Festa do Avante
Não sou objetivamente contra a realização da festa do Avante. O evento tem num espaço aberto, de 300 mil metros quadrados, só serão permitidas entradas de um terço das pessoas, naturalmente protegidas por máscaras e todos os espaços respeitarão a distância adequada e as regras sanitárias impostas pela DGS. Aliás têm existido vários eventos por esse país fora, festivais ou acontecimentos como as feiras do livro lotadas, passando por transportes públicos e praias à pinha.
Mas havendo a festa do Avante nos termos já anunciados e com uma afluência prevista e autorizada de cerca de 16.000 pessoas impõe-se, em nome da justiça e da igualdade, o regresso dos adeptos aos estádios de futebol e a todas as competições desportivas.
E também o regresso dos festivais de música (há mais músicos e bandas a participar no Avante do que na esmagadora maioria dos espetáculos que foram cancelados) e do cinema, do teatro com público e o retomar da atividade dos bares e discotecas e restantes sectores de animação como as feiras e parques temáticos que estão a sofrer e muito com a suspensão temporária dos eventos. Não pode haver dois pesos e duas medidas e o PCP não pode ser tratado como um Estado dentro do próprio Estado, com direito a benesses e regras sanitárias excecionais. Nenhum português compreenderia isso, exceto os comunistas.
Ora se a questão premente é a retoma da economia, não pode ser dada apenas a possibilidade ao PCP de realizar receitas. Há outros setores que necessitam urgentemente de regressar à normalidade. Até porque, depois da Festa do Avante, não haverá mais como justificar que as atividades desportivas, culturais, feiras e restauração não retomem o seu funcionamento regular.
Apesar de não ser totalmente contra a sua realização pelos motivos atrás expendidos, concordo com algumas vozes que reclamam que este ano esta festa não faz qualquer sentido. Penso até que deveria ser o próprio partido a decidir o seu cancelamento, à semelhança do que fizeram outras forças políticas.
Os portugueses dificilmente aceitam que uma festa, que não é mais do que uma rentrée politica, não possa deixar de se realizar num ano atípico como este. Veja-se aliás a atitude da população e dos lojistas do Seixal e da zona envolvente à Quinta da Atalaia que sempre acarinharam este evento, como forma de aumentar os seus lucros, agora preferem fechar portas durante a realização da festa e assim evitarem comportamentos de risco para saúde.
É uma teimosia que pode sair cara aos comunistas. O PCP que outrora tinham como trunfo a empatia com a população, a interpretação do sentimento popular, criando a ideia de estarem sempre ao lado dos problemas trabalhadores, esse afeto poderá ser quebrado e com consequências eleitorais.
O governo cedeu em autorizar a festa do Avante, talvez em troca do apoio dos comunistas para apoiar o Orçamento de Estado, mas este pode ser um presente envenenado dado por António Costa a Jerónimo de Sousa.