Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Dom | 05.04.20

Deve-se ou não usar máscara facial?

china-15421382.jpg

Desde o início da pandemia, quando surgiram os primeiros casos de coronavírus na China, verificamos o uso generalizado de máscaras nos países asiáticos e a pouca utilização na Europa. Tal evidência explica-se pelo surto de SARS, em 2002-2003, em que a máscara facial foi associada à responsabilidade coletiva, pelo que foi fazendo parte do dia-a-dia de populações no Japão e China. No entanto, na Europa a utilização de máscaras nunca foi tão usual. A população dificilmente aceita este tipo de medidas. «No Ocidente, por causa da forte resistência e crença na importância de mostrar o rosto, as pessoas tendem a ter ideias negativas sobre as máscaras», explica um professor da universidade de Shumei.


A questão cultural é também muitas vezes usada para explicar esta assimetria entre países asiáticos e europeus, mas em Singapura, no Japão e noutros países asiáticos a utilização de máscaras cirúrgicas é justificada, para lá da questão cultural, pela enorme poluição atmosférica que estes países enfrentam.

 

Desde o início que a Direção Geral de Saúde (DGS) tem uma posição clara em relação à utilização de máscaras faciais pela grande maioria da população. A Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, vem afirmando, reiteradamente, que as máscaras nos dão uma «falsa sensação» de segurança, frisando que «não vale a pena usar máscaras que nem sequer são impermeáveis». «Estas máscaras não servem praticamente para nada». A máscara «acaba por ficar molhada e os vírus passam. Pode até aumentar o risco de contágio. Segundo a recomendação da DGS, a utilização de máscaras cirúrgicas estava circunscrita essencialmente aos profissionais de saúde, segundo os apelos da Organização Mundial de Saúde para não se utilizar máscaras se não está infetado ou se não está a tratar de alguém doente.


Presume-se que esta posição foi tomada para proteger o país de uma corrida às máscaras e de possível subida de preços consequente da rarefação destes materiais, assim como aconteceu com o álcool, o desinfetante em gel e as luvas de proteção.


Por estes dias a DGS, ainda que não recomendando a utilização de máscara à população em geral, alargou a utilização de máscaras a mais alguns grupos profissionais. A lista compreende guardas prisionais, forças de segurança, distribuidores de bens essenciais ao domicílio, profissionais de limpeza de ruas e de recolha de resíduos urbanos, profissionais de alfândegas, aeroportos e portos, responsáveis pela manutenção de ar condicionado, e trabalhadores que façam atendimento ao público, «quando não seja possível a instalação de barreira física».


O facto é que não há base científica que comprove que a utilização de máscaras cirúrgicas seja uma medida para travar a pandemia. Porém, há países europeus que resolveram adotar o seu uso, como formar de reduzir o contágio em massa e a verdade em que o estão a conseguir com algum sucesso.


No caso da República Checa, cientistas e estudiosos, entre eles um microbiologista e virologista, afirmam que «quanto mais pessoas usarem máscaras, menos indivíduos são expostos». Na opinião destes investigadores, mesmo que as pessoas estejam assintomáticas, podem, ainda assim, ser transmissoras do vírus.

 

A entidade responsável pela prevenção e controlo de doenças na Alemanha (RKI), mudou também a sua posição e considera afinal que usar máscaras faciais em espaços públicos pode ajudar a conter a propagação do novo coronavírus. Anteriormente, o RKI tinha definido que apenas doentes com infeções respiratórias deviam usar este tipo de proteção no nariz e boca, mas os especialistas deste instituto reconheceram que esta medida pode reduzir o risco de transmissão e a máscara deve ser usada por pessoas sem sintomas.


O infeciologista Jaime Nina, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, por exemplo, admite, que a máscara cirúrgica possa oferecer um certo nível de proteção em contextos muito específicos. Diz este especialista: «na minha opinião, faz sentido uma pessoa usar uma máscara cirúrgica para se proteger durante um período limitado em que tenha de estar dentro de um ambiente fechado em que haja um risco mensurável de contaminação», em declarações ao Observador, referindo-se a situações concretas do uso de máscaras como transportes públicos, zonas onde exista um historial de transmissão comunitária do vírus ou uma reunião com pessoas que tenham alguma suspeita de estarem infetadas.

 

Uma opinião semelhante é partilhada por Nuno Taveira, professor catedrático no Instituto Universitário Egas Moniz e investigador da Faculdade de Farmácia de Lisboa. Para este professor faz todo o sentido usar máscaras em espaços fechados, desaconselhando o seu uso ao ar livre.

 

Mas, caso decida que deve utilizar máscara, e para o fazer de forma eficaz, tem de ter algumas questões em atenção. É importante que mantenha sempre uma higienização frequente das mãos, e que evite o contacto das mãos com a cara e fazer os seguintes procedimentos, para utilização correta da máscara facial:

Para colocar a máscara

1- Deve sempre lavar as mãos com água e sabão (ou, na sua falta, com álcool gel);

2- Comece por verificar se a máscara tem algum defeito. Mesmo o mais pequeno corte pode tornar inútil essa máscara;

3- Verifique qual é o lado da máscara que deve ficar em contacto com a sua cara (é a face de cor branca) e qual é a parte de cima - encaixe no nariz;

4- Cubra a boca e nariz com a máscara, verificando que não ficam folgas ou espaços entre o rosto e a máscara, principalmente na zona do nariz.

Para remover a máscara

1- Remova a máscara cirúrgica pela parte de trás, nunca toque na parte da frente da máscara, pois é onde o vírus vai estar alojado, se existir. A máscara deve ser imediatamente deitada no lixo, e deve lavar as mãos de novo, durante 20 segundos.

2 - A máscara é descartável, pelo que só tem uma utilização. Não deve ser utilizada mais que 6 horas e assim que esteja húmida, deve ser substituída, tendo sempre o cuidado de lavar ou desinfetar as mãos corretamente, antes da sua aplicação e aquando da sua remoção.


Porém, nunca é demais relembrar que mais eficaz do que usar máscara é importante cumprir as recomendações de distanciamento social e de isolamento voluntário a fim de evitar a propagação do vírus.

2 comentários

Comentar post