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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Ter | 30.06.20

Aumento do número de infetados na região de Lisboa

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A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a região do país que mais casos de Covid regista todos os dias – números têm aumentado, sobretudo, desde o desconfinamento.

 

Importa, por isso, perceber o que realmente falhou em Lisboa. Houve, a meu ver, falhas, omissões, falta de capacidade de planeamento e excesso de otimismo.

 

Quando começaram a ser conhecidos os indicadores de aumento de novos infetados, as razões apresentadas foram claramente insuficientes ou erráticas no diagnóstico da situação. Atribuíram-se culpas ao desconfinamento e ao aumento de testes nesta zona do país, quando na verdade houve uma falta de um planeamento estratégico de desconfinamento que considerasse a especificidade de cada região. Há também em Portugal, como é evidente,  assimetrias regionais no que toca ao Covid.

 

As mensagens das autoridades de saúde foram desacertadas. Disseram uma coisa e o seu contrário o que baralhou a população, nomeadamente no uso das máscaras, quando alguns países já tinham adotado estes procedimentos com ótimos resultados.

 

Esteve mal o Governo, a Presidência e as autoridades sanitárias quando deram o seu aval às manifestações do 1º de maio, aos concertos no Campo Pequeno, manifestações antirracismo e outras semelhantes, ao permitir ajuntamentos de pessoas, passando uma vez mais a imagem de que o pior já tinha ficado para trás.

 

Houve claramente uma má gestão dos transportes públicos. A oferta devia ter sido reforçada de modo a que os utentes pudessem ter sido transportados com o devido distanciamento social e em condições de segurança.

 

Se verificarmos o mapa das freguesias mais afetadas de Loures, Odivelas, Amadora, Sintra e Lisboa poderemos observar que aquelas zonas concentram bolsas de pobreza e as desigualdades sociais mais acentuadas da zona metropolitana de Lisboa, com péssimas condições de habitação que não permitem o isolamento dos infetados nem dos que com eles contactam.

 

Verificou-se ainda um descuramento relativamente os imigrantes que residem em Portugal em contextos desfavoráveis que laboram essencialmente na construção civil, em condições precárias, fazendo trabalhos que os autóctones recusam, a preços muito mais baixos, sendo que nesta comunidade o número de casos é acentuado.

 

Devia ter-se contratado mais profissionais de saúde pública de modo a alocar recursos para travar o número de infetados. A falta de técnicos para rastrear os contactos dos infetados permitiu que o vírus se propagasse mais rapidamente e sem controlo na zona da Grande Lisboa. De acordo com o jornal Expresso, o concelho da Amadora, por exemplo, chegou a ter 100 casos para os quais não foi possível realizar um inquérito epidemiológico completo, por falta de técnicos.

 

O Governo decretou o prolongamento do estado de calamidade para as 19 freguesias supostamente mais afetadas pela pandemia que consistirá na limitação de ajuntamentos até 10 pessoas, obrigação de encerramento de portas às 20 horas para todos os espaços onde não sejam servidas refeições, proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço, bem como o reforço do policiamento nas ruas e a aplicação de coimas.

 

Pergunta-se: serão estas medidas suficientes para travar a curva ascendente de novos contágios? Ou será que Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, teria alguma razão ao afirmar que «Lisboa está a colocar em risco todo o país» deixando a sugestão de um cordão sanitário à capital, semelhante ao que foi aplicado em Ovar, muito criticada pelo edil lisboeta?

 

Qui | 25.06.20

Obrigada, Mathieu

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Jeremy Mathieu sofreu uma lesão grave no treino do Sporting de ontem. O jogador de 36 anos voltou a lesionar-se no joelho esquerdo e irá realizar um exame clínico para apurar a extensão da lesão. Uma primeira avaliação, porém, já permitiu concluir que o defesa leonino não terá condições para voltar a jogar em 2020/21.

 

Contratado ao Barcelona em 2017, Mathieu tem 106 jogos realizados pelo Sporting e 9 golos. Ao serviço do Sporting Clube de Portugal contribuiu para a conquista de uma Taça de Portugal (2018/19) e duas Taças da Liga (2017/18 e 2018/19). No seu palmarés destaca-se ainda a vitória na Liga dos Campeões 2014/15, ao serviço do Barcelona.

