O regresso de Santana Lopes
Parece que desta vez Pedro Santana Lopes (PSL) vai mesmo candidatar-se à liderança do PSD. O anúncio foi feito na terça-feira, no espaço habitual de comentário na SIC Notícias. «Hoje é um dia de boas notícias: Portugal ganhou e eu sou candidato à liderança do PPD/PSD», afirmou o candidato.
PSL adiantou que só apresentará publicamente a sua candidatura na próxima semana e revelou que manifestou ao presidente do partido, Pedro Passