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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Dom | 03.05.20

Entrada de leão e saída de sendeiro

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Não concordo com a triste imagem da Alameda, proporcionada apela CGTP. Mais de 600 pessoas na comemoração do 1º de Maio em pleno estado de emergência. Além de terem estado num ajuntamento, ainda que permitido, circularam entre concelhos — as deslocações intermunicipais estão impedidas neste fim de semana alargado! Apenas podem deslocar-se a outros concelhos, trabalhadores ou titulares de cargos públicos. Foi por isso ilegal participar nas manifestações da CGTP pessoas que não residam em Lisboa. Se assim não fosse, não fariam qualquer sentido as operações auto-stop promovidas pela PSP.


Não pode haver direitos diferentes para diferentes pessoas! Pese embora tenham cumprido o distanciamento físico, é sobretudo a mensagem que se passa aos portugueses que se mantêm em casa, cumprindo as regras de confinamento – Há exceções na excecionalidade.


Dito isto e passando para a entrevista de Rodrigo Guedes de Carvalho a Marta Temido, esteve mal o jornalista. Entrou ‘a pés juntos’ e limitou-se a espicaçar a entrevistada. Deixou-se, claramente, levar pela emoção, patente na linguagem não verbal (nervosismo, agressividade, hostilidade, tremor de mãos e boca seca). Foram pertinentes as perguntas que muitos gostavam de ver respondidas. Houve a meu ver um problema na forma, não no conteúdo. O entrevistador teve entrada de leão e saída de sendeiro, acabando por elogiar a ministra, desejando-lhe os maiores sucessos, através daquelas suas tiradas que são seu apanágio.


Marta Temido, visivelmente cansada, passados dois meses, com uma entrega total, a fazer tudo o que sabe e pode, tem mostrado estar à altura de uma situação única e dificílima que, até hoje, nenhum outro governante experimentou. Se alguém merece um aplauso gigantesco durante esta crise é, sem dúvida, o SNS e, para o bem ou para o mal, Marta Temido é o rosto do SNS. Nem tudo correu bem, claro, mas isso é a vida. Num ou noutro momento da entrevista mostrou-se mais irritada, levantou o tom de voz, mas, no cômputo geral, a figura da ministra responsável pela pasta da saúde saiu reforçada.


Quanto ao jornalismo perdeu mais uma oportunidade de cumprir a sua função.

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