Entrevista dos duques de Sussex
Vi a entrevista com Meghan Markle e do príncipe Harry, duques de Sussex a Oprah Winfrey. Foram quase duas horas de uma conversa em que Meghan surgiu irrepreensível, com um vestido Armani e com uma pulseira de diamantes, que pertencia a Diana de Galles, em que aborda problemas de racismo, problemas de ordem psicológica e de falta de liberdade de que foi alvo por parte da realeza britânica.
Nada naquela entrevista foi descurado: a voz, as pausas, o penteado, os gestos, a maquilhagem suave, o discurso articulado, o cenário idílico, tudo ali foi pensado ao pormenor e é de alguém que sabe bem usar as câmaras em seu favor, ou não tivesse ela sido atriz.
Meghan Markle, nascida na Califórnia, ficou conhecida pelo seu papel na série norte-americana Suits. O seu nome saltou para a ribalta quando se criou rumores de um possível romance com o Príncipe Harry e sobre o qual disse desconhecer até então.
Desde o momento que o seu noivado com Harry foi anunciado, o mundo ficou rendido ao romance entre ambos. Porém, nem tudo foi um mar de rosas. Desde então, Meghan, na altura com 36 anos, enfrentou várias polémicas, desencadeadas por tabloides britânicos e foi mesmo apelidada de "alpinista social", tendo sido acusada de querer ser uma versão Diana 2.0. E como se não bastasse, o seu passado foi vasculhado, designadamente a má relação com familiares do lado paterno, o seu casamento com o produtor norte-americano Trevor Engelson e, ainda, uma suposta a relação que manteve com um ator porno.
Relativamente à entrevista, Meghan admitiu que não fazia a mínima ideia daquilo que a esperava como membro da família real. Contou que que a vida real não foi fácil. Logo após o casamento, todos os seus pertences e o passaporte foram confiscados. Que não lhe era permitido fazer nada para além do que lhe estava atribuído em agenda. Não lhe era consentido sair, almoçar com amigos, passear, sem permissão da “firma”, expressão utilizada para se referir à instituição que gere a monarquia britânica.
Com o passar dos tempos, o seu estado psicológico ficou claramente afetado, refere, ao ponto de pensar em pôr termo à vida, mas quando pediu ajuda ao Palácio esta foi-lhe negada, com a justificação de que não era benéfico para a imagem da realeza.
A situação piorou, ainda mais, diz, quando informaram a família real que estavam à espera de um bebé e aí tomaram consciência de que o filho não iria receber um título real ou ter direito a segurança. Na entrevista sugeriu que isso pudesse estar relacionado com questões de ordem racial, nomeadamente sobre quão escura a pele do bebé poderia ser quando nascesse. Isso chegou através do Harry, foram conversas que a família teve com ele, recusando-se Harry a referir o nome do membro da família com quem discutiu este assunto.
Conforme iam saindo notícias suas nos jornais britânicos que segundo a duquesa eram falsas, tais notícias nunca foram desmentidas pela família real. «Disseram-me sempre para dizer ‘não comento’ e não me preocupar porque eles me iriam proteger». «Mais tarde vim a perceber que não só não me protegiam como mentiam para proteger outros membros da família, e comigo não eram capazes de dizer a verdade para o fazerem».
Para Harry, sair da realeza e emigrar para os EUA foi a única solução para salvar Meghan e evitar que a história da mãe se repetisse. Harry diz que saiu pela falta de apoio e lamentou, acrescentando que a relação com o pai, o príncipe Carlos, se deteriorou desde então.
Sobre o irmão, declarou o seu amor profundo por William, mas não escondeu que neste momento estão afastados. No entanto, acredita que o tempo curará tudo.
Ao recordar a mãe, Harry não tem dúvidas de que a princesa Diana estaria do seu lado no meio de toda esta polémica. «Acho que ela estaria muito zangada com tudo isto. Mas o que ela quereria é que fossemos felizes.».
Pertencer à realeza britânica pode parecer um sonho saído de um verdadeiro conto de fadas, mas os títulos de Rainha, Princesa ou Duquesa, acarretam também algumas obrigações. Por outro lado, é difícil acreditar que uma pessoa que trabalha no mundo das celebridades em Hollywood, mesmo vivendo em outro continente, não conhecesse a história da princesa Diana, nem tão-pouco soubesse que, em 1995, Lady Di tinha dado uma entrevista, onde expunha a forma como tinha sido tratada pela instituição durante o seu casamento com o príncipe Carlos. Todo o mundo sabia!
É também difícil acreditar que Meghan Markle, quando se preparava para manter uma relação de intimidade com o príncipe Harry, não só desconhecesse quem Harry era, como não tivesse procurado mais informações sobre o príncipe, numa altura em que vivemos num mundo global e que a intranet faz parte das nossas vidas.
A opinião pública divide-se entre os que consideram Meghan uma oportunista e aqueles que reveem esta história como uma sequela do que há uns anos se passou com a Princesa Diana.
Acredito piamente que Diana de Galles aos 20 anos desconhecesse o que a esperava e se deixasse levar pelo conto de fadas, mas creio que Meghan Markle, aos 36, já bem vivida, saiba bem no que se meteu, quando decidiu contrair matrimónio com o príncipe Harry.
Sempre tive dificuldade em compreender como é que alguém consegue expor a sua vida privada ao mundo, sem um forte motivo. Por isso, julgo que estas duas horas passadas com Oprah Winfrey serviram, única e exclusivamente, para a duquesa de Sussex construir uma narrativa da vitima e utilizá-la quando lhe der jeito e, ainda, para arrecadar vantagens, sejam elas de ordem pessoal ou pecuniária.