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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Qua | 01.05.13

Dia do Trabalhador

Comemora-se hoje o dia do trabalhador. Neste dia, em 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação pacífica, exigindo a diminuição da jornada para oito horas. A luta não foi fácil. Mas em 1889 o Congresso Operário Internacional decretou o 1º de Maio, como sendo o Dia Internacional dos Trabalhadores. Em Portugal, durante o Estado Novo, a comemoração deste dia era reprimida. Só a partir de maio de 1974, dias após a revolução de abril, é que se pode comemorar livremente o 1º de Maio e este dia passou, desde então, a ser feriado nacional.

Deixo esta Crónica de Henrique Monteiro no Expresso Online de hoje – “O 1º de Maio e a Internacional

«Hoje milhares de pessoas em Portugal e por todo o mundo sairão à rua a reivindicar melhores condições de vida e de trabalho. Celebram, ao mesmo tempo, a luta de 1886, em Chicago, em defesa das 8 horas diárias de trabalho que a Internacional Socialista, sob proposta de Raymond Lavigne, instituiria três anos depois como Dia do Trabalhador.

Se olharmos para as propostas de há 120 anos, os objetivos dos operários e assalariados estão, no mundo ocidental, quase todos realizados e atingidos. Naturalmente, depois desses vieram outros e ainda há e haverá muitas outras reivindicações por fazer.

O que é curioso é que os pais da Internacional Socialista tiveram a noção de que o movimento operário só se realizaria em todo o mundo. A divisa dos comunistas, aliás, seria "Proletários de Todo o Mundo Uni-vos". Mas a ideia do internacionalismo foi-se perdendo, embora se mantivesse a retórica.

E o internacionalismo é hoje mais evidente do que nunca.

Como foi noticiado (e hoje a revista 'Visão' tem um excelente trabalho sobre o assunto) no Bangladesh ruiu uma fábrica, matando milhares de trabalhadores (sobretudo mulheres). Essas operárias labutavam sol a sol por um salário mensal de 29 (não é gralha, são mesmo 29) euros e produziam camisas e t-shirts que hoje muitos manifestantes vestirão (porque são vendidas nas cadeias de lojas de todo o mundo sob diversas marcas populares, uma vez que saem daquele país a cerca de um euro por unidade).

Naturalmente, aqui está uma parte do sério problema que sentem os trabalhadores e sobretudo os desempregados do Ocidente. O mundo é global, a produção é global e o facto de os trabalhadores ocidentais querem manter (compreensivelmente) os seus privilégios não se coaduna com esta globalidade. Marx e os fundadores do movimento operário pressentiram-no, mas para situações como esta do Bangladesh não me parece que haja efetivamente respostas dos nossos dirigentes sindicais.».