 

«Pensava terminar a minha carreira de outra forma, mas faz parte do futebol. Lesionei-me esta manhã num duelo. Queria tanto terminar dentro do relvado, mas o destino decidiu de outra maneira. De qualquer forma, passei 19 anos a viver a minha paixão intensamente, com altos e baixos, alegria e choro, vitórias e derrotas e troféus incríveis. Diverti-me muito a fazer o que amo e sempre amarei», começou por salientar o jogador no Facebook, deixando o seu agradecimento «a todos os que me apoiaram durante a minha carreira e que me seguiram no Sochaux, Toulouse, Valencia, Barcelona e Sporting».

 

Obrigado por tudo, Mathieu. Um verdadeiro central, o melhor que vi jogar. Um exemplo de profissionalismo e de pura classe. Vai certamente deixar saudades a todos que gostam de futebol,  e em particular aos sportinguistas que tiveram o privilégio de o ver a jogar de ‘leão ao peito’.

Dom | 21.06.20

Pedro Lima (1971-2020)

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Pedro Lima, bom ator, um homem de família, bonito, como muitos anos pela frente, não resistiu à tentação de viver.

Há mortes que nos chocam porque pensamos que conhecíamos as vítimas e somos traídos pelo julgamento que fazíamos delas. 

A imprensa cor de rosa e as redes sociais criam-nos no fundo a ilusão de que a vida dos famosos é uma vida de sonho, sem problemas, envolta em fama, glamour e felicidade. Porém, por detrás dessa imagem, essas vidas são tão normais como tantas outras e, em alguns casos, com muitos mais problemas do que se possa imaginar.

«A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios», para utilizar um cliché, e para alguns quando o pano cai e os holofotes se apagam, fica a eterna escuridão. Afinal, somos todos humanos, igualmente vulneráveis, pequeninos e insignificantes, que quando a ilusão desaparece, na espuma dos dias, fica um enorme vazio que alguns conseguem superar, outros infelizmente não.

O suicídio de Pedro Lima vem reforçar a urgência de não ignorar ou estigmatizar as doenças mentais. É urgente reforçar a intervenção neste campo. As depressões e doenças do foro psíquico existem, muitas vezes são invisíveis, mas ninguém está imune.

Resta-nos agora honrar a memória do ator. Que descanse em paz.

Sex | 19.06.20

Médico morre com Covid

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Um médico de 68 anos, infetado com Covid-19 por outro profissional de saúde, morreu nos cuidados intensivos do Hospital de S. José onde se encontrava internado há mais de 40 dias.

 

É o primeiro caso conhecido de morte com coronavírus neste grupo profissional, um dos mais afetados pelo surto pandémico em Portugal.

 

Ao ler esta notícia, veio-me à memória as palavras de António Costa: Champions em Portugal é um «prémio merecido aos profissionais de saúde».

 

Infelizmente há aqueles que não vão durar até lá, a tempo de receber o dito prémio.

Qui | 18.06.20

Liga dos Campeões em Lisboa

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Lisboa foi a cidade escolhida pela UEFA para receber a fase dos quartos, meias e final da presente edição da Liga dos Campeões, entre 12 e 23 de agosto. A decisão foi anunciada pelo Comité Executivo da UEFA.

 

Há enormes receios por este evento desportivo ter lugar em Lisboa – a zona metropolitana de Lisboa continua a apresentar um número de casos muito superiores à de outras regiões do país, embora a DGS tenha dito que o país tinha «todas as condições» para acolher a competição. Não podemos baixar a guarda e temos que tomar todas as precauções necessárias.

 

Sabemos que Portugal depende do turismo, como de pão para a boca, e a realização de um evento desta dimensão, realizada no momento em que nos encontramos, é um balão de oxigénio para a promoção e reposicionamento de Portugal como destino turístico.

 

Ainda não é certo que os estádios tenham assistência nas bancadas, de qualquer modo, será sempre um bom cartão de visita que milhões de espectadores assistam ao acontecimento desportivo mais importante do ano, com os olhos postos na capital portuguesa.

 

Seria muito bom que o Turismo de Portugal aproveitasse a oportunidade para promover o nosso país, até para que aqueles que ainda não decidiram onde irão passar férias possam, eventualmente, escolher Portugal como destino turístico.

