serão investidos 15 milhões de euros – 1,7 milhões de euros para a imprensa regional e 11,3 milhões para os órgãos nacionais – em compra antecipada de publicidade.


Quanto às entidades públicas que vão comprar a publicidade, a Direção-Geral da Saúde tem a maior fatia, com uma verba de sete milhões de euros. O Instituto do Turismo de Portugal, as Secretarias Gerais dos Ministério da Administração Interna, Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia têm uma verba prevista de um milhão e meio de euros.


No documento publicado ontem em Diário da República não são, porém, esclarecidos quais os critérios adotados para atribuição dos valores a cada órgão de comunicação social, o que é no mínimo estranho. Quando o Estado intervém deve exigir garantias.


Acresce que num período de crise financeira como atravessamos, toda a despesa pública deveria ser imbuída pela salvaguarda de bens superiores e prioridade bem definidas, sendo legitimo questionar opções como esta.


Mais estranho ainda são estes apoios terem sido patrocinados pelo ministério da Cultura, a qual privilegiou apoiar empresas de comunicação social em detrimento, por exemplo, da restauração, do comércio local, dos agentes artísticos e agentes culturais que, como se sabe, passam por momentos de extrema aflição.


Governar é também escolher caminhos. Sabemos bem que o Estado não pode chegar a todos, mas é questionável que o faça, à custa do dinheiro dos contribuintes, chegando apenas a alguns. Ainda por cima por via de uma medida como é a compra de publicidade "institucional".

Seg | 18.05.20

Marcelo a ser Marcelo

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Como é do conhecimento público, Marcelo Rebelo de Sousa, seja de verão ou de inverno, gosta de  mergulhar na Praia dos Pescadores, em Cascais, onde vive.

 

As praias portuguesas vão ter um controlo apertado para evitar a sobrelotação e diminuir o risco de contágio da Covid-19, mas Marcelo Rebelo de Sousa já tem "um esquema" para evitar aglomerados.


Ontem, numa visita ao mercado municipal da Ericeira, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que planeia ir a banhos logo no dia em que a época balnear abrir, ou seja a 6 de junho. «Nesse dia logo de madrugada… Quer dizer, não sei se não farei uma coisa mais subtil que é, nesse dia, se estiver bom tempo, ir mergulhar logo à meia-noite, na primeira hora! Porque na praia onde nado vai toda a gente! Às 10 horas da manhã já está completamente cheia.», disse o presidente da República.


«Já pensei um esquema com uns pescadores amigos. Quando a praia estiver muito cheia, arranjo maneira de me alugarem uma chapa a remos e eu vou pela plataforma dos pescadores e fico ali no mar em frente à praia. Mas pronto, praia é praia. Praia tem areia. Aquela praia vai ser muito difícil porque é mesmo muito apertada, portanto a melhor solução é à meia noite, sem se dizer nada... Como sou notívago, mergulho!», terminou.

Qui | 14.05.20

A ópera bufa da demissão de Centeno

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Ao que parece era mesmo inevitável a injeção de 850 milhões de euros no Novo, no timing e nos termos em que foi feita.


Em 2017, 2018, 2019 e 2020 os pagamentos ao Fundo de Resolução do Novo Banco foram aprovados na Assembleia da República (PS, PCP e BE) através dos respetivos orçamentos de Estado, para serem concretizados no mês de maio de cada ano. Nestas condições e devido aos compromissos do estado português, os incumprimentos dariam origem a graves perturbações no sistema bancário, nada tendo a ver com eventuais auditorias ao Novo Banco.

 

Uma coisa é certa: não há qualquer norma que faça depender as transferências anuais para o Novo Banco de uma auditoria, nem surto epidémico que mude essa realidade. António Costa, sabia destas injeções de capital anuais até se esgotar o plafond, mas equivocou-se no Parlamento ao afirmar que não sabia ou esperava o final da Auditoria para antes dessa data.

 

Por seu lado, o ministério das Finanças fez aparentemente tudo o que tinha a fazer e só pecou por não ter informado o primeiro-ministro de que a operação iria realizar-se (um erro, ainda assim, menor, face à irresponsabilidade financeira de não a fazer, nas palavras de Mário Centeno).

