Catarina soma e segue...
Catarina Martins e Pedro Passos Coelho estiveram ontem frente a frente na RTP Informação. À semelhança do debate com Paulo Portas, Catarina Martins apresentou-se segura e bem preparada e começou desde logo ao ataque com o adiamento da venda do «Novo Banco», considerando que este anúncio foi oportuno para o governo e acusou a coligação de não ter aprendido nada com a crise financeira, designadamente com o BPN que antes tinha classificado de «gangsterismo», convidando o primeiro-ministro a pedir desculpa aos portugueses por lhes ter dito que não seriam obrigados a suportar quaisquer custos com o BES. O primeiro-ministro não pediu, frisando que o Governo não aceitou nacionalizar o BES, contra a vontade do BE e afirmou que cabe ao Banco de Portugal vender a instituição e voltou a garantir que os contribuintes não irão custear o Novo Banco, o que contradiz com esta notícia.
O debate avançou para as consequências da austeridade e dos sacrifícios impostos aos portugueses. Catarina Martins criticou o aumento da dívida pública, «duas vezes e meio superior ao previsto no memorando» e relembrou que o PSD também negociou o memorando. «Sabia bem ao que vinha, disse que não ia fazer empobrecer o país e depois fez», acusou a porta-voz do Bloco de Esquerda. Pedro Passos Coelho assumiu que os últimos quatro anos envolveram muitos sacrifícios, insistindo que quem os trouxe foi a crise e não foram os sacrifícios que trouxeram a crise. Insistiu que não foi ele a pedir a ajuda financeira internacional e que tem havido nos últimos dois anos uma recuperação da economia.
A questão da Segurança Social foi outro dos temas controversos. A deputada do BE questionou o primeiro-ministro sobre o buraco deixado nas contas da Segurança Social devido ao plafonamento das pensões, inscrito no programa da coligação: «Se quem ganha bem mais deixa de descontar tudo para a Segurança Social, como se faz com o buraco que fica nas contas?». Passos como habitualmente não avançou com números referindo que o objetivo é que o Estado não tenha de garantir, no futuro, pensões muito grandes, referindo que esta medida sé se aplicará a pensões mais elevadas, acima de 2.500 ou 3.000 euros. A porta-voz do Bloco de Esquerda disse acreditar que o Governo quer cortar em pensões ou aumentar contribuições para gerar a já famosa poupança de 600 milhões de euros, inscrita no Programa de Estabilidade e Crescimento. Passos voltou a garantir que não haverá um corte nas pensões e mostrou-se comprometido a encontrar alternativas de financiamento.
A líder do BE acusou Passos de esconder os números, acusando-o de «insensibilidade social». Passos recorreu ao exemplo grego, defendeu que os sacrifícios «não nos atiraram ao chão» e considerou que o discurso de Catarina Martins não passa disso mesmo e exemplificou com a mudança de postura do Syriza de Alexis Tsipras na Grécia. Catarina argumentou que Passos Coelho «quando não quer responder vai para o passado ou para outra zona geográfica».
Catarina Martins insistiu, ainda, na necessidade de reestruturar a dívida pública nacional, considerando que o problema da dívida não foi resolvido, classificando-a de «impagável». Para Passos, esta é uma «aventura total» e garantiu que tudo fará para impedir, porque, refere, esta posição abriria a porta à saída do euro.
Quem me lê sabe que em alguns momentos fui bastante crítica em relação ao BE e à sua direção bicéfala. Penso, contudo, que o afastamento de João Semedo deu a Catarina Martins um novo fôlego que a obrigou a assumir outro protagonismo. Nos debates eleitorais a líder do Bloco de Esquerda tem tido um bom desempenho. Em consequência, é provável que o resultado do BE nas próximas eleições não seja tão mau como inicialmente se previra. E se isso se confirmar, as prestações de Catarina Martins não são um pormenor.