DEBATES PRESIDENCIAIS
Os debates presidenciais têm sido mais do mesmo. O melhor e mais esclarecedor debate até agora foi, em minha opinião, entre Marisa Matias e Ana Gomes, na SIC, moderado por Clara de Sousa, com sinal mais para Ana Gomes, porque trouxe para o debate questões importantes para as funções presidenciais, designadamente temas como a defesa nacional.
Porém, no final, o debate foi estragado quando a jornalista perguntou a ambas se “tinham medo de André Ventura”. Ambas negaram, evidentemente, e Ana Gomes reiterou que o seu adversário é Marcelo Rebelo de Sousa. Realmente não havia necessidade de colocar essa questão neste debate, dado que ambas irão ainda debater com o líder do Chega.
Mas o debate que opôs Vitorino Silva e André Ventura foi também muito interessante. Tino, como é conhecido, calceteiro de profissão, com a sua simplicidade conseguiu desarmar o populista Ventura, dando uma lição de humildade, democracia, humanidade e tolerância.
À pergunta por que se candidata? Tino justificou que há cinco anos teve “mais votos que o Iniciativa Liberal e o Chega juntos” e que é por respeito a esses eleitores e milhões de outros que se recandidata. "Por respeito àquelas 152 mil pessoas que votaram em mim e também por respeito àquelas que não votaram, e que foram milhões, e que estão arrependidas", afirmou.
Tino trouxe pedras de várias cores que apanhara junto ao mar de Peniche e explicou que elas simbolizavam os diferentes partidos e eram como as pessoas, de todas as cores que tal como as pedras deviam saber conviver entre si, respeitando-se! “O mar traz pessoas de todas as cores, sou candidato para deitar os muros clandestinos”, abaixo, salientou.
Referindo-se aos ciganos, afirmou: "os ciganos não são burros, são pessoas e eu gosto de falar não de etnias, mas de pessoas", com Ventura a reiterar a sua defesa do corte de apoios sociais e do reforço do controlo da sua justa atribuição (os ciganos recebem demasiados subsídios, só 10% trabalham). Tino acrescentou que existem cidadãos de etnia cigana que não têm emprego porque não lhes dão oportunidade para isso, por serem de ciganos. "É preciso nivelar", defendeu.
Mais adiante, e a propósito da polemica à volta Ministra da Justiça, frisou: “cada macaco no seu galho, não sou candidato para mandar nenhum ministro para o desemprego». Não vou falar pelo primeiro-ministro. Costa foi eleito pelo Povo, agora tem legitimidade para a demitir ou manter os ministros, depois em eleições o Povo o julgará!
Para quem conhece a postura de André Ventura quer em debates, quer nas intervenções no Parlamento, ficou provavelmente surpreendido com um momento que marcou a reta final do frente a frente com Tino de Rans. O deputado Chega sempre com resposta pronta para todas as perguntas, acusações e indiretas, houve uma questão que o deixou sem resposta: seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente ou com de Rui Rio? Ventura reagiu e afirmou: "não vou fazer comentários sobre isso". Perante tal resposta Carlos Daniel afirmou que a resposta era elucidativa. Esta observação surgiu depois de ter sido questionado se via Donald Trump como uma referência, tendo respondido que não e declarado que as suas referências "são homens como Sá Carneiro, como o Papa João Paulo II".
Foi um debate tranquilo, sem gritos e interrupções habituais por parte de André Ventura que percebeu que essa postura jogaria contra si, mas onde claramente Tino de Rans saiu vitorioso,pela sua simplicidade e tolerância.
Tino de Rans como digno representante do povo deixou hoje uma grande lição para os políticos do sistema - que todos os partidos contam - e usou uma metáfora para ilustrar a sua afirmação: "o país precisa da perna esquerda e da perna direita para andar” .
Chapeau, Tino. É desta forma que se combate os populismos, sejam eles de direita, sejam de esqueda.