 

O Presidente da República colocou-se ao lado do primeiro-ministro dizendo que ele «esteve muito bem» ao remeter nova transferência para o Novo Banco para depois de se conhecerem as conclusões da auditoria que abrange o período 2000-2018, com uma crítica implícita a Mário Centeno e com António Costa a sorrir, dizendo não ter «nada a acrescentar».


No Parlamento, a Direita e uma parte significativa da Esquerda julgou ter chegado o momento de derrubar Centeno, que ainda nesse mesmo dia, ouvido no Parlamento, foi claro ao dizer: «O Governo dessa altura demorou três anos para fazer uma Resolução. Esteve à espera dos banhos de 2014 para fazer a intervenção. Uma intervenção e uma Resolução incompetentes, sem qualquer auditoria, que criou um banco mau e um banco péssimo».

 

À tarde Rui Rio veio pedir a demissão do ministro das Finanças. À noite alguns comentadores de vários canais concentrados no telejornal comentavam que Centeno não tinha condições para se manter na pasta das Finanças e simultaneamente faziam prognósticos com o desfecho da reunião que à mesma hora juntava Centeno e o primeiro-ministro em São Bento.

 

Finalmente tudo acabou bem: os dois abandonaram S. Bento e uma nota esclarecia: «O primeiro-ministro reafirma publicamente a sua confiança pessoal e política no Ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno.»

 

Para já Costa "cativou" o seu ministro das Finanças. Mário Centeno terminará o mandato de líder do Eurogrupo a 13 de julho e aí ficará livre para sair definitivamente do Ministério das Finanças, por sua iniciativa, após a elaboração e aprovação do Orçamento Suplementar e após a realização do Conselho Europeu, sendo certo que sabe-se há muito que Centeno não ambiciona ficar por muito mais tempo à frente do Ministério das Finanças e nunca escondeu o desejo de substituir Carlos Costa no Banco de Portugal.

Qua | 13.05.20

Santuário de Fátima em tempo de pandemia

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Um silêncio sepulcral invade neste 13 de maio o Santuário de Fátima, colorido de cinzento pela neblina matinal e da chuva que ameaça despontar a qualquer momento. Não o silêncio habitual da fé e das orações que impele ao recolhimento. É um silêncio imposto pelo vazio de fiéis, pelo vazio de celebrações e pelo vazio dos cânticos que se fazem habitualmente ouvir no recinto e que amplificam as mensagens de esperança e de paz.


Este ano, sem a habitual multidão de peregrinos que costuma invadir o Santuário de Fátima, durante os dias 12 e 13 de maio, para as habituais celebrações que comemoram as aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos, pela primeira vez na sua história, Fátima terá apenas uma comemoração simbólica, devido às condições impostas pela pandemia do Covid-19.


O Santuário de Fátima estará vazio, mas lá caberá o mundo inteiro, em especial o Papa Francisco e todos os profissionais que estão na linha da frente da luta contra a pandemia, como afirmou o cardeal D. António Marto, transmitindo uma mensagem de esperança aos cristãos, e convocando-os a encararem este período com «um olhar renovador».  Para o bispo de Leiria-Fátima, «a pandemia é um chamamento à conversão espiritual mais em profundidade. Um chamamento aos fiéis cristãos, mas também a todos os homens, que permanecem criaturas de Deus. O vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solidariedade».

Dom | 10.05.20

O caso Valentina

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Valentina, a menina de 9 anos que estava desaparecida desde quinta-feira de manhã em Peniche, foi encontrada morta este domingo de manhã, num descampado perto de um eucaliptal, em Óbidos.


O pai e madrasta foram detidos ainda durante esta manhã para averiguações. Ambos estão indiciados pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver.


A Polícia Judiciária acredita que a morte da menina terá acontecido na habitação do pai, durante o dia de quarta-feira. As causas do homicídio ainda estão a ser apuradas.


