O próximo desafio de António Costa
Depois do ‘caso Casa Pia’ de má memória, o PS vê-se agora confrontado com o ‘caso Sócrates’.
Se no primeiro caso foram envolvidos nomes de dirigentes socialistas com as consequências que advieram para os socialistas (prisão de Paulo Pedroso), no caso mais recente é um ex-líder do partido e ex-primeiro-ministro que por força de uma decisão judicial foi preso preventivamente.
Nada pior podia ter acontecido ao recentemente empossado António Costa, do que ver justamente o dia da sua posse como secretário-geral, ser abalado por um «terramoto político» desta dimensão.
Com a experiência de 2004 e com o subsequente desvario socialista, Costa procurou imediatamente minimizar os danos e colocar o PS o mais longe do epicentro do terramoto.
Nesse aspeto Costa parece ter superado o primeiro teste à sua liderança, colocado pela detenção do ex-primeiro-ministro socialista José Sócrates. O SMS que enviou aos militantes no sábado de manhã - apelando à separação dos «sentimentos de solidariedade e amizade pessoais» da Justiça - surtiu efeito e vários comentadores consideraram que foi a melhor forma de reagir. Mas este é só o primeiro teste que terá de enfrentar.
Mas o problema de Costa, como aliás de quase todos os líderes do PS, à exceção talvez Sócrates, é que a sua autoridade interna no partido não se consegue afirmar como uma liderança forte. Por isso não admira que um número crescente de socialistas, à margem das instruções do líder, tenha vindo para o espaço público comentar o acontecimento e manifestar a convicção na inocência de Sócrates, o que representa implicitamente uma crítica à investigação e à autonomia do poder judicial.
Tudo isto, obviamente é mau para o PS, porque faz um ruído desnecessário, enfraquece a liderança de Costa, e chama a atenção para o partido, quando aquilo justamente que António Costa deseja neste momento, é que as atenções não fiquem concentradas nele e no PS por este motivo.
E o pior ainda pode estar para vir. Este fim-de-semana o PS tem congresso. Costa sabe bem que corre o risco do congresso, que devia ser a consagração e legitimação da sua liderança, poder resvalar num congresso de solidariedade com José Sócrates. Não tanto por força das figuras destacadas do partido, mas porque existe a possibilidade de um ou outro militante de base subir à tribuna na FIL e fazer discursos inflamados de apoio ao ex-líder detido e desferir críticas ao poder ao poder judicial.
Este é um cenário que Costa certamente receará e que não lhe interessa de todo, por duas razões fundamentais: a primeira, porque centra as atenções no ‘velho PS’ quando ele pretender afirmar um PS renovado e traçar um novo rumo para o partido. E a outra, a mais importante e a mais decisiva, porque António Costa sabe que o preso nº 44 não é apenas José Sócrates o anterior ídolo dos socialistas, mas quem habita no Estabelecimento Prisional de Évora atualmente é o homem que comandou os destinos de Portugal entre 2005 e 2011 e que durante esses seis anos teve um papel preponderante no país onde deixou marcas indeléveis, no partido e nos seus militantes.
E essa é a bomba que Costa teme que lhe estoire nas mãos, porque sabe os danos colaterais para o partido e para si próprio que esta hipótese colocaria.
É este o próximo obstáculo que o atual líder do PS vai ter pela frente. Resta-lhe tentar minimizar esses estragos, marcando a agenda com propostas concretas para o partido e para o país.