Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba.
Vergílio Ferreira
Há um ano que Francisco Rodrigues dos Santos está à frente do CDS e o balanço não poderia ser mais negativo. Na última sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, o CDS-PP consegue apenas 0,8% das intenções de voto. Francisco Rodrigues dos Santos fala em “palhaçada”, deixa críticas ao estudo e ameaça fazer queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Recorde-se que o CDS sofreu um enorme abalo nas últimas eleições legislativas, em outubro de 2019, caindo para os 4,22%. Um resultado que esteve na origem da saída de Assunção Cristas que acabaria por ser substituída por Francisco Rodrigues dos Santos, o qual contou sempre com o apoio das chamadas bases do partido, mas não com o consenso entre os notáveis. De então para cá, o CDS esteve sempre em queda.
A noite das eleições presidenciais do passado domingo parece ter sido a gota de água pela qual a oposição interna esperava. As vozes críticas da sua direção avançam com um pedido de congresso antecipado. Filipe Lobo D’Ávila, vice-presidente do CDS, apresentou a demissão da comissão executiva do partido, juntamente com Raúl Almeida e Isabel Menéres Campos, deixando Francisco Rodrigues dos Santos ainda mais isolado na direção do partido.
Se dúvidas houvesse, o crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal nas presidenciais foram a prova evidente do desaparecimento da Instituição fundada por Freitas do Amaral e Amaro da Costa que contou com dirigentes carismáticos como Francisco Lucas Pires e Paulo Portas.
Apesar disso e sem ter apresentado candidato próprio, o presidente do CDS foi o primeiro a reclamar a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa para si, como se de alguma forma tivesse contribuído para ela. Numa declaração patética na sede nacional do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos considerou que "todos os objetivos do CDS para estas eleições presidenciais foram conseguidos", salientando que isso é um "motivo de satisfação" e dá ao partido "razões para sorrir". "O CDS quis uma vitória à primeira volta do seu candidato, e conseguimos; o CDS quis somar os votos à direita e não quis dividi-la, e também conseguimos; o CDS quis uma vitória da direita social e também conseguimos", especificou.
Aliás, essa parece ser uma das suas especialidades: transformar fracassos em vitórias. Aquando das eleições dos Açores, o líder do CDS-PP fez também uma leitura nacional dos resultados, onde conseguiu três deputados em listas próprias (menos um do que há quatro anos) e outro em coligação com o PPM, salientando que o partido cresceu “em votos e em percentagem desde as últimas legislativas”, quer no total nacional, quer contabilizando apenas o círculo dos Açores. “O CDS teve mais votos do que PCP e BE juntos”, celebrou, numa declaração em que esteve lado a lado e foi aplaudido por vários dos atuais dirigentes do partido.
Não admira que se tenha apressado a reunir com Rui Rio com vista a um possível entendimento para as autárquicas. Assim, todos os ganhos do PSD poderão ser festejados pelo CDS no dia das eleições. Percebo a vantagem de Chicão, não percebo de todo a de Rui Rio em coligar-se com um partido que vale 0,8%.
O antigo deputado do CDS/PP, Adolfo Mesquita Nunes, parece estar disponível para disputar a liderança do CDS com Francisco Rodrigues dos Santos, considerando que o partido está numa luta pela sobrevivência e que a atual direção não será capaz de inverter o caminho da irrelevância política e que "daqui a um ano será tarde demais".
Será que o CDS ainda vai a tempo de renascer das cinzas?
Marcelo Rebelo de Sousa, como se previa, ganhou as eleições e foi reeleito à primeira volta, com maior número votos que havia conseguido no primeiro mandato. Não chegou aos 70,35% que Mário Soares obteve em 1991, mas bateu os 60%. Não precisou sequer de fazer campanha eleitoral.