Não há palavras para descrever o horror e a monstruosidade perante um crime destes. Esperemos que se apurem os factos, esperando que as autoridades forenses, policiais e judiciais possam fazer o seu trabalho e construir um processo sem incidentes nem falhas e finalmente se faça justiça. Porque um caso destes tem que ter um desfecho exemplar.


A tragédia que levou à morte da pequena Valentina às mãos do pai e da madrasta, deveria levar-nos a meditar sobre as circunstâncias em que é decidida a guarda partilhada de crianças.

 

Não é defensável o direito de as mães ficarem sempre com a guarda da criança, como também não é correta a imposição de partilha parental, sem atender à vontade dos menores. Muitos pais optam por essa via para evitar a pensão de alimentos.

 

Ora, se uma criança entra em negação e não quer estar junto de um dos progenitores,  não só é cruel obriga-la a estar num ambiente que lhe é hostil, como pode, em última instância, conduzir a situações como esta.

 

A pequena Valentina alegadamente não gostava de estar em casa do pai, já tinha fugido uma vez e pedia insistentemente para voltar para a mãe. Mas ninguém lhe deu ouvidos. O mais provável é terem achado que o pai tinha tanto direito à filha como a mãe. Deste modo, corre-se sempre o risco, como no caso patente, de haver um pai que, num ato de loucura, se enfureça ao ponto de estrangular a própria filha. 

 

Já que nada poderá trazer a menina de volta, pelo menos é importante tentar evitar este sofrimento a outras tantas Valentinas apanhadas inocentemente no meio de psicopatas, pessoas disfuncionais que no âmbito do seu mais profundo egoísmo não hesitam em matar os próprios filhos para resolver os seus problemas comezinhos.

 

Qualquer um pode gerar uma criança. Mas muitos não possuem, manifestamente condições emocionais e mentais para assumir essa responsabilidade.

Qui | 07.05.20

O populismo de André Ventura

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Em entrevista ao jornal "i" o deputado do Chega, André Ventura, defendeu um «confinamento específico para a comunidade cigana» em Portugal, sustentado no facto de que que esta comunidade «se acha acima das leis deste país», desrespeitando as regras sanitárias e de autoridade pública, o que significa, para Ventura é um problema sério.

 

Não sei o que que André Ventura tem contra a etnia cigana, já que são várias as manifestações que lança contra os ciganos.

 

Ricardo Quaresma, com origem cigana, como se sabe, recorreu à rede social facebook, para repudiar o «populismo racista» de André Ventura, afirmando que é «cigano como todos os outros ciganos e português como todos os outros portugueses». «Não sou nem mais nem menos por isso», lembra, defendendo: «acredito que somos todos iguais e todos merecemos na vida as mesmas oportunidades independentemente do berço em que nascemos».

 

Para Quaresma, André Ventura quis «virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder», ambição essa que «a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade».

 

André Ventura reagiu, afirmando: «é lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política. Espero que as autoridades do futebol não deixem que isto se torne o novo normal».

 

Perante esta resposta de André Ventura, Ricardo Quaresma voltou a comentar o assunto. Num direto no Facebook, o desportista mostrou-se surpreendido pelos argumentos usados pelo político. «Vi a resposta do senhor André Ventura, sinceramente, não percebi. Por ele dizer que os jogadores não devem meter-se na política, ele não pode esquecer-se que ficou conhecido por defender o clube dele. Ficou conhecido por falar de futebol», afirmou, garantindo de seguida: «Pago impostos em Portugal, por isso tenho direito a dar a minha opinião. Ninguém me vai calar, nem ele, nem ninguém. Esse tema está fechado, quero é que acabe essa parte dos ‘racismos’. Para mim é difícil, tenho um pai que é cigano e uma mãe africana. Não vou alimentar mais esta situação, mas não é por ser jogador que não posso ter a minha opinião».

 

Não deixa de ser verdade que Ventura, doutourado em Direito, que consecutivamente desrespeita a Constituição da República Portuguesa, é político e simultaneamente comentador de futebol na CMTV. À boleia da visibilidade televisiva e cavalgando a onda do populismo conseguiu entrar no mundo da política e formar um partido. Maior promiscuidade que isto?

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