Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba.
Vergílio Ferreira
Ficamos a saber que João Ferreira será a escolha da CDU para a Câmara Municipal de Lisboa. Desde 2017, houve em Portugal 4 eleições. Em 3 delas, João Ferreira foi a escolha da CDU para cabeça de lista nas Europeias de 2019, para as Presidenciais 2021 e agora é candidato à maior autarquia do país nas próximas Autárquicas 2021.
Não se entende a escolha do mesmo candidato a três eleições distintas. Há muita gente competente no PCP, o que justifica isto? Aproveitamento dos cartazes da anterior eleição?
Nada contra João Ferreira, fará decerto um ótimo trabalho como vereador e acho que fará uma ótima campanha. A questão não é essa. É que dá uma imagem de esgotamento e de incapacidade de gerar novos quadros do partido.
O PSD propôs uma alteração legal que visa tornar obrigatório que os deputados e titulares de cargos públicos declarem no seu registo de interesses a sua filiação a associações e organizações "discretas" como a Maçonaria e a Opus Dei.
O diploma inicialmente apresentado pelo PAN pretendia incluir "um campo de preenchimento facultativo" no regime do exercício de funções dos titulares de cargos políticos, a fim de estes indicarem a pertença a esse tipo de organizações.
Na proposta do PAN a declaração era facultativa, mas a proposta do PSD, apresentada pelo deputado André Coelho Lima, considera que é importante tornar obrigatório os deputados e titulares de cargos políticos declararem todas as associações a que pertencem, das associações de bairro a um clube desportivo.
As sociedades secretas sempre tiveram um enorme domínio sobre o poder político e económico. Recordo-me que em tempos Portugal viveu um dos maiores escândalos, envolvendo os serviços secretos e a Maçonaria. Tudo começou com notícias publicadas no jornal Público segundo os quais Jorge Silva Carvalho, ex-diretor do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa), um dos serviços secretos portugueses, teria passado informações confidenciais indevidas ao grupo empresarial privado Ongoing para onde foi trabalhar após a demissão do SIED.
Na altura foram revelados pela imprensa os maçons presentes na Assembleia da República, sendo que, entre eles, figuravam os líderes parlamentares dos dois maiores partidos: Luís Montenegro, do PSD, Carlos Zorrinho, do PS e Nuno Magalhães do CDS. Estas revelações provocaram enorme perplexidade e polémica na opinião pública, havendo quem já na altura propusesse que todos os membros da Maçonaria com cargos no Estado se devessem assumir publicamente.
Por seu lado a Opus Dei (Obra de Deus) é muito mais que uma prelatura pessoal da Igreja Católica, é vista como uma organização na qual se estabelecem teias de influência para proteger os membros da prelatura e coloca-los em lugares de destaque nas áreas políticas, económicas, sociais e na banca, caso do BCP. A Opus Dei é poderosa e é tudo menos religiosa no que toca aos seus objetivos, não obstante a imagem de ascetismo e discrição.
É verdade que todos temos o direito de associação e de reunião, que todos temos o direito à nossa privacidade, mas, não se percebe que quem queira trabalhar pelo "bem comum", o faça às escondidas. Porque, sendo secretas, essas sociedades não estão sujeitas ao escrutínio público. O secretismo em democracia normalmente envolve alguma opacidade, o que não é saudável num regime democrático.
As instituições democráticas devem ser transparentes, a sociedade não deve ter organismos secretos, discretos ou exclusivos, com paredes de vidro.
Posto isto, penso que faz todo o sentido os decisores políticos públicos declarar, não apenas os seus rendimentos, mas igualmente a sua filiação em associações privadas, desde os clubes de futebol aos partidos e às chamadas organizações "discretas" a bem da transparência.
Vi a entrevista com Meghan Markle e do príncipe Harry, duques de Sussex a Oprah Winfrey. Foram quase duas horas de uma conversa em que Meghan surgiu irrepreensível, com um vestido Armani e com uma pulseira de diamantes, que pertencia a Diana de Galles, em que aborda problemas de racismo, problemas de ordem psicológica e de falta de liberdade de que foi alvo por parte da realeza britânica.
Nada naquela entrevista foi descurado: a voz, as pausas, o penteado, os gestos, a maquilhagem suave, o discurso articulado, o cenário idílico, tudo ali foi pensado ao pormenor e é de alguém que sabe bem usar as câmaras em seu favor, ou não tivesse ela sido atriz.
Meghan Markle, nascida na Califórnia, ficou conhecida pelo seu papel na série norte-americana Suits. O seu nome saltou para a ribalta quando se criou rumores de um possível romance com o Príncipe Harry e sobre o qual disse desconhecer até então.
