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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sex | 06.12.24

O erro de casting

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Na época passada, o Sporting sagrou-se campeão de forma incontestável, coroando uma temporada histórica. Este ano, até à inesperada saída de Rúben Amorim, o clube atravessava uma das melhores fases desportivas da sua história: 11 vitórias em 11 jogos no campeonato, um desempenho positivo na Liga dos Campeões e boas exibições nas demais competições. O bicampeonato era visto pelos sportinguistas como uma quase certeza.

A saída de Rúben Amorim representou um duro golpe para todos, incluindo para os jogadores. É certo que, independentemente do momento em que ocorresse, a substituição de Amorim seria sempre uma herança pesada. Inevitavelmente, as comparações surgiriam: os sucessos seriam creditados ao legado do antigo treinador, enquanto as derrotas recairiam sobre o sucessor.

Por isso, dada a importância do momento, a escolha do novo treinador exigia máxima ponderação. Contudo, o Presidente do Sporting, Frederico Varandas, optou pelo caminho mais fácil: apresentou João Pereira (JP), um homem da casa, como sucessor de Amorim. Comparou-o ao antigo treinador, projetando que JP, em 4 ou 5 anos, estaria a comandar um grande clube europeu, e fez-nos acreditar que a estrutura montada por Amorim garantiria, só por si, o sucesso desportivo.

O jogo com o Amarante ainda nos fez acreditar nas palavras do Presidente, mas eis que o jogo com o Arsenal veio dissipar todas as dúvidas. A derrota não foi surpreendente – já era esperada –, mas a forma como a equipa se apresentou em campo foi desoladora.

Os jogos com o Santa Clara e com o Moreirense, não obstante os erros de arbitragem, vieram confirmar que JP foi um erro de casting. O facto de JP nem sequer poder dirigir a equipa durante os jogos por não possuir o quarto nível de formação exigido para o campeonato português também não ajuda, e a forma atabalhoada como comunica também é um problema que se vira contra o próprio.

Os próximos dias serão decisivos não apenas para esta época, mas para o futuro do projeto desportivo do Sporting. Manter JP no comando será, a meu ver, um erro crasso. Com ele, o clube corre o sério risco de terminar em 4º ou 5º lugar, ficando fora da Liga dos Campeões. Isso representaria uma perda de receitas na ordem dos 50 milhões de euros, obrigando à venda de jogadores para compensar o prejuízo.

Mas, com o mau desempenho da equipa, os jogadores também se desvalorizam. Viktor Gyökeres que poderia ser vendido por 100 milhões será vendido no máximo por 60 milhões. Jogadores como Inácio, Diomande, Hjulmand, Debast e Pote que são os jogadores com mais mercado, veriam o seu valor descer, abaixo das cláusulas de rescisão.

Nenhum adepto compreenderá que, após um investimento de quase 60 milhões de euros e a manutenção da base da equipa da época transata, o clube desbarate o seu património por escolher um treinador inexperiente, sem habilitações e sem créditos que justificassem essa aposta.

Apostar em JP foi um ato de amadorismo gritante. Agora, é hora de minimizar os danos. Varandas deve admitir o erro e corrigi-lo rapidamente. Persistir na ideia de "dar tempo ao treinador para impor as suas ideias" só agrava a situação.

Nomes como Abel Ferreira e Sérgio Conceição devem ser considerados. Apesar de não serem unânimes para os adeptos, possuem competência técnica e tática comprovada. Até César Peixoto, que mostrou grande capacidade ontem quando defrontamos o Moreirense, seria como uma opção válida.

O momento exige ação rápida e decisiva. O Sporting não pode esperar. É hora de agir e rapidamente.