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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 19.05.25

O fim do bipartidarismo

 

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A Aliança Democrática (AD) venceu as eleições legislativas com 32,7% dos votos, conquistando uma "maioria maior" do que a alcançada em 2024. No entanto, o resultado continua insuficiente para garantir uma maioria estável.

O grande derrotado da noite foi o Partido Socialista (PS), que elegeu o mesmo número de deputados (58) que o Chega. Com os quatro mandatos do círculo da emigração ainda por apurar, há uma forte probabilidade do Chega ultrapassar o PS e se afirmar como a segunda maior força política no Parlamento. Em 2024, neste mesmo círculo, o Chega conquistou dois mandatos contra apenas um do PS — cenário que, a repetir-se, consolidaria essa ascensão. Este foi o pior resultado dos socialistas desde 1987, quando obtiveram apenas 22,2% dos votos nas eleições que deram a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva. A dimensão da derrota levou à demissão de Pedro Nuno Santos da liderança do PS.

A Iniciativa Liberal (IL) ficou em quarto lugar, com 5,53% dos votos, aumentando o seu grupo parlamentar para nove deputados. O Livre, com 4,20%, passou de quatro para seis deputados, tornando-se o único partido de esquerda a crescer nestas eleições.

A CDU obteve 3,03% e perdeu um deputado, ficando agora com três. O Bloco de Esquerda (BE), com apenas 2%, sofreu uma das maiores quedas da noite, reduzindo-se a um único deputado (menos quatro face à legislatura anterior). O PAN, com 1,36%, conseguiu reeleger Inês Sousa Real, enquanto o estreante Juntos Pelo Povo (JPP) — que nas regionais da Madeira foi a segunda força mais votada — garantiu a sua estreia parlamentar a nível nacional.

A composição parlamentar sofreu alterações significativas: a AD ganhou 10 deputados, o PS perdeu 19, o Chega somou mais 10, e um novo partido entrou no Parlamento.

Três vencedores se destacaram na noite eleitoral: Luís Montenegro, André Ventura e Rui Tavares.

Luís Montenegro vê a sua legitimidade reforçada, apesar de ter liderado um governo derrubado por uma polémica relacionada com a empresa familiar, Spinumviva. Voltará a liderar um governo minoritário, mantendo-se a necessidade de negociações com outras forças políticas para assegurar a governabilidade, essencialmente com o PS e com o Chega. Os resultados mostram que, apesar da vitória, o país não entra numa fase de maior estabilidade política.

Rui Tavares emerge como um dos vencedores da noite. O Livre consolidou-se como a quinta força política e passa a contar com um grupo parlamentar mais robusto, o que lhe confere maior relevância no debate político e legislativo. Foi o único partido à esquerda que aumentou o número de deputados.

Mas o grande vencedor destas eleições é, sem dúvida, André Ventura. O Chega voltou a crescer, desafiando tanto a direita como a esquerda. A sua narrativa radical, anti-imigração, marcada pelo populismo de direita, nacionalismo e vitimização política, parece ter conquistado uma fatia significativa do eleitorado. A possibilidade de o partido atingir cerca de 60 deputados representa uma transformação profunda no sistema político português, que poderá evoluir de um bipartidarismo para um novo paradigma tripartidário, com três forças políticas de dimensão comparável.

Com esta nova configuração parlamentar, a maioria de dois terços — até agora assegurada por PS e PSD, necessária para qualquer revisão constitucional — deixa de estar garantida. Com os novos resultados, a direita (AD, Chega e IL) poderá, em conjunto, alcançar os 154 deputados necessários para alterar a Constituição da República Portuguesa, nomear juízes para o Tribunal Constitucional e influenciar os órgãos que regem as magistraturas e o Ministério Público.

O Chega já manifestou a intenção de propor reformas profundas, como a redução do número de deputados para um mínimo de 100 e máximo de 180, a revisão do mapa eleitoral, o fim dos limites das penas para reintroduzir a prisão perpétua e a instituição do voto obrigatório. O partido defende ainda uma “limpeza ideológica da Constituição” e, na área da educação, pretende garantir o respeito e o financiamento para os vários modelos de ensino, incluindo o privado e o religioso.

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