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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sex | 18.09.15

O debate das radios.

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A generalidade dos comentadores, depois de ter considerado que António Costa venceu claramente o primeiro debate com Passos Coelho, considerou que no segundo frente-a-frente, das rádios, Passos Coelho esteve melhor.

Referem que a vitória se deveu ao facto de Passos Coelho ter adotado estratégias ausentes no primeiro debate − maior combatividade, não mencionar o nome de José Sócrates e poucas referências ao governo grego do Syriza − bem como a dificuldade sentida por António Costa em explicar o corte de mil milhões nas prestações sociais.

Para o debate de ontem, os assessores de comunicação mudaram de tática e puseram Passos ao ataque. Assistimos, então, a uma troca de argumentos em torno do programa eleitoral do Partido Socialista. O que que é surpreendente é que tenha incidido quase que exclusivamente sobre as propostas e as contas do PS, deixando de lado as propostas concretas e as contas da coligação.

Isto só demonstra que o partido socialista se apresentou ao eleitorado com uma postura categórica: disse ao que vinha e quais os objetivos que pretende alcançar se for Governo. Esta forma de atuar contrasta em muito com a atitude da coligação, que se apresenta sem programa eleitoral, que se conheça, e muito menos com contas para apresentar. Mas também não é necessário. Sabemos que a coligação, se ganhar as eleições, prepara-se para reeditar mais quatro anos iguais ou piores que os anteriores.

Apoio-me deste estudo de Alexandre Abreu publicado no Expresso intitulado «O governo chumba-se a si próprio» para que se perceba a situação antes e depois destes quatro anos de governação PSD-CDS-PP. Penso que não restam dúvidas…

«Conclusão: um governo que se chumba a si próprio»:

«Em 2011, Álvaro Santos Pereira recorreu a oito indicadores económicos para proporcionar uma imagem sintética da governação socialista. Concluiu então que esse governo deixava “um legado de tal forma terrível que vai marcar inexoravelmente as nossas vidas e as dos nossos filhos”.

Quatro anos depois, prolongando a análise com recurso aos mesmos indicadores, verificamos que um está hoje em níveis idênticos aos de há quatro anos (taxa de desemprego), um melhorou significativamente (saldo da balança corrente) e seis pioraram consideravelmente (crescimento do PIB potencial, dívida pública, dívida externa bruta, dívida externa líquida, emigração forçada pelas circunstâncias económicas e divergência face à Europa). No fundo, o governo melhorou o saldo externo e piorou tudo o resto. E nem sequer estamos a trazer para a análise os níveis de pobreza, de desigualdade, do salário médio, da cobertura dos apoios sociais ou do emprego total.

Por outras palavras, o governo PSD-CDS, nesta auto-avaliação legitimada por antecipação, chumba-se a si próprio sem apelo nem agravo. O “triste legado” então exaustivamente identificado é hoje muito mais triste e ainda mais pesado. Os “piores indicadores económicos desde 1892” são hoje, quase sem excepção, muito piores.

Espera-se, para parafrasear uma última vez Álvaro Santos Pereira, que quando os eleitores forem votar no dia 4 de Outubro não se esqueçam dos verdadeiros factos desta governação».