Ana Gomes conseguiu o 2º lugar, beneficiando do voto útil daqueles que temiam Ventura em segundo lugar, mas longe do resultado das candidaturas independentes de esquerda protagonizadas no passado por Sampaio da Nóvoa e por Fernando Nobre, bem como das duas candidaturas presidenciais de Manuel Alegre. Resta-lhe a consolação de ter sido a candidata mais votada em eleições presidenciais.
André Ventura não conseguiu o objetivo de chegar aos 15%, nem retirar o segundo lugar a Ana Gomes, sobretudo pelos resultados alcançados no distrito do Porto. Porém, e não obstante toda a campanha rasca e rasteira, conseguiu convencer quase meio milhão de pessoas de muitas zonas do país, sobretudo no Alentejo e no interior do país. Festejou com discursos de incentivo ao ódio e de uma constante tentativa de difamação de todos os seus adversários. Da demissão falou pouco ou nada, apenas disse que devolve aos militantes do Chega a possibilidade de exprimirem se querem ou não a continuidade do projeto.
O PCP apostou forte em João Ferreira, apontado como futuro secretário geral do partido. O candidato do PCP prometeu muito durante a campanha e previa-se uma votação mais expressiva, o que não se verificou. Ficou à frente do Bloco de Esquerda, mas foi batido em toda a linha por André Ventura em bastiões outrora comunistas onde o PCP ganhava sempre vantagem. João Ferreira não conseguiu descolar do espectro do partido nem sequer alcançar um score eleitoral muito maior do que aquele que conseguiu há cinco anos com Edgar Silva.
Marisa Matias foi talvez a maior desilusão da noite eleitoral. Com uma campanha política muita centrada nas televisões, Marisa perdeu quase todos os debates. Em tempo de pandemia em que a campanha de rua perdeu gás, não conseguiu impor a sua empatia (seu maior trunfo) junto do seu eleitorado. Mais, esteve sempre condicionada pelo voto do BE contra no Orçamento de Estado e pelo voto útil em Ana Gomes. Obteve um resultado miserável de 3,95%, quando em 2016 tinha alcancado 10,12 %.
Tiago Mayan Gonçalves acabou por ser a surpresa destas eleições presidenciais. Sem grandes expetativas, oriundo do um pequeno partido com apenas um deputado, ilustre desconhecido e sem qualquer experiência televisiva nem dotes oratórios, deu luta no debate político com André Ventura, a mostrar que pode roubar votos ao CDS em futuras eleições na disputa de eleitorado à direita.
Vitorino Silva, à semelhança de 2016, surgiu como um voto de protesto contra o sistema. O seu objetivo era conseguir um melhor resultado do que há cinco anos, o que não se verificou. Mesmo em Rans, de onde é natural, Marcelo ficou em primeiro lugar. Poderá, no entanto, aproveitar o lastro destas eleições e ser um trunfo eleitoral nas próximas autárquicas no concelho de Penafiel. Penso que Tino terá mais potencial como autarca do que como presidente da república.
Numas eleições presidenciais em que o país está a braços como uma pandemia e em que se previa uma abstenção histórica, os números alcançados são significativamente mais baixos do que os esperados, ainda assim expressivos.
Dito isto, Marcelo Rebelo de Sousa foi um claro vencedor destas eleições. O resultado obtido reforça a legitimidade política de Marcelo e dá-lhe poderes para, se assim o entender, até fazer um segundo mandato mais interventivo do que o primeiro.
O PS sai incólume destas eleições, não apoiou nenhum candidato e não sai nem vencedor nem vencido. Porém, o resultado das presidenciais assenta que nem uma luva a António Costa, pela fragilização das forças políticas à sua direita e sobretudo à sua esquerda. A vitória de Marcelo permite ainda que se mantenha a boa cooperação institucional que sempre existiu entre Belém e S. Bento.
A esquerda sofreu uma derrota pesada e previsível. Urge, pois, refletir o que correu menos bem e repensar o seu posicionamento no espetro político.
