Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 28.06.21

O Euro do nosso (des)contentamento

 

nova-gente-87912-noticia-euro-2020-tvi24-baralha-s

A seleção portuguesa despediu-se ontem do Europeu de 2020 com uma derrota frente à seleção belga.

Em Sevilha, frente à Bélgica, Fernando Santos surpreendeu com a inclusão de Palhinha e Dalot no onze. Depois de uma primeira parte pouco agressiva, a Seleção Nacional assumiu a posse de bola no segundo tempo e conseguiu criar várias situações para rematar à baliza, mas R. Guerreiro, Rúben Dias, Diogo Jota e André Silva falharam clamorosamente a possibilidade de fazer golo. Os belgas marcaram ainda no primeiro tempo, aproveitando uma falha defensiva da equipa portuguesa, num lance fortuito de Thorgan Hazard, aos 42 minutos, numa das poucas oportunidades que tiveram, e em que Rui Patrício, a meu ver, podia ter feito melhor.

O jogo acabava com 24 remates de Portugal e 3 em cantos contra 6 remates da Bélgica e nenhum canto, mas  que de nada valeram. A equipa nacional jogou melhor do que a seleção adversária, atualmente a número um do ranking das seleções, mas foi pouco eficaz. E isto não é sorte nem azar, é apenas eficácia na finalização.

Fomos campeões europeus em 2016 e cinco anos depois abandonamos precocemente o Euro 2020, sem glória, somando em 4 jogos, uma vitória, um empate e duas derrotas.

Os portugueses estarão seguramente agradecidos a Fernando Santos pelas conquistas que obteve como treinador da seleção nacional: um campeonato europeu e uma liga das nações, mas isso não impede de lhe assacar responsabilidades pela fraca prestação da equipa portuguesa neste europeu.

Não se percebe porque Rafa ou Guedes ficaram no banco ou na bancada e André Silva só entrou tarde e a más horas. Não se percebe porque insistir na titularidade de Bernardo, Jota ou até de Bruno Fernandes quando é notório que estão em subrendimento, devido aos muitos jogos que disputaram na Premier League.

Não se percebe, ainda, a razão pela qual Pedro Gonçalves, Gonçalo Guedes e Nuno Mendes não tiveram sequer um minuto de jogo neste mundial e W. Carvalho foi titular nos dois primeiros jogos. Mais valia Pote e Nuno Mendes terem alinhado pela equipa de sub-21, e, eventualmente, poderíamos ter tido outro resultado, na final dos sub-21 contra os alemães.

Depois da saída prematura de Portugal no Euro 2020, há muito gente a pedir a cabeça de Fernando Santos, não me parece que fosse, neste momento, a melhor solução, mas há certamente uma reflexão que deve ser feita para que os erros cometidos durante esta competição não sejam repetidos no próximo Mundial de 2022 que terá lugar no Qatar.

Qui | 24.06.21

Bravo, Munique

203630727_10159126704744597_3798600916845144775_n.

A Hungria aprovou a 15 de junho uma lei, proibindo a promoção da homossexualidade junto de menores de 18 anos, que desencadeou uma revolta por parte dos defensores dos direitos humanos, numa altura em que o Governo de Viktor Orbán alarga as restrições à comunidade LGBT.

Na sequência desta decisão, treze países da UE enviaram uma carta à Comissão Europeia onde apelavam esta instituição a utilizar todos os instrumentos ao seu alcance de modo a garantir o respeito pelos direitos europeus, perante uma lei húngara considerada lesiva e discriminatória para a comunidade LGBT.

Portugal ficou de fora. A secretária de Estado dos Assuntos Europeus. Ana Paula Zacarias, afirmou que Portugal não subscreveu a carta devido ao "dever de neutralidade" que tem enquanto assume a Presidência do Conselho da EU, o que não se compreende quando estão em causa direitos fundamentais e o compromisso assumido explicitamente no próprio programa da Presidência Portuguesa de “combater todas as formas de discriminação”. Como argumentou Fabíola Cardoso, do BE "há uma linha que separa a neutralidade da cumplicidade e essa linha são os direitos humanos".

Em protesto com a lei de Orbán, o município de Munique, pretendia iluminar a Allianz Arena com as cores do arco-íris, símbolo associado à comunidade LGBTI, no jogo entre alemães e húngaros, a UEFA rejeitou, alegando em comunicado que “pelos seus estatutos, a UEFA é uma organização política e religiosamente neutra”.