Desde o momento que o seu noivado com Harry foi anunciado, o mundo ficou rendido ao romance entre ambos. Porém, nem tudo foi um mar de rosas. Desde então, Meghan, na altura com 36 anos, enfrentou várias polémicas, desencadeadas por tabloides britânicos e foi mesmo apelidada de "alpinista social", tendo sido acusada de querer ser uma versão Diana 2.0. E como se não bastasse, o seu passado foi vasculhado, designadamente a má relação com familiares do lado paterno, o seu casamento com o produtor norte-americano Trevor Engelson e, ainda, uma suposta a relação que manteve com um ator porno.
Relativamente à entrevista, Meghan admitiu que não fazia a mínima ideia daquilo que a esperava como membro da família real. Contou que que a vida real não foi fácil. Logo após o casamento, todos os seus pertences e o passaporte foram confiscados. Que não lhe era permitido fazer nada para além do que lhe estava atribuído em agenda. Não lhe era consentido sair, almoçar com amigos, passear, sem permissão da “firma”, expressão utilizada para se referir à instituição que gere a monarquia britânica.
Com o passar dos tempos, o seu estado psicológico ficou claramente afetado, refere, ao ponto de pensar em pôr termo à vida, mas quando pediu ajuda ao Palácio esta foi-lhe negada, com a justificação de que não era benéfico para a imagem da realeza.
A situação piorou, ainda mais, diz, quando informaram a família real que estavam à espera de um bebé e aí tomaram consciência de que o filho não iria receber um título real ou ter direito a segurança. Na entrevista sugeriu que isso pudesse estar relacionado com questões de ordem racial, nomeadamente sobre quão escura a pele do bebé poderia ser quando nascesse. Isso chegou através do Harry, foram conversas que a família teve com ele, recusando-se Harry a referir o nome do membro da família com quem discutiu este assunto.
Conforme iam saindo notícias suas nos jornais britânicos que segundo a duquesa eram falsas, tais notícias nunca foram desmentidas pela família real. «Disseram-me sempre para dizer ‘não comento’ e não me preocupar porque eles me iriam proteger». «Mais tarde vim a perceber que não só não me protegiam como mentiam para proteger outros membros da família, e comigo não eram capazes de dizer a verdade para o fazerem».
Para Harry, sair da realeza e emigrar para os EUA foi a única solução para salvar Meghan e evitar que a história da mãe se repetisse. Harry diz que saiu pela falta de apoio e lamentou, acrescentando que a relação com o pai, o príncipe Carlos, se deteriorou desde então.
Sobre o irmão, declarou o seu amor profundo por William, mas não escondeu que neste momento estão afastados. No entanto, acredita que o tempo curará tudo.
Ao recordar a mãe, Harry não tem dúvidas de que a princesa Diana estaria do seu lado no meio de toda esta polémica. «Acho que ela estaria muito zangada com tudo isto. Mas o que ela quereria é que fossemos felizes.».
Pertencer à realeza britânica pode parecer um sonho saído de um verdadeiro conto de fadas, mas os títulos de Rainha, Princesa ou Duquesa, acarretam também algumas obrigações. Por outro lado, é difícil acreditar que uma pessoa que trabalha no mundo das celebridades em Hollywood, mesmo vivendo em outro continente, não conhecesse a história da princesa Diana, nem tão-pouco soubesse que, em 1995, Lady Di tinha dado uma entrevista, onde expunha a forma como tinha sido tratada pela instituição durante o seu casamento com o príncipe Carlos. Todo o mundo sabia!
É também difícil acreditar que Meghan Markle, quando se preparava para manter uma relação de intimidade com o príncipe Harry, não só desconhecesse quem Harry era, como não tivesse procurado mais informações sobre o príncipe, numa altura em que vivemos num mundo global e que a intranet faz parte das nossas vidas.
A opinião pública divide-se entre os que consideram Meghan uma oportunista e aqueles que reveem esta história como uma sequela do que há uns anos se passou com a Princesa Diana.
Acredito piamente que Diana de Galles aos 20 anos desconhecesse o que a esperava e se deixasse levar pelo conto de fadas, mas creio que Meghan Markle, aos 36, já bem vivida, saiba bem no que se meteu, quando decidiu contrair matrimónio com o príncipe Harry.
Sempre tive dificuldade em compreender como é que alguém consegue expor a sua vida privada ao mundo, sem um forte motivo. Por isso, julgo que estas duas horas passadas com Oprah Winfrey serviram, única e exclusivamente, para a duquesa de Sussex construir uma narrativa da vitima e utilizá-la quando lhe der jeito e, ainda, para arrecadar vantagens, sejam elas de ordem pessoal ou pecuniária.
