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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Dom | 01.03.20

Não paniquem

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A capa do Expresso de ontem causou um alarmismo desnecessário ao referir que: “Graça Freitas admite um milhão de infetados em Portugal”, a fazer lembrar muito notícias tituladas pelo Correio da Manhã.


Até porque quando começamos a ler a notícia, propriamente dita, a Diretora Geral da Saúde refere que estão a trabalhar sobre cenários à semelhança do que havia sido feita para a pandemia da Gripe A, em 2009, diz a Dra. Graça Freitas: «Na altura, pensávamos que podia ter uma taxa total de ataque de 10%: um milhão de pessoas doentes ao longo de 12 semanas, mas não todas graves. Mas, afinal, foram 7%, cerca de 700 mil pessoas no total da época gripal de 2009/ 10. Uma epidemia depende da taxa de ataque, da duração e da gravidade. No caso do Covid-19, ainda não sabemos tudo para fazer cenários tão bem feitos. Assim, estamos a fazer cenários para uma taxa total de ataque de 10% [um milhão de portugueses] e assumindo que vai haver uma propagação epidémica mais intensa durante, pelo menos, 12 a 14 semanas. Temos estudos que nos dizem que 80% vão ter doença ligeira e moderada e só 20% terão doença mais grave e 5% evolução crítica. A taxa de mortalidade será à volta de 2,3% a 2,4%. No cenário mais plausível prevemos cerca de 21 mil casos na semana mais crítica, dos quais 19 mil ligeiros - não é muito, é como a gripe - e 1700 graves, que terão de ser internados, nem todos em cuidados intensivos. E nessa fase haverá camas em todos os hospitais».


Ainda a este respeito partilho convosco um texto da autoria de Alexandra Vasconcelos, muito avisado sobre o coronavírus:

 

«A recente avalanche de notícias e a falta de rigor que as caracterizam estão a provocar uma situação que é no mínimo ridícula: criam nas pessoas o medo do coronavírus. Ora vejamos:

 

É especulativa a forma como tentam espalhar o pânico sobre uma epidemia mais inofensiva do que uma gripe vulgar (normalmente morrem em Portugal cerca de 3 000 pessoas, por Inverno, devido à gripe). Não entendo o interesse em espalhar o medo e asfixiar a economia, ao invés de explicar como nos podemos defender desta e de outras doenças mais graves que crescem vertiginosamente. Não seria mais útil para as pessoas ensinar-lhe como se podem proteger, melhorando a eficiência do sistema imunitário? Ou talvez seja mais rentável lançar rapidamente uma vacina para o coronavírus?


E o mais extraordinário é que muitos continuam a acreditar mais nas notícias oriundas da comunicação social do que nas informações veiculadas por entidades reconhecidas cientificamente.


É obvio que devemos ter cuidado com o contágio, como o devemos fazer em relação a todas as epidemias sazonais que aparecem todos os anos. A ameaça é real, mas não podemos criar ambientes de terror. Este vírus não circula na comunidade da maioria dos países (excepto China e Itália). Porque não informam que a mortalidade e virulência do vírus é menos do que as de uma gripe comum? Em pessoas mais novas a incidência de mortalidade é nula e a recuperação é muito rápida e quase sem sintomas. Entre os 30 e os 40 anos só 0,2 % morrem e apenas as pessoas que têm comorbidades associadas A taxa de mortalidade mais alta é de cerca de 14% e em pessoas com mais de 85 anos, mas ainda assim muito menor do que a mortalidade causada pelo vírus da gripe que já conhecemos, ou por pneumonia, ou por tantas outras doenças.


Mesmo na China, epicentro da epidemia, não há nenhuma criança que tenha morrido e as pessoas contagiadas ultrapassam a situação mais rapidamente do que ultrapassariam numa gripe ou pneumonia.


O comportamento deste vírus é semelhante ao vírus da gripe e para haver contaminação há necessidade de um contacto próximo. É completamente ridícula a corrida às máscaras e desinfectantes para evitar o vírus que menos mata e é menos agressivo. Trata-se de uma estirpe nova de um vírus que já existia. Porque será que pouco ou nada se fala em corrigir o nosso terreno, tornando-nos mais fortes e resistentes?