Aumento do número de infetados na região de Lisboa
A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a região do país que mais casos de Covid regista todos os dias – números têm aumentado, sobretudo, desde o desconfinamento.
Importa, por isso, perceber o que realmente falhou em Lisboa. Houve, a meu ver, falhas, omissões, falta de capacidade de planeamento e excesso de otimismo.
Quando começaram a ser conhecidos os indicadores de aumento de novos infetados, as razões apresentadas foram claramente insuficientes ou erráticas no diagnóstico da situação. Atribuíram-se culpas ao desconfinamento e ao aumento de testes nesta zona do país, quando na verdade houve uma falta de um planeamento estratégico de desconfinamento que considerasse a especificidade de cada região. Há também em Portugal, como é evidente, assimetrias regionais no que toca ao Covid.
As mensagens das autoridades de saúde foram desacertadas. Disseram uma coisa e o seu contrário o que baralhou a população, nomeadamente no uso das máscaras, quando alguns países já tinham adotado estes procedimentos com ótimos resultados.
Esteve mal o Governo, a Presidência e as autoridades sanitárias quando deram o seu aval às manifestações do 1º de maio, aos concertos no Campo Pequeno, manifestações antirracismo e outras semelhantes, ao permitir ajuntamentos de pessoas, passando uma vez mais a imagem de que o pior já tinha ficado para trás.
Houve claramente uma má gestão dos transportes públicos. A oferta devia ter sido reforçada de modo a que os utentes pudessem ter sido transportados com o devido distanciamento social e em condições de segurança.
Se verificarmos o mapa das freguesias mais afetadas de Loures, Odivelas, Amadora, Sintra e Lisboa poderemos observar que aquelas zonas concentram bolsas de pobreza e as desigualdades sociais mais acentuadas da zona metropolitana de Lisboa, com péssimas condições de habitação que não permitem o isolamento dos infetados nem dos que com eles contactam.
Verificou-se ainda um descuramento relativamente os imigrantes que residem em Portugal em contextos desfavoráveis que laboram essencialmente na construção civil, em condições precárias, fazendo trabalhos que os autóctones recusam, a preços muito mais baixos, sendo que nesta comunidade o número de casos é acentuado.
Devia ter-se contratado mais profissionais de saúde pública de modo a alocar recursos para travar o número de infetados. A falta de técnicos para rastrear os contactos dos infetados permitiu que o vírus se propagasse mais rapidamente e sem controlo na zona da Grande Lisboa. De acordo com o jornal Expresso, o concelho da Amadora, por exemplo, chegou a ter 100 casos para os quais não foi possível realizar um inquérito epidemiológico completo, por falta de técnicos.
O Governo decretou o prolongamento do estado de calamidade para as 19 freguesias supostamente mais afetadas pela pandemia que consistirá na limitação de ajuntamentos até 10 pessoas, obrigação de encerramento de portas às 20 horas para todos os espaços onde não sejam servidas refeições, proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço, bem como o reforço do policiamento nas ruas e a aplicação de coimas.
Pergunta-se: serão estas medidas suficientes para travar a curva ascendente de novos contágios? Ou será que Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, teria alguma razão ao afirmar que «Lisboa está a colocar em risco todo o país» deixando a sugestão de um cordão sanitário à capital, semelhante ao que foi aplicado em Ovar, muito criticada pelo edil lisboeta?