O Fenómeno Marinho e Pinto
Na noite eleitoral, assisti, perplexa, certamente como muitos portugueses, às primeiras projeções que davam conta não só da eleição de Marinho e Pinto, mas também da possibilidade de o MPT poder ainda eleger mais um deputado, o que se veio a confirmar.
No dia seguinte, mais surpreendida fiquei quando percebi que três colegas do meu departamento que habitualmente votavam no PS ou no PSD confessaram terem nestas eleições votado em Marinho e Pinto. Naturalmente que nada tenho nada contra a eleição de Marinho e Pinto, até porque o voto popular é soberano. O que preocupa é a razão que levou ao voto neste candidato. Não deixa de ser interessante o fenómeno Marinho Pinto, que acaba por capitalizar um voto de protesto, um voto contra a oligarquia tradicional dos partidos políticos.
Os portugueses acabaram de eleger um eurodeputado que não tem linha programática, nem ideologia, nem objetivos claros, a não ser, unicamente ser eleito, ir para Bruxelas, fazer o quê? Pois… não sabemos. Mas, o certo é que se a campanha tivesse tido maior impacto mediático, com debates eleitorais televisivos (o que não acontece devido à “estranha” lei eleitoral), o score eleitoral no candidato do MPT, acredito, poderia ser mais expressivo.
A culpa obviamente não é dele e muito menos de quem nele votou. A culpa é dos partidos que se comportam como estruturas monolíticas, dando assim espaço e oportunidade para que continuem a aparecer este tipo de candidatos! Os eleitores, por seu turno, estão ávidos de novos protagonistas que possam personificar esse desencanto com a política e ao mesmo tempo possam dar esperança. Mesmo que depois sejam uma ilusão!
Já nas eleições autárquicas havíamos assistido a um fenómeno semelhante: a votação em candidaturas ditas independentes provocou uma alteração na forma como os portugueses abordaram até então as questões eleitorais e a consequente representatividade política. Percebeu-se aí que existiu uma clara mensagem do eleitorado relativamente ao monopólio dos partidos ditos tradicionais.
Demasiados desacertos da classe política abriram espaço ao aparecimento destes epifenómenos como o de Marinho e Pinto.
Ainda assim, Portugal pode orgulhar-se de não ter partidos de extrema-direita preocupantes, à semelhança do que acontece em França, e de não ter movimentos como o do italiano Beppe Grillo, que exploram de forma gratuita a descredibilização da classe política tradicional. Mas esse tempo pode estar a terminar.
Um dia, talvez, não muito longe, arriscamo-nos a ter um qualquer candidato, com ideias extremistas, que consegue capitalizar os votos de protesto de toda uma classe descontente que continua a não se rever nem nos partidos do governo nem nos partidos da oposição. Não reconhecer isto, é enfiar a cabeça na areia e isso é o que mais me preocupa.