«Entre o perdão e o esquecimento»
«Foi uma semana de apelos à bondade. A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, pediu desculpa pela falência do Citius mas não pela reforma do mapa judicial. O ministro da Educação, Nuno Crato, pediu desculpa pelo erro na colocação dos professores mas não pela deficiente abertura do ano escolar. O primeiro-ministro, Passos Coelho, ter-se-á esquecido dos rendimentos da Tecnoforma quando supostamente beneficiava, enquanto deputado e durante quatro anos, do regime de exclusividade dos deputados que impõe, à luz da lei, a não acumulação de rendimentos. Segundo o seu gabinete, o regime de exclusividade reportava-se a 1992 e não a 1995/99, anos que suscitam dúvidas. E é por ter dúvidas que Passos Coelho não pediu desculpa. Alegou confusão. Ao arrepio do passado de Cavaco Silva, não é verdade que o nosso primeiro-ministro não tenha dúvidas: mas a verdade é que ele se engana e muito. Desculpas antecipadas não são devidas.».
Miguel Guedes, «Entre o perdão e o esquecimento», JN