Reler os clássicos
Aproveitei hoje um dia passado na praia para reler "A Relíquia", de Eça de Queiroz. A Relíquia é um romance publicado em 1887, cuja epígrafe se tornou célebre – «Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia» – por justamente sintetizar a correspondência entre realismo e imaginação, o naturalismo e o fantástico, patente nesta obra. O livro dá-nos uma visão de um Portugal demasiadamente conservador e uma crítica, contundente e cruel, da sociedade portuguesa, ressaltando os vícios do clero, o que já fora anteriormente feito em «O Crime do padre Amaro». Para além da crítica mordaz ao Portugal do século XIX, tão típica em Eça, a obra remete-nos para a reflexão sobre questões pertinentes, como ambição material desmedida, desprovida de quaisquer princípios éticos e a vacuidade de uma educação baseada em falsos princípios religiosos. Esta narrativa que Eça nos oferece nestas pouco mais de 275 páginas, como de resto, está patente noutras obras do autor, com uma adjetivação soberba, uma crítica social acutilante e uma escrita absolutamente irrepreensível, vem reforçar a ideia de que este é realmente um autor intemporal a que apetece voltar de vez em quando.