 

Ter | 16.06.20

Centeno e o Banco de Portugal

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Mário Centeno foi o ministro das Finanças que mais tempo esteve em funções nos últimos anos. Foi simultaneamente presidente do Eurogrupo (ainda é!), conseguiu baixar o défice orçamental de Portugal e alcançou o primeiro superavit orçamental português desde 1973 – foi, sem sombra de dúvidas, o mais competente ministro das Finanças em democracia, daí ser apelidado como o "Ronaldo do Ecofin", pelos seus parceiros europeus.

 

Em 2018 foi considerado o melhor ministro das Finanças do ano na Europa pela revista The Banker, um suplemento do Financial Times e num estudo de opinião realizado em Portugal como o ministro com maior índice de popularidade, coisa rara para um ministro das Finanças. Um lugar na história ninguém lhe tira.

 

Sabia-se que a sua saída estava iminente e que a questão do Novo Banco veio acelerar a sua decisão. Saiu pouco dias antes de uma reunião com os parceiros da zona euro e de lhes comunicar a decisão de abandonar o Eurogrupo.

 

É legítima a sua ambição de ser o próximo governador do Banco de Portugal (BdP), cargo para o qual terá certamente o perfil técnico adequado, embora perceba os conflitos de interesses políticos subjacentes entre Centeno governador e Centeno ministro das Finanças.

 

Agora o que me custa mesmo entender é que no mesmo dia em que António Costa comunicou ao país a decisão de que Mário Centeno iria abandonar o governo, o Parlamento se tenha apressado a preparar um projeto de lei, de iniciativa do PAN,  que impõe um período de nojo de cinco anos (quatro anos de uma legislatura mais um) de modo não permitir que ministros das Finanças transitem diretamente para o BdP, aprovada por todos os partidos, exceto o partido socialista.

 

As intenções do PAN devem sair frustradas, porque a lei não deverá chegar a tempo de criar um travão legal para Mário Centeno, mas o que é lamentável foi o facto de a Assembleia da República ter feito uma lei ad hominem, com o único intuito de travar a ida de Centeno para a Supervisão.

 

Como o primeiro-ministro referiu, «num Estado de direito democrático são inadmissíveis leis com a função de perseguir pessoas. Não costumo comentar iniciativas parlamentares, mas pela gravidade dessa iniciativa não posso deixar de dizer que é absolutamente incompatível com o Estado de direito democrático», afirmou António Costa.

 

A Direita não suporta Centeno porque ele alcançou o que os seus ministros do PSD e CDS nunca conseguiram e tece-lhe duras críticas, nomeadamente o facto de ter agora abandonado o barco numa altura de recessão económica. Alegam que os resultados económicos alcançados foram num contexto favorável de crescimento económico e de taxas de juro zero ou negativas, à custa do baixo investimento público, da degradação os serviços públicos e do aumento da carga fiscal e das cativações. Poder-se-ia sempre contra-argumentar que em circunstâncias idênticas, no passado, e contextos económicos favoráveis, outros não conseguiram os mesmos resultados.

 

De salientar, ainda, que não me lembro de PSD e CDS critarem a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, quando aceitou o cargo de diretora não-executiva de uma financeira de Londres, a Arrow Global que tem como clientes o Santander, o Banif, o BCP, Montepio, entre outros ou de terem levantado sequer a hipótese de existir algum conflito de interesses!

Sab | 13.06.20

Vandalização das estátuas

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Na sequência da morte de George Floyd e da onda de indignação em todo mundo, encabeçada pelo movimento Black Lives Matter, estátuas de figuras ligadas ao imperialismo, colonialismo ou associadas a esclavagistas têm sido derrubadas e vandalizadas. 

 

Nos EUA a estátua de Cristóvão Colombo foi decapitada, assim como em Bristol a de Edward Colston, um traficante de escravos do século XVII;  outras foram pichadas como em Portugal a estátua de Padre António Vieira e de Winston Churchill, em Londres. Há, inclusivamente, petições públicas para demolir estátuas, casos do Padrão dos Descobrimentos e da Torre de Belem, por se considerarem «simbolos alusivos ao racismo colonial».

 

Independentemente das contestações, importa perceber que cada um dos monumentos que tem sido alvo dos destruidores tem a sua história e que todos viveram numa época em que o mundo era dominado por um imperialismo e colonialismo, onde se legitimava a supremacia branca e a opressão dos povos.

