O homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas
O Presidente da República garantiu não estar arrependido «nem de uma única linha» do que disse sobre a nomeação do Governo, assegurando apenas guiar-se pelo superior interesse nacional.
Contudo, no discurso de tomada de posse no Palácio da Ajuda, vimos o Presidente recuar algumas linhas e manifestar uma postura mais conciliadora e menos crispada.
Cavaco Silva retomou por duas vezes a intervenção feita em Outubro de 2009 quando empossou José Sócrates primeiro-ministro, sem ter uma maioria parlamentar. A primeira vez foi para repetir a ideia de que o executivo de 2009 a que dera posse e à semelhança do XX governo constitucional tem «plena legitimidade constitucional para governar». Cavaco Silva justificou esta legitimidade com dois argumentos: «é a força que ganhou as eleições que deve formar governo» e porque «até ao momento da indigitação do primeiro-ministro não me foi apresentada, pelas outras forças políticas, uma solução alternativa de Governo estável, coerente e credível». A segunda vez foi para relembrar como em 2009 havia afirmado «o horizonte temporal de ação deve ser sempre a legislatura».
O Chefe de Estado alertou que o país se tornará «ingovernável» sem estabilidade política e notou que a esmagadora maioria dos portugueses manifestou nas últimas eleições o apoio à opção europeia «com todas as implicações que daí decorrem». Mas para o Presidente, há um aviso que se segue a este raciocínio e que volta a apontar aos parceiros (PCP e BE) com que o PS tem negociado para uma solução alternativa de governo. «É imprescindível que não subsistam quaisquer dúvidas sobre a fidelidade do Estado português aos compromissos internacionais que assumiu e às grandes opções estratégicas».
Além deste aviso pelos compromissos internacionais, no caderno de encargos que deixou a Passos Coelho, Cavaco deixou ainda a indicação de prioridade à «estratégia de combate ao desemprego e de promoção da justiça social», uma «aposta forte na competitividade», o equilíbrio das contas externas e a garantia de acesso ao financiamento.
Não obstante a moção de rejeição do governo agora empossado seja uma forte possibilidade. Cavaco Silva continua a acreditar que PSD e CDS podem conseguir governar e volta a fechar o discurso com a mesma frase com que encerrou a comunicação ao país que fez quando indigitou Passos Coelho como primeiro-ministro, ao dizer que cabe aos deputados «apreciar o programa do governo e decidir, em consciência e tendo em conta os superiores interesses de Portugal, sobre a sua entrada em plenitude de funções».