Hoje não fiz greve
Hoje não fiz greve. Isso significa que estou contente com a situação política e social que o país atravessa? Não, não estou. Muito pelo contrário. Compreendo e partilho as razões de todos os que aderiram à greve e solidarizo-me com os seus motivos. Mas, sejamos claros. Ninguém acredita que esta paralisação terá consequências tangíveis. A greve dos professores teve, como sabemos, forte impacto na opinião pública porque causou danos, porquanto apontava para um alvo muito concreto – os alunos – Os professores, à semelhança de outros setores, têm um forte poder reivindicativo, coisa que os funcionários públicos de um modo geral não têm. Uma greve geral para ter sucesso efetivo teria que paralisar o país de Norte a Sul, sem exceção, teria de causar entropias no sistema. Ora isso dificilmente acontecerá como sabemos. Por isso, o êxito desta greve não pode ser medido pela adesão dos trabalhadores, porque em certa medida isso até significa poupança nas despesas com pessoal, mas pela dimensão do prejuízo que provoca, percebendo-se que foi precisamente por esta última razão que os sindicatos calendarizaram a greve dos professores para uma data coincidente com os exames e com as avaliações. Por outro lado as centrais sindicais agendaram uma greve geral, sem contudo apresentarem propostas alternativas credíveis que justificassem os trabalhadores, públicos ou privados, lutarem por elas e assim prescindirem de um dia do seu vencimento que com certeza pesará bastante no orçamento familiar, ainda mais no contexto atual. Por isso, amanhã, infelizmente, tudo voltará a ser como antes, tudo regressará à normalidade. E o único efeito mensurável desta greve será o corte de um dia de salário e de subsídio de refeição no vencimento mensal dos trabalhadores que a ela aderiram.