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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sab | 11.05.13

E agora, Dr. Portas?

Paulo Portas está numa encruzilhada. No passado domingo vimos o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros falar ao Pais, com o ar compungido que coloca habitualmente nestes discursos, e proferir: «O primeiro-ministro sabe e creio ter compreendido. Esta é a fronteira que não posso deixar passar», afirmou Portas em conferência de imprensa, na sede do CDS, no largo do Caldas, argumentando que a medida afeta mais de 3 milhões de pensionistas, «num país em que parte da pobreza está nos mais velhos» e que cada vez mais «os avós têm que ajudar os filhos». «Queremos uma sociedade que não descarte os mais velhos», afirmou. Numa intervenção que durou mais de 30 minutos, Portas anunciou que, apesar do primeiro-ministro ter apresentado esta medida na sexta-feira, o acordo dentro do Governo «foi o de procurar medidas suplementares, sobretudo na despesa do Estado, que deem ao governo margem de manobra na negociação com a troika», para deixar cair esta taxa sobre os pensionistas. Mas Paulo Portas foi mais longe ao colocar a questão em termos éticos e morais: «vivo a circunstância política em que tenho de cumprir com o meu dever perante o País e devo também procurar ser quem sou, o que significa estar em paz com a minha consciência.». Passados dois dias a comunicação social noticia que Passos Coelho confirma que a convergência do sistema de pensões vai resultar em cortes para os atuais pensionistas do regime público e voltou, ontem, na Assembleia da Republica a reiterar isso mesmo, quando interpelado pelos deputados da oposição, confirmando igualmente os efeitos retroativos da medida. O CDS-PP ainda não se pronunciou, no entanto, depois de o seu líder se ter batido pelo fim do “cisma grisalho” os centristas ficam numa posição desconfortável. Portas terá forçosamente que justificar mais esta trapalhada política. Das duas, uma: ou tenta acordar com o parceiro de coligação a extinção da medida, garantindo que os pensionistas e reformados não terão os seus rendimentos afetados ou pura e simplesmente rompe com a coligação, deixando a Cavaco Silva o ónus do problema.