O Dia da Mulher é celebrado em muitos países como sendo uma referência da História. É um marco simbólico comemorativo de direitos que as mulheres alcançaram no passado, e que, supostamente, já deveriam ser dados adquiridos nos nossos dias. Mas infelizmente não são e parece que estão longe de o ser como demonstra esta peça da TVI em que nos lembram que "cada vez mais mulheres ocupam lugares do homem". Lugares "do homem"? Como assim? Em pleno século XXI ainda há lugares destinados a homens e a mulheres?
Lamentavelmente este é um discurso culturalmente enraizado que é preciso desconstruir. É por narrativas como esta que o Dia da Mulher ainda faz sentido. Não para as mulheres receberem flores, descontos ou outras benesses, mas para se refletir sobre o caminho que ainda falta fazer numa sociedade em que a luta pela igualdade de género ainda é muito recente. Recorde-se que há 50 anos as mulheres, em Portugal, não podiam votar, não podiam viajar sem prévia autorização do marido, no fundo não podiam ter vontade própria, nem pensar pela sua própria cabeça.
Datas como esta obriga-nos, de certa forma, a pensar sobre este tema e mostra-nos como estamos a anos luz de alcançar a igualdade de género. Quando lá chegarmos este dia já não fará qualquer sentido.
Hoje é dia da Mulher e este meu blogue completa oito anos de existência. Duas datas simbólicas para mim. Por isso deixo-vos um poema da autoria de Fernando Pessoa.
Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias.
A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Trecho de um poema do livro "Odes de Ricardo Reis", de Fernando Pessoa (heterónimo de Ricardo Reis).
Morreu Maria José Valério, fervorosa adepta leonina, que deu voz à Marcha do Sporting, interpretada pela primeira vez, em 1950, no Cinema Tivoli numa festa de aniversário do Sporting Clube de Portugal, da autoria de Manuel Paião e Eduardo Damas.
Sobrinha do maestro Frederico Valério. Foi na Emissora Nacional que fez o curso de Preparação de Artistas da Rádio e onde deu os primeiros passos.
A partir daí construiu uma carreira na música com sucessos como a «Menina dos Telefones», «Olha o Polícia Sinaleiro» e «As Carvoeiras», mas também no teatro de revista e no cinema, onde teve uma participação no filme, «O Homem do Dia» com o ciclista Alves Barbosa.
Morreu hoje aos 87 anos, no Hospital de Santa Maria, vitima de Covid 19, contraído na Casa do Artista onde vivia atualmente.
Que descanse em paz e zele pelo nosso Sporting. Para nós, sportinguistas, ficam as memórias duma senhora afável, uma das mais nobres e entusiastas adeptas do Sporting.
Ficarão para sempre a sua voz e a sua marcha eterna, o hino que ecoa sempre no Estádio de Alvalade.
A escolha de Carlos Moedas para candidato à Câmara de Lisboa é, sem dúvida, uma boa escolha. Com Moedas o PSD consegue apresentar um candidato capaz de unir o partido e federar toda a direita democrática (PSD o CDS e a IL) numa alternativa credível a Fernando Medina e que funciona simultaneamente como um tampão à direita mais radical.
Porém, o facto de ter estado demasiadamente associado à Troika, não ser um mobilizador de massas, nem possuir um discurso galvanizador poderão ser um handicap para a sua eleição.
Por outro lado, Fernando Medina tem sido um bom candidato, com obra feita e, por isso, parte em vantagem, mas tem aqui um osso duro de roer com o qual não contava. Se conseguir ganhar mais este duelo eleitoral, que não será coisa pouca, fica em melhor posição para defrontar o próximo com Pedro Nuno Santos à liderança do PS.
Sabemos o quão importante são as eleições autárquicas para Rui Rio, porquanto se joga aqui muito do seu futuro político. Rui Rio sacou este coelho da cartola e pode correr-lhe bem ou nem por isso.
Como já se percebeu, aos 50 anos de idade, Carlos Moedas avança para esta candidatura porque tem ambições políticas que aliás são legítimas. Não é em vão que abdica de um lugar no Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian para se lançar a este desafio com desfecho incerto.
Mesmo que não conquiste a maior câmara do país, mas se as coisas correrrem mal nas autárquicas para o PSD, Moedas só tem a ganhar com esta corrida que lhe dará via aberta para conquistar o partido e suceder a Rui Rio na liderança.