Mas se a esquerda é obrigada a refletir, a direita está obrigada a reconfigurar-se. PSD e CDS cantaram vitória porque apostaram as fichas todas em Marcelo. Mas com André Ventura a conseguir 11,9 % das intenções de voto, é fácil perceber que toda a direita ficará a partir de agora muito mais condicionada pela extrema direita radical, ainda que o resultado conseguido por André Ventura (segundo lugar em muitos distritos do país) tenha que ser posto à prova em futuros atos eleitorais.
O resultado de Tiago Mayan (3 ,22% e 134.427 votos) não indicia que a IL cresça a tempo de ser parceiro de uma futura coligação com o PSD e com o desaparecimento do CDS, com o seu eleitorado conservador a fugir para o Chega e o seu eleitorado liberal fugir para a IL, mostra que se o PSD quiser ser governo terá, inevitavelmente, que fazer coligações com o Chega. André Ventura ontem no seu discurso afirmou isso mesmo. Resta saber se o PSD e Rui Rio estarão dispostos a correr esse risco.
Joe Biden tomou posse tornando-se o 46.º Presidente dos Estados Unidos e Kamala Harris, como vice-presidente. O seu discurso foi marcado por vários apelos à unidade. “Unir a América”, “Unir o povo”.
Joe Biden apontou como objetivo, “fazer da América um farol para o mundo". Considerou urgente acabar com o clima de “guerra pouco civil" e defendeu a verdade em detrimento das mentiras, sem nunca pronunciar o nome de Donald Trump. Prometeu "liderar não apenas pelo exemplo do nosso poder, mas pelo poder do nosso exemplo”, assegurando que irá "cumprir a Constituição" que acabara de jurar.
Já na Casa Branca, Biden não perdeu tempo e reverteu várias decisões de Donald Trump. Além do regresso aos Acordos de Paris, assinou também o regresso à Organização Mundial de Saúde (OMS), o fim da construção do muro com o México e do veto à entrada de cidadãos de países muçulmanos nos EUA. Biden assinou também uma lei que reforça o uso de máscara em locais públicos.
Somos atualmente o segundo país no mundo e o primeiro na Europa com a média mais alta de novos casos de Covid por um milhão de habitantes. E somos o quarto país com mais mortes por milhão de habitantes. O país acionou medidas de contingência, com muitas exceções. Tirando restaurantes, cafés, cabeleireiros, barbeiros, ginásios e atividades desportivas, recreativas e culturais, todos eles impedidos de trabalhar, o resto é uma lista imensa de atividades excecionadas. Num fim-de-semana de sol, as pessoas sairam para a rua para passear, porque a lei permite.
Acho que já todos repararam que perdemos por completo o controlo da Pandemia e que estas medidas só servem para mitigar e não resolvem o problema, sobretudo do SNS que continua com enorme pressão. O governo optou por manter a economia aberta. Não pode é dizer que está a fazer tudo para proteger o SNS. Claramente não o fez. Se tivesse feito tinha imposto medidas drásticas e absolutas. Ia ser criticado, mas salvava vidas e protegia os médicos e hospitais da pressão. Travou tarde demais e, como se viu, mal. Ninguém vai cumprir. Não há forma de cumprir com tanta exceção. O facto de as escolas continuarem em funcionamento foram um fator absolutamente decisivo no falhanço dos objetivos, já que movimentam diariamente mais de 2 milhões de pessoas.
Este 2º confinamento está a ser muito mais leve do que o 1º e traduz a falta de medo. O problema é que a falta de medo está associada à falta de consciencialização. Essa falta de consciencialização leva inevitavelmente ao aumento da mortalidade, direta e indireta.
Urge um confinamento mais agressivo, sem exceções e com uma estratégia de comunicação clara e objetiva e acima de tudo coerente, determinando quais os objetivos a alcançar a curto e médio prazo.
É disso que necessitamos, e não de exceções que se revelam inúteis, sobretudo se permitem a circulação sem muitas restrições.
Em 46 anos de democracia estas são as eleições mais estranhas de que tenho memória.
