Anticiclone dos Açores
O acordo de incidência parlamentar do PSD com o Chega nos Açores caiu que nem uma bomba no Continente, qual anticiclone. Com o Chega com 8% das intenções de voto nas últimas sondagens, à frente do CDS-PP, novas oportunidades de alianças à direita estão a surgir.
O acordo do PSD com o Chega para governar os Açores não é assim tao surpreendente. Claro que entre o Chega e o PSD há diferenças, mas não nos esqueçamos que André Ventura saiu justamente do PSD para fundar o Chega e as divergências entre ambos podem dissipar-se em prol dos objetivos e da ação política que os move.
João Miguel Tavares veio colocar o dedo na ferida ao explicar, de forma clara e transparente, as razões que movem o PSD, CDS, PPM e Iniciativa Liberal ao terem incluído o Chega num acordo de viabilização para um novo governo açoriano e porque é que isso se pode e deve repetir na formação de um governo nacional.
Diz JMT no jornal Público: «se a direita estabelecer uma cerca sanitária à volta do Chega, ela jamais regressará ao poder sem ser à boleia do PS», escreveu ele.
E aqui reside o cerne da questão para a direita. O que interessa e é importante, neste momento, é que sem o Chega o PSD dificilmente chegará ao poder.
Não está em causa para Rui Rio se o Chega é ou não é um partido de extrema direita, se é ou não é neofascista, se é ou não é populista, autoritário, racista, xenófobo, desumano, que não tem pejo de dizer hoje uma coisa e amanha o seu contrário.
Não interessa se com esta atitude o PSD legitima o Chega e André Ventura de forma totalmente inusitada.
É pouco importante para o presidente do PSD se esta coligação irá prejudicar Marcelo Rebelo de Sousa, o seu candidato natural, e beneficiar André Ventura.
É despiciendo se com este acordo poderá o CDS – o seu parceiro natural de coligação – desaparecer nas próximas eleições legislativas.
E, finalmente, é irrelevante para Rio que o PSD possa sair prejudicado a nível nacional, porque muitos sociais-democratas dificilmente votarão num partido que levará ao colo o Chega ao poder.
A assinatura deste acordo de Rui Rio com o Chega poderá também ser o fim de linha para o atual presidente do PSD.