O futuro político passa por António Costa
Por que razão deve o PS privilegiar entendimentos com o PCP e o BE, com os quais que nunca até hoje se entendeu, devido a divergências doutrinárias profundas (o PCP e o BE defendem a saída de Portugal da NATO e a saída do euro e a reestruturação da dívida)? O BE e o PCP têm ao longo destes anos, acusado sistematicamente o PS de ser um «partido de direita» que pratica «políticas contra os interesses dos trabalhadores», agora porque não querem defraudar o seu eleitorado estão dispostos a deixar de ser «partidos de protesto» para se tornarem «partidos de poder», através de um entendimento com o PS.
Um grande partido de referência do sistema político como o PS não pode deixar-se levar pelo tacticismo de outros partidos, sejam eles de esquerda ou de direita. Coisa diferente é negociar as traves mestras para viabilizar a estabilidade política do país com as restantes forças políticas, sem colocar em causa a identidade de todas elas.
Acresce que em 40 anos de democracia não foi nunca a esquerda a dar a mão aos socialistas. De relembrar que, quando os socialistas perderam a maioria absoluta, no segundo governo de Sócrates, o executivo sobreviveu dois anos no poder com o PSD a viabilizar os seus orçamentos e os vários PEC’s com as medidas impostas por Bruxelas. Quando o PSD lhe faltou porque também tinha ambições de poder, a esquerda virou-lhe as costas e votou ao lado da direita para derrubar o governo de Sócrates e este caiu com as consequências que todos conhecemos.
Depois há ainda outro facto insofismável: foi efetivamente a coligação de direita que venceu as eleições legislativas, porque teve mais votos e um maior número de mandatos, embora sem maioria absoluta, o que significa que a maioria dos eleitores quer que seja esta força política a governar, muito embora tenham expressado que pretendem um governo diferente, menos austero, mais dialogante, integrando propostas sociais, financeiras e políticas que, não desrespeitando o programa legitimamente sufragado, visem a melhoria do Estado Social.
O PS pode jogar aqui um trunfo importante, na medida em que dispõe de uma oportunidade soberana de impor nas matérias estruturantes as ideias do seu programa e António Costa representa neste xadrez político o fiel da balança, podendo colocar travão às medidas por que sempre se bateu e tirar dividendos com isso.
Uma coisa é certa. O futuro político, independentemente da solução encontrada, passará inevitavelmente por António Costa.