As criticas a esta decisão não tardaram, quer por parte de cidadãos, clubes, adeptos ou responsáveis europeus. O Governo alemão, por exemplo, saudou a pretensão de usar de símbolos arco-íris pela Mannschaft durante o Euro 2020, enaltecendo o empenho contra a discriminação.

O arco-íris foi-se disseminando pelas redes sociais e a Federação Portuguesa de Futebol, num gesto de solidariedade com luta contra a discriminação, utilizou as cores do arco-íris, associadas à comunidade LGBT no perfil das suas páginas oficiais nas redes sociais.

Qui | 17.06.21

Ronaldo não gosta de coca-cola

cocacola.jpg

Na antevisão do jogo entre a Hungria e Portugal, Cristiano Ronaldo protagonizou um momento caricato. O internacional português afastou duas garrafas de coca-cola que se encontravam à sua frente e colocou junto de si uma garrafa de água, dando a entender que a coca-cola era uma bebida pouco recomendável e que devíamos optar por beber água. Este gesto foi replicado por Manuel Locatelli da seleção italiana e Pogba relativamente à cerveja Heineken.

Ora, ninguém duvida dos malefícios dos refrigerantes para a saúde e é sobejamente conhecida a obsessão do capitão da seleção por seguir uma dieta regrada e um tipo de alimentação saudável. Há tempos numa entrevista, Cristiano manifestava mesmo o seu desagrado por o seu filho mais velho beber refrigerantes e comer batatas fritas.

Mas acontece que a Coca-Cola é um dos patrocinadores do Euro 2000 e como referiu a UEFA, sem o apoio de marcas como a Coca-Cola não seria possível organizar uma competição com como esta, nem investir no futebol profissional ao mais alto nível.

Cristiano Ronaldo aufere milhões em publicidade e sabe perfeitamente as implicações que esta sua atitude podia desencadear. É legítimo que preferira beber água a consumir refrigerantes, mas não deve ter gestos que ponham em causa contratos comerciais assumidos pela UEFA quando representa a seleção.

Os jogadores naturalmente poderão ter as preferências no âmbito da sua vida privada e manifestar isso publicamente, nunca quando representam os seus clubes ou as suas seleções.

Contrariamente ao que se especulou, parece que o gesto do craque português não motivou a perda de quatro mil milhões de dólares da marca de refrigerantes em bolsa. Esta possibilidade já foi negada por analistas de mercados financeiros que destacam outras causas para a decida da multinacional em Wall Street.

 

Ter | 01.06.21

A marquise de Cristiano Ronaldo

img_432x244$2021_05_26_18_48_12_1044038.jpg

Cristiano Ronaldo comprou uma penthouse, no centro da cidade, por mais de 7 milhões de euros, com uma vista soberba sobre Lisboa e, provavelmente, para manter alguma privacidade, mandou contruir uma “marquise“ no terraço que para muitos seria um jardim de inverno.

Os vizinhos ficaram indignados e o arquiteto José Mateus, um dos fundadores do gabinete de arquitetura, responsável pelo desenho do edifício, qualificou a marquise como um “desrespeito e a conspurcação de forma ignóbil do nosso trabalho, da nossa arquitetura, sem ter cumulativamente a anuência dos arquitetos, dos vizinhos e sem projeto aprovado pela CML”.

O tema foi suscitado pelo Correio da Manhã, teve naturalmente desenvolvimentos na CMTV, servindo de mote para horas de emissão e para lançar a polémica habitual nas redes sociais.

Ora, para mim, isto é um não assunto. Não me sinto minimamente ofendida com o facto de Cristiano ter uma marquise, num país onde elas abundam. Se é ilegal, o Município de Lisboa que atue em conformidade.

Será que os indignados das marquises também realçaram o facto de ao Cristiano Ronaldo fazer doações ao Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte para equipar Unidades de Cuidados Intensivos? Doações estas que vão permitir equipar duas alas do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para cuidados intensivos? Um investimento de 3,4 milhões de euros que vai permitir dar resposta a mais doentes críticos e oferecer melhores condições de atendimento?

Estes atos filantropos do craque é que são de louvar e devem ser enaltecidos, tudo o mais é puro ruído.