«À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta»
A ex-ministra das Finanças de Passos Coelho foi contratada como diretora pelo grupo Arrow Global, a qual compra e gere dívida de países europeus. Este grupo teve lucros astronómicos em 2015, devido a negócios efetuados em Portugal e na Holanda. Comprou duas empresas do sector em Portugal, a Whitestar e a Gesphone, que estavam envolvidas na compra de ativos do Banif, as quais atingiram 2300 milhões de euros, sendo que a Whitestar comprou cerca de 300 milhões de créditos em risco do Banif enquanto Maria Luís era Ministra de Estado e das Finanças.
Portanto, o se passa é que Maria Luís enquanto estava no Governo representava o Estado como maior acionista do Banif e vai agora trabalhar para os mesmos a quem antes o Banif vendeu ativos.
Já se conhecia a pouca seriedade de Maria Luís no caso dos Swaps. Já se suspeitava da sua incompetência com o Banif e com os números do défice estrutural, ficamos agora a conhecer os princípios éticos que a movem.
O que está em causa não é apenas o regime de incompatibilidades e o período de nojo dos titulares de cargos políticos de que a ex-ministra fez tábua rasa. O que está em causa é o simples facto de uma figura do governo anterior que não faz ideia do que sejam princípios morais e éticos ter desempenhado durante três anos o cargo de ministra das Finanças e do Estado.
É por demais evidente que esta contratação deve passar pelo crivo da Comissão de Inquérito ao Banif e a Comissão de Ética da Assembleia da república deverá pronunciar-se.
Já agora seria do mais elementar bom senso a fim de dissipar toda e qualquer opacidade, alterar a lei que rege o regime de incompatibilidades dos ex-titulares de cargos políticos, no sentido de alargar o período de impedimentos por seis anos, como o Bloco de Esquerda propõe, estendendo o âmbito a todas as empresas privadas do setor ao qual o antigo governante ou deputado esteve ligado durante o período em exerceu funções governativas.
Last but not least, os ventos não estão definitivamente a soprar de feição para a ex-ministra das finanças. É que a Justiça inglesa acaba de dar razão ao Santander Totta no processo contra o Estado depois de Maria Luís Albuquerque ter cancelado nove swaps com o banco. A fatura total para o Estado (leia-se contribuintes) é de 1,8 mil milhões de euros.