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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sab | 19.07.14

O panorama televisivo em Portugal

(imagem do google)

A utilidade da televisão, desde há muito, tem motivado os mais acesos debates de modo a responder à eterna questão: a televisão forma ou empobrece o cidadão?

As televisões, neste momento, não estão preocupadas em melhorar competências, mas em ganhar dinheiro. A generalidade dos programas servem única e exclusivamente para aumentar o share do canal.

Bem sei que o mercado publicitário teve uma queda abrupta nos últimos três anos. Mas tudo tem os seus limites!

Sabemos que a televisão é um espelho da sociedade, portanto se temos uma sociedade com défices culturais a televisão apenas reflete isso mesmo.
Os operadores tendem a ir ao encontro dos telespetadores para ganhar audiências, mas, ainda assim, seria possível fazê-lo de forma diferente e com melhor qualidade. Existem bons programas, nomeadamente programas de informação e entretenimento que poderiam ser exibidos em horário nobre, tornando-se inconcebível a continuação de produtos de qualidade confrangedora, como os famosos reality shows.

Algo que me preocupa neste atual estado da televisão é que as estações televisivas nivelaram por baixo e há como que um efeito mimético que faz com que no mesmo horário, transmitam programas idênticos, o que torna complicada a escolha para um telespectador que não aprecie um certo tipo de produto encontrar outro num registo diferente.

As tardes de fim-de-semana nas televisões generalistas, por exemplo, são preenchidas com a transmissão de programas de música popular «pimba» e passatempos telefónicos que prometem oferecer avultadas quantias em dinheiro. Podemos discordar sobre a qualidade musical destes programas. Mas duvido que se possa considerar serviço de qualidade um passatempo desprovido de qualquer interesse cultural, desportivo ou social! Ora se as televisões insistem neste formato, isso significa que têm espectadores para esta tipologia de programas, o que aliás diz muito sobre as preferências dos portugueses.

Proliferam nestes passatempos os apelos para que os telespectadores liguem para números de valor acrescentado que os apresentadores mencionam à exaustão, ficando habilitados, caso liguem, de preferência muitas vezes, a prémios chorudos, tentando convencer os telespetadores que o prémio em jogo poderá ser a solução para os mais dramáticos problemas das pessoas afetadas pela crise e pelo desemprego.

São seis horas de entretenimento, com apresentadores animados que a cada quarto de hora repetem o número para qual se deve ligar para ganhar o prémio. E a cereja em cima do bolo é naturalmente a atribuição do almejado prémio. «Vinte mil euros estão garantidos, mas pode ganhar muito mais», «eu pegava já no telefone»; Pode juntar os mil euros a outro tanto e quem sabe ganhar o jackpot»; «Já imaginou o que fazia com este dinheiro? Pagar uma dívida, a casa, a luz…mudar a sua vida?»

Pois é! É aqui que está o problema! É que os 20 mil euros nunca vão servir para pagar a conta da luz ou da casa e, muito menos, para pagar uma dívida, pela simples razão de que o prémio não é pecuniário, logo, não há dinheiro disponível. As pessoas vão ao engano, porque os prémios atribuídos são creditados num cartão “Visa” que permite fazer compras, mas nunca levantar o prémio em numerário. Perante esta situação, já existem queixas na Entidade Reguladora da Comunicação Social e que estão a ser investigadas.

Eu percebo que subjacente a tudo isto está as lutas pelas audiências e a necessidade de ocupar um espaço das tardes de sábado e domingo a preços reduzidos. Mas também sei que o grande objetivo é arrecadar uma fonte receita de milhões de euros que são embolsados pelas operadoras de televisão e que representam um maná nos dividendos e proveitos das empresas de comunicação. Entristece-me sobremaneira ver profissionais competentes darem dar a cara a este embuste para garantirem o seu trabalho.

Se no caso dos canais privados, esta é apenas uma estratégia que responde a estímulos de mercado, já a televisão pública, paga com o dinheiro dos contribuintes, deveria garantir um serviço público de qualidade e não se deixar seduzir por estas grelhas de programas de gosto muito duvidoso.

Resta a que não se revê nestes programas recorrer ao Cabo ou ao sistema de gravações dos operadores de televisão.