 

Winston Churchill, por exemplo, consensualmente visto como uma das figuras mais importantes do Reino Unido e um exemplo para todo o mundo, pela sua intervenção na Segunda Guerra Mundial, pela sua resistência ao regime nazi, como um grande estratega político e um visionário, era um defensor do imperialismo inglês e da supremacia da raça branca, de acordo com vários historiadores.

 

Padre António Viera, cuja estátua foi pichada com a palavra "descolonização" escrita na base do monumento, era um missionário que pregava o cristianismo. Foi um humanista que lutou pelo respeito da dignidade humana, manteve um olhar atento às injustiças do seu tempo, foi perseguido, julgado e preso pela Inquisição. Teve os maiores dissabores e os piores contratempos na Corte e entre os colonos brasileiros - que o odiavam e o acusavam da defender os direitos dos povos indígenas no Brasil e de apoiar e alimentar a escravatura dos povos africanos.

 

Ora, Padre António Vieira que viveu no século XVII podia eventualmente aceitar a escravatura, o que não quer dizer que a aplaudisse ou promovesse. Sabe-se, através dos historiadores, que o Padre ficava constrangido com as desigualdades e maus tratos aos escravos, mas acreditava que havia por detrás destas injustiças um «propósito divino». Sendo um homem da Igreja, que vivia num mundo regido pela Vontade de Deus, admitia que todas as coisas tinham uma razão de ser no âmbito dessa Vontade.

 

Não faz qualquer sentido analisar o passado com os olhos postos no presente. Como não faz sentido, por exemplo, afirmar que D. Afonso Henriques foi um perigoso racista e xenófobo que perseguia muçulmanos para lhes conquistar terras. É sabido que o primeiro rei de Portugal perseguiu os mouros, expulsando-os dos territórios conquistados, mas a luta entre cristãos e mouros era entendida no século XII, por ambas as partes, como algo necessária e um procedimento normal à época.

 

Aliás, quase todas as figuras históricas, hoje, seriam catalogadas de intolerantes, antidemocratas, racistas, colonialistas, machistas e inimigas de toda as minorias. Uma vez que todos os monarcas cometeram várias atrocidades no passado. Porém, tais barbaridades devem ser estudadas, divulgadas e debatidas como factos históricos e não julgadas ou vistas à luz dos valores atuais.

 

Estas considerações podem aplicar-se às recentes manifestações contra estátuas de personagens ditas racistas, sendo por isso, injustificável que estes monumentos que são património cultural da humanidade, erigidas para homenagear figuras importantes da história dos povos, sejam agora destruídas e vandalizadas por um conjunto de néscios que se limitam a replicar a narrativa que assola os EUA, movidos apenas pela impulsividade do momento e desvirtuando a causa do antiracismo. Estes atos, como se sabe, configuram crimes contra o património.

Dom | 07.06.20

Black Lives Mater

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Milhares de pessoas em protestos contra o racismo em Lisboa, Porto e Coimbra desfilaram em homenagem a George Floyd, gritando palavras de ordem como Black lives mater e também em português — As vidas negras importam.

 

O racismo é deplorável e deve ser combatido, sem hesitações. Porém, não obstante a causa ser nobre, nada justifica que se juntassem aglomerados de pessoas, algumas de máscaras, outras não, ignorando as regras de segurança da DGS. Esta leviandade, em tempo de pandemia, é intolerável e imperdoável, porquanto podem por em causa tudo aquilo que, com sacrifício, foi conseguido ao longo de três meses.

 

Convém recordar que a manifestação da esquerda radical espanhola em 8 de março, sob o mote: “o único vírus perigoso é o teu machismo” teve consequências nefastas no país vizinho, com milhares de espanhóis infetados.

 

Ora, sabendo-se que a situação pandémica na área metropolitana de Lisboa é preocupante (os números falam por si) e que a atividade não urgente em hospitais da região de Lisboa foi novamente suspensa, como medida de precaução, desfilar numa manifestação que não respeita elementares regras de distanciamento físico (o mero uso de máscaras não é suficiente para travar a propagação do vírus) não deixa de ser um ato irresponsável.

 

E havia certamente outras formas de dizer NÃO ao racismo, seja através das redes sociais, seja colocando bandeiras à janela, seja por exemplo o país parar por alguns minutos,  a uma determinada hora ou como se fez em Itália, oito minutos em silêncio, sentados numa praça, mas observando os princípios do distanciamento social.

