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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 26.05.14

No rescaldo das eleições europeias

(fonte: Henricartoon)
No rescaldo das eleições europeias importa tecer alguns comentários. A abstenção e Marinho Pinto foram os grandes vencedores da noite eleitoral. Os votos brancos e nulos, totalizaram 7,5%. Com a abstenção em 66,1%, temos um excelente retrato do desinteresse - ou melhor, alheamento - do processo eleitoral europeu no território nacional. É mau para a democracia? É, mas é o que temos. Isto é também um sério aviso ao regime.

António Marinho e Pinto, cabeça de lista pelo MPT, foi a surpresa destas eleições, ao somar mais de 7%, com a sua eleição e possibilidade de eleger ainda o segundo eurodeputado, assumindo a sua eleição como uma «vitória da humildade, da combatividade e da persistência».

O BE luta pela sobrevivência, muito por culpa da pulverização dos partidos à sua esquerda. Conseguiu, ainda assim, a eleição de Marisa Matias, mas perdeu dois deputados em relação a 2009. Já o Livre e Rui Tavares reuniram 2,18% dos votos expressos, sendo o sexto partido político que recolheu mais votos, não conseguindo, no entanto, eleger nenhum deputado.

A CDU teve um resultado interessante e o seu cabeça de lista, João Ferreira assumiu que os resultados previsíveis para a noite eleitoral atribuem «um reforço da CDU» que é, no seu entender, «um fator de esperança» para o país.

A coligação de direita teve, ontem, uma derrota histórica, arriscar-me-ia a dizer que foi a maior derrota de sempre, em democracia. PSD e CDS-PP,  juntos, não chegaram aos 30%, o que significa uma queda brutal. Não era inesperada, e foi a resposta a três anos de má governação e, nessa medida, constitui  um plebiscito á ação governativa e funcionaram como verdadeiras "primárias" das próximas legislativas.

O PS ganhou as eleições, mas também não pode cantar de galo. António José Seguro tem muito menos votos, e ficou em percentagem muito abaixo de Ferro Rodrigues e mesmo de Sócrates. Assim,  o PS em vez de ganhar votos, perde, não conseguindo capitalizar o descontentamento popular.

A um ano e pouco das legislativas, estas eleições mostraram a recomposição do eleitorado e, sem prejuízo de outras análises mais elaboradas, temos como consequência das eleições desta noite: uma classe política, em geral, descredibilizada, com o eleitorado a mostrar grande descrença nas instituições e nos partidos do sistema; uma maioria PSD/CDS punida, ou seja, a saturação da austeridade; um PS estagnado e com a atual liderança ameaçada, a partir de hoje, fruto de uma vantagem tão curta como a que Seguro teve ontem.

Assim, caso a economia melhore nos próximos meses, é bem possível que a coligação de centro-direita ainda recupere votos, apesar da sua péssima governação e Seguro fique numa posição periclitante.

As eleições europeias de domingo revelaram, ainda, um avanço da extrema-direita na Europa. O resultado francês é só a amostra mais evidente da radicalização em que a Europa mergulhou. Os poucos eleitores que votaram (43,1%) extremaram posições: nos países ricos, a extrema direita ganhou terreno (no Reino Unido, por exemplo,  venceu o partido eurocético, UKIP com 35%). Nos países mais pobres ou intervencionados pela troika, foi a esquerda radical que ganhou pontos, como o triunfo da Coligação da Esquerda Radical na Grécia, com Syriza a vencer um ato eleitoral pela primeira vez.

O Partido Popular Europeu venceu em quase toda a Europa, embora tenha perdido quase 60 eurodeputados em relação a 2009. Jean-Claude Juncker pode ser o próximo presidente da Comissão Europeia, sucedendo a Durão Barroso.

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