Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Qua | 14.10.15

Entendimento à esquerda ou à direita?

Sem Título.jpg

O resultado eleitoral de 4 de outubro apanhou desprevenido um país habituado ao rotativismo cinzento. Os portugueses estão fartos das alternativas de sempre e por isso decidiram não dar maioria a nenhuma força política, forçando-as a entendimentos e elegendo o PS como partido de charneira, porque dele depende qualquer das soluções encontradas.

Cresce sobretudo à direita, mas também em alguns setores do centro-direita o nervosismo e a ansiedade à medida que António Costa continua o périplo pelos partidos de esquerda, tentando conseguir consensos para formar um Governo alternativo.

Embora, como já aqui tive oportunidade de manifestar, não seja partidária de um entendimento à esquerda porque os portugueses, a meu ver, rejeitaram a autoridade dos partidos da coligação, mas não optaram pela via radical proposta quer pelo PCP, quer pelo BE, entendo, no entanto, que as coligações pós-eleitorais são um cenário legitimamente constitucional quer na política portuguesa como na política europeia e não devem ser tidos como soluções impossíveis.

Todavia, entendo que neste quadro há riscos no entendimento do PS com os partidos mais à esquerda. Um Governo com PCP, PEV e BE implicaria que António Costa passasse de líder eleitoralmente debilitado a novo primeiro-ministro politicamente fragilizado. O acordo garantiria a sua sobrevivência política, mas apenas no curto prazo. Primeiro porque ficaria sempre refém desse apoio, depois porque obrigaria o partido a um novo reposicionamento político e finalmente porque a coligação começaria a pensar no modo de capitalizar o novo estatuto do seu adversário político mais direto, tentando obter outra maioria absoluta em próximas eleições, muito provavelmente antecipadas.

Ao invés, se o PS fizesse um entendimento à sua direita, teria a capacidade para governar com um programa centrado nas quatro linhas de força essenciais para António Costa (acabar austeridade, defender e promover o estado social, impulsionar educação conhecimento, inovação e cultura e cumprir as obrigações instituições internacionais) funcionando como fiel da balança e proporcionaria estabilidade, coesão e consistência política durante os próximos quatro anos e até lá teria tempo e possibilidade de aparecer em vantagem para disputar as próximas eleições.