Sab | 06.06.20

Violência no desporto

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Arrancou esta semana o campeonato nacional de futebol, após uma paragem forçada de três meses imposta pela pandemia da Covid-19, com os jogos a serem disputados à porta fechada, sem a presença dos adeptos.

 

Depois da derrota do FCPorto contra o Famalicão e a consequente perda da liderança, os adeptos benfiquistas acalentavam a esperança do Benfica poder vencer frente ao Tondela, com relativa facilidade e comandar a tabela classificativa.

 

Porém, as expetativas dos adeptos e das claques ficaram goradas, após empate de 0-0 na receção ao Tondela e, em consequência ocorreram atos de vandalismo, alegadamente por elementos da claque dos no name boys. O autocarro da equipa benfiquista foi apedrejado, à saída da A2, quando se dirigia para o centro de estágio do clube encarnado, no Seixal, sendo que dois futebolistas tiveram mesmo de ser conduzidos ao hospital para serem observados, na sequência dos estilhaços de vidros que os atingiram.

 

De acordo com a imprensa também as casas de jogadores do Benfica, Rafa, Pizzi, Grimaldo e do treinador Bruno Lage foram vandalizadas com grafitis ameaçadores, os quais apresentaram queixa na polícia judiciária.

 

Depois da invasão de Alcochete de má memória para os sportinguistas, agora estas cenas lamentáveis com o clube da Luz, ultrapassam tudo o que é futebol, tudo o que é paixão clubística, dado que entramos no domínio do crime.

 

O mínimo que se pode exigir é que as autoridades competentes averiguem com rigor, identifiquem os responsáveis destes atos criminosos, para que os mesmos sejam exemplarmente punidos e posteriormente erradicados do mundo do futebol, porque esta corja mancha a imagem do desporto em geral e do futebol em particular.

 

E se os dirigentes, funcionários dos clubes e comentadores têm muitas responsabilidades no ambiente violento criado à volta do futebol, a comunicação social também não está isenta de culpas, porque há décadas que as televisões e a imprensa desportiva alimentam um ambiente tóxico e de histeria tribal em torno do futebol que traz ao de cima o pior da condição humana e que leva a que casos destes sucedam. Uns e outros não têm qualquer legitimidade agora para se mostrarem surpreendidos com estes acontecimentos.

Qui | 04.06.20

Trump e a escala de violência nos EUA

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A tensão social suscitada por esta escalada de violência e racismo por parte das forças policiais em relação aos afro-americanos não é nova. Porém, percebe-se que estas manifestações vão para além da morte de George Floyd. 

 

O facto de os serviços secretos serem obrigados a acolher Donald Trump no 'bunker' da Casa Branca, quando os protestos em Washington subiram de tom, mostra bem a rivalidade dos manifestantes a Trump e à sua causa.

 

Se numa primeira fase os protestos nos Estados Unidos até deram a sensação de que iriam ser um entrave à reeleição de Trump, com o avolumar da violência em diversas cidades americanas, Trump poderá até retirar dividendos na popularidade. O Presidente norte-americano tem tentado tirar proveito dessa tática de acusar movimentos de extrema-esquerda, nomeadamente o Antifa, de estarem a manipular a contestação à morte de George Floyd.


Vários analistas políticos sustentam que, no final, tudo isto pode jogar a favor da reeleição de Donald Trump, que pode surgir como um homem providencial que colocou ordem no caos que ameaça dividir o país.


Tudo dependerá da dimensão da violência, da duração dos protestos, do seu impacto na sociedade americana e, sobretudo, da forma como tal violência será percecionada pelos americanos.


Se as coisas evoluírem para uma situação de desordem social, associada a grupos organizados de extrema-esquerda, caso em que violência possa ser considerada desproporcional, ao ponto de fazer com que a maioria dos americanos temam pela sua própria segurança e ordem pública, isso poderá até vir a favorecer o atual Presidente, que pode jogar com o medo, usando isso como um trunfo, relativamente a uma certa debilidade do adversário democrata, Joe Biden, na manutenção da ordem.


Para já as sondagens colocam Joe Biden à frente em todos os estados para vencer as eleições americanas de novembro, mas o momento é demasiado incerto para fazer previsões e de poder antecipar com algum grau de certeza quem será o próximo presidente dos EUA.

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