O mistério da morte de seis jovens na praia do Meco
O mistério sobre a morte dos jovens universitários na praia do Meco a 15 de Dezembro adensa-se. As famílias das vítimas querem respostas para encerrar este mistério. A partir da cerimónia religiosa que a família das vítimas promoveu naquela praia, no passado domingo, com a celebração de uma missa, começaram a ser levantadas várias questões, que o silêncio do único sobrevivente faz avolumar num espesso manto de dúvidas. Como se explica a "amnésia seletiva" de que o estudante sobrevivente, João Gouveia, “Dux”, alega para não falar sobre o acidente? Acredito que esteja muito perturbado com tudo o que aconteceu, mas que esta história tem contornos muito estranhos, não restam dúvidas. As incertezas que persistem, são assustadoras e alertam para um ritual perigoso de praxe a que os estudantes foram forçados a aderir, certamente por receio de retaliações da comunidade académica. Por outro lado, há um conjunto de questões que importava ver esclarecidas. Nomeadamente, o facto das vítimas, que eram membros da Comissão Oficial das Praxes Académicas da Lusófona, não terem na sua posse os telemóveis; por que iam vestidos com traje académico; por que houve a preocupação de limpar a casa onde estavam hospedados; como é que “Dux” explica que o seu telemóvel nem sequer estivesse molhado; como conseguiu sobreviver à força da água e, finalmente o que aconteceu naquele fim-de-semana que acabou por se revelar fatídico? São questões que os familiares das vítimas e a própria sociedade gostariam de ver respondidas.
Segundo o "DN", vários psicólogos defendem que, neste momento, é normal que o jovem ainda esteja tão traumatizado com o sucedido que não reúna, por enquanto, as condições necessárias para apresentar a sua versão dos factos. As famílias dos estudantes falecidos não concordam com esta justificação, e querem saber o que se passou naquela noite trágica.
A imprensa que tem acompanhado as investigações sobre o caso admite que naquela madrugada teria passado pela praia, ou assistido mesmo ao acidente, um outro estudante ligado às praxes, para além do sobrevivente. Mas é em torno do ritual praxista que se levantam as maiores dúvidas, já que, segundo o "Correio da Manhã" (edição impressa) um «código de silêncio impera no seio da Comissão Oficial de Praxes Académicas da Universidade Lusófona», impedindo que se aprofundem os factos.
Por seu turno, o "Jornal de Notícias" informa que «as vítimas do Meco passaram as últimas horas de vida em praxe, e já estavam habituadas a rituais de risco». É sobre este tipo de rituais que se mantém um manto de silêncio, desconhecendo-se em que medida os jovens teriam sido conduzidos para comportamentos inadequados para o local da tragédia.
Para o jornal "Público" o «elevado estado de decomposição dos corpos de cinco dos seis estudantes da Universidade Lusófona que morreram (...) não permitiu que fossem colhidas amostras para fazer testes de despiste de drogas e álcool, que poderiam trazer mais alguma luz sobre o que se passou naquela madrugada trágica». Apenas um dos corpos, que foi a primeira vítima encontrada algumas horas depois do afogamento, estava em condições de proporcionar aquelas análises.
Enquanto isto, a Reitoria da Universidade Lusófona decidiu abrir um inquérito interno para «aclaração dos factos» e para lançar alguma luz sobre o que terá acontecido antes e durante a tragédia. No despacho dos responsáveis da Universidade considera-se que «decorrida esta etapa de gestão da dor que atingiu tão fortemente as famílias das vítimas», este é o momento que se impõe para tentar um «cabal esclarecimento do que aconteceu naquela noite na praia do Meco».