Marcelino da Mata
Tenente-Coronel do Exército Português, natural da Guiné-Bissau, morreu há uns dias, no Hospital Amadora-Sintra, aos 80 anos, vítima de Covid-19. No no seu funeral marcaram presença o Chefe do Estado-Maior do Exército, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A maior parte dos portugueses, onde me incluo, não fazia a mais pálida ideia de quem tinha sido Marcelino da Mata, só tomando conhecimento da sua existência, quando uma certa direita decidiu homenageá-lo, alegando que tinha sido o militar mais condecorado de sempre do Exército Português, tendo o CDS inclusive pedido para que se decretasse luto nacional e que o militar tivesse honras de Estado na despedida.
Este argumento não é corroborado por algumas franjas de setores mais à esquerda, como Fernando Rosas que referiu que “Marcelino da Mata traiu a causa de independência do seu próprio país" ou de Vasco Lourenço que escreve no Público que “a promoção de Marcelino da Mata, a existir, constituirá uma enorme vergonha para o Portugal de abril”.
Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo e ex-assessor parlamentar do BE, chamou-lhe ‘sanguinário’ e ‘criminoso de guerra’ no twitter, alegando que o serviço prestado nas antigas colónias por este militar não pode ser merecedor de respeito e, muito menos, de honras em democracia, criticando, ainda o facto de o CDS-PP ter apresentado no parlamento um voto de pesar pela sua morte.
Na sequência da publicação de Mamadou Ba, o Chega aproveitou a deixa para exigir a sua saída imediata do grupo de trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação, criado pelo Governo em janeiro, por ter insultado a memória de Marcelino da Mata, garantindo que vai apresentar queixa do dirigente do SOS Racismo à PGR, “por ofender gravemente a memória de pessoa falecida”, um crime punível com seis meses de prisão.
Entretanto quase 15.000 pessoas aderiram, desde domingo, a uma petição pública virtual que exige a deportação do ativista antirracismo, devido a comentários depreciativos sobre o falecido e condecorado militar.
Não sei se Marcelino Mata foi herói ou criminoso enquanto combatente das antigas colónias, não me cabe a mim julgar, mas não deixa de ser curioso verificar que os mesmos que elogiam Marcelino da Mata são os mesmos que mandam para a "terra deles" os negros nascidos em Portugal.
A forma de eleger heróis depende naturalmente da opinião e valores de cada um e, por conseguinte, é sempre subjetiva. No caso em apreço parece-me impregnada de um certo saudosismo colonial, acompanhada da ideia de que não há racismo em Portugal. No fundo, é destes heróis que a direita precisa para continuar a alimentar a sua retórica verbal nas redes sociais e no espaço mediático.