Senão vejamos:
1) estas eleições ocorrem no meio de uma crise sanitária que obriga a que todos os cidadãos tenham comportamentos adequados à pandemia que o país está a viver. As três principais medidas são o voto antecipado em mobilidade, a redução do número de eleitores por mesa de voto e o dever de cada eleitor levar a sua própria caneta. Utentes de lares e confinados vão poder votar antes.
2) a eleição tem lugar a 24 de janeiro, altura em o país estará numa das fases mais críticas da pandemia, fazendo também sentir temperaturas muito baixas. Isto naturalmente demoverá os cidadãos de irem exercer o seu direito de voto.
3) com a pandemia a atingir valores expressivos e à beira de um confinamento geral, o guião tradicional de campanha e a 'rota da carne assada' ficou em risco. Os debates ganharam, por isso, redobrada importância, sobretudo os televisivos. Sucede, porém, que foram pouco mobilizadores e esclarecedores (muito por culpa dos moderadores), muito centrados na pandemia, no estado de emergência e em temas da agenda política ou então sobre opções ou casos da governação, como o do procurador europeu, ignorando-se questões próprias do cargo Presidencial.
4) no boletim de voto para as presidenciais vai constar, em primeiro lugar, um candidato que ousou apresentar onze assinaturas apenas, ao invés das 7500 exigidas para se candidatar. Como a lei determina que seja o Tribunal Constitucional a proceder ao sorteio da ordenação dos candidatos no boletim de voto, antes de serem rejeitadas as candidaturas que não cumpram os requisitos, o nome do dito candidato foi incluído no boletim. O MAI, mesmo sabendo ou devendo saber que havia uma candidatura que ia ser rejeitada, mandou inadvertidamente imprimir os boletins, fazendo com que o “burlão” constasse na lista de candidatos num destacado primeiro lugar. É essencial que se modifique a lei para impedir que no futuro tal aconteça. Basta, para tanto, determinar que os boletins de voto só serão impressos quando houver uma decisão definitiva sobre os candidatos.
5) foi implementada uma lei que proíbe os cidadãos que contraiam Covid-19 nos dez dias anteriores às eleições presidenciais sejam proibidos de votar. Serão as primeiras eleições na história do país em que um candidato ou candidata a Presidente da República, caso seja infetado, ficará impedido ou impedida de votar nas eleições a que se candidata.
Caminhamos, alegremente, para uma eleição, onde arriscaremos a ter uma abstenção nunca antes vista, que poderá rondar os 75%, segundo Carlos Jalali, professor de Ciência Política da Universidade de Aveiro. Surreal mesmo!
O Primeiro-Ministro disse, reiteradamente, que o país não aguentava um segundo confinamento, mas face ao elevado aumento no número de infeções — quatro dias com uma média de de 10 mil casos de infeção pelo novo coronavírus em Portugal e mais de 100 mortes diárias – um segundo confinamento parece inevitável.
O anúncio de uma decisão poderá acontecer já na 5ª feira, depois do Conselho de Ministros e após a reunião no Infarmed, quando os especialistas apresentarem dados mais concretos do que foi a evolução da pandemia nas últimas semanas.
O abrandamento das medidas na época natalícia, um maior número de contactos entre pessoas em espaços fechados, sem ventilação, e as baixas temperaturas que se fizeram sentir nos últimos dias poderão ser a explicação para o número elevado de novos contágios registados durante esta semana.
Porém, isto era demasiado previsível. Já antes do Natal se antevia o que agora se confirma. Houve uma certa benevolência da parte do governo quando colocou a tónica na responsabilidade individual, quando afrouxou nas medidas do Natal e permitiu a deslocação entre concelhos e as reuniões familiares sem limitar o número de pessoas. Foi um exercício arriscado, como se viu. A tolerância foi excessiva e pior teria acontecido se não tivesse havido um recuo no fim de ano.
Mais uma vez estamos a correr atrás do prejuízo. Estamos a pagar com 'língua de palmo' em número de óbitos, em sobrecarga de hospitais, em exaustão dos profissionais de saúde, e ainda iremos sofrer com o afundamento da economia em consequência de um novo confinamento. E no meio de tudo isto eleições presidenciais!
Muitos sugerem o adiamento das eleições presidenciais dado o elevado numero de abstenções que previsivelmente ocorrerá, mas há também a ter em conta o fator sanitário e o fator político, uma vez que o adiamento poderá benefiar uns candidatos em detrimento de outros.
A Constituição não prevê o adiamento das eleições, mas também não fecha totalmente as portas. Durante o estado de emergência não é possível rever a Constituição, em caso algum, e, portanto, seria necessário, quando terminasse este estado de emergência, na próxima semana, em vez de renovar outro, imposto pelo agravamento da situação, fazer um intervalo para rever a Constituição ou então suspender este. Depois é necessário que os deputados não só concordem em alterar a Constituição, como com as alterações que permitam o adiamento das eleições.
Marcelo Rebelo de Sousa já assumiu que não há condições para adiar as eleições presidenciais. O chefe de Estado recordou que para adiar as eleições presidenciais seria necessária uma revisão constitucional, e que, atendo às circunstância o Presidente da República "não é competente para a rever". E mesmo que isso pudesse acontecer, qualquer alteração à constituição, não seria ratificada a tempo de 24 de janeiro.
O constitucionalista Jorge Miranda aconselha o poder político a fazer "uma revisão constitucional urgente" para que seja permitido dois dias para votar, como acontece em Itália, evitando assim a concentração de pessoas num só dia. No entanto, é contra a opção de adiar as eleições: "Não se sabe quando a pandemia vai acabar e o adiamento iria implicar com o mandato presidencial".
Outros constitucionalistas ouvidos sobre a possibilidade de alterar a data das presidenciais de 24 de janeiro tem opinião diversa. Alguns afirmam que apesar de a solução ser inédita, ela existe e não deve ser posta de parte.
Bacelar Gouveia, por exemplo, ilustra que “o direito só não tem solução para a morte” e Domingos Farinho acredita que a necessidade, a confirmar-se, obrigará a “uma solução fora da caixa”.
Para Reis Novais, apenas um sismo ou um qualquer outro cataclismo natural seriam motivos suficientes para servir de argumento para diferir o prazo das eleições. “Fora de uma situação dessas em que é impossível a realização do voto, não é possível adiá-las”, garante.
Na verdade, com pandemia ou sem ela, já era tempo de se ter promovido o voto eletrónico e o voto por correspondência
Ontem, milhares de manifestantes apoiantes de Donald Trump, incitados pelo próprio, invadiram o Capitólio e decidiram protestar, inconformados com a derrota de Trump, quando o Congresso dos EUA se reunia, a fim de ratificar o resultado das eleições de 3 de novembro, para confirmar Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos.
A Câmara dos Representantes foi evacuada quando os trampistas quebraram as barreiras de segurança e invadiram as escadarias do Capitólio.
É uma "tentativa de golpe de estado", comentou o chefe dos senadores democratas no Congresso.
A polícia da capital dos Estados Unidos usou armas de fogo para proteger congressistas e declarou que pelo menos quatros pessoas perderam a vida na sequência da invasão do Capitólio. Não se percebe como as forças de segurança americanas não conseguiram acautelar tudo isto, onde estes incidentes eram mais do que previsíveis.
Com o aumento das manifestações violentas, foi decretado recolher obrigatório na capital Washington D.C.
Várias horas após a invasão do Capitólio pelos apoiantes de Trump, o Congresso dos EUA validou os votos do Colégio Eleitoral, confirmando a vitória de Joe Biden e de Kamala Harris na eleição presidencial de 3 de novembro.
O facto de fações opostas questionarem pela força e pela violência os resultados legítimos das eleições não é apanágio apenas de povos africanos ou da América Latina. Esta tentativa de golpe de Estado deu-se nos EUA, numa das democracias mais consolidadas do mundo e é um sério aviso para todos os países. As forças radicais de extrema direita são capazes de tudo para alcançar o poder!
Os debates presidenciais têm sido mais do mesmo. O melhor e mais esclarecedor debate até agora foi, em minha opinião, entre Marisa Matias e Ana Gomes, na SIC, moderado por Clara de Sousa, com sinal mais para Ana Gomes, porque trouxe para o debate questões importantes para as funções presidenciais, designadamente temas como a defesa nacional.
Porém, no final, o debate foi estragado quando a jornalista perguntou a ambas se “tinham medo de André Ventura”. Ambas negaram, evidentemente, e Ana Gomes reiterou que o seu adversário é Marcelo Rebelo de Sousa. Realmente não havia necessidade de colocar essa questão neste debate, dado que ambas irão ainda debater com o líder do Chega.
Mas o debate que opôs Vitorino Silva e André Ventura foi também muito interessante. Tino, como é conhecido, calceteiro de profissão, com a sua simplicidade conseguiu desarmar o populista Ventura, dando uma lição de humildade, democracia, humanidade e tolerância.
À pergunta por que se candidata? Tino justificou que há cinco anos teve “mais votos que o Iniciativa Liberal e o Chega juntos” e que é por respeito a esses eleitores e milhões de outros que se recandidata. "Por respeito àquelas 152 mil pessoas que votaram em mim e também por respeito àquelas que não votaram, e que foram milhões, e que estão arrependidas", afirmou.
Tino trouxe pedras de várias cores que apanhara junto ao mar de Peniche e explicou que elas simbolizavam os diferentes partidos e eram como as pessoas, de todas as cores que tal como as pedras deviam saber conviver entre si, respeitando-se! “O mar traz pessoas de todas as cores, sou candidato para deitar os muros clandestinos”, abaixo, salientou.
Referindo-se aos ciganos, afirmou: "os ciganos não são burros, são pessoas e eu gosto de falar não de etnias, mas de pessoas", com Ventura a reiterar a sua defesa do corte de apoios sociais e do reforço do controlo da sua justa atribuição (os ciganos recebem demasiados subsídios, só 10% trabalham). Tino acrescentou que existem cidadãos de etnia cigana que não têm emprego porque não lhes dão oportunidade para isso, por serem de ciganos. "É preciso nivelar", defendeu.
Mais adiante, e a propósito da polemica à volta Ministra da Justiça, frisou: “cada macaco no seu galho, não sou candidato para mandar nenhum ministro para o desemprego». Não vou falar pelo primeiro-ministro. Costa foi eleito pelo Povo, agora tem legitimidade para a demitir ou manter os ministros, depois em eleições o Povo o julgará!
Para quem conhece a postura de André Ventura quer em debates, quer nas intervenções no Parlamento, ficou provavelmente surpreendido com um momento que marcou a reta final do frente a frente com Tino de Rans. O deputado Chega sempre com resposta pronta para todas as perguntas, acusações e indiretas, houve uma questão que o deixou sem resposta: seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente ou com de Rui Rio? Ventura reagiu e afirmou: "não vou fazer comentários sobre isso". Perante tal resposta Carlos Daniel afirmou que a resposta era elucidativa. Esta observação surgiu depois de ter sido questionado se via Donald Trump como uma referência, tendo respondido que não e declarado que as suas referências "são homens como Sá Carneiro, como o Papa João Paulo II".
Foi um debate tranquilo, sem gritos e interrupções habituais por parte de André Ventura que percebeu que essa postura jogaria contra si, mas onde claramente Tino de Rans saiu vitorioso,pela sua simplicidade e tolerância.
Tino de Rans como digno representante do povo deixou hoje uma grande lição para os políticos do sistema - que todos os partidos contam - e usou uma metáfora para ilustrar a sua afirmação: "o país precisa da perna esquerda e da perna direita para andar” .
Chapeau, Tino. É desta forma que se combate os populismos, sejam eles de direita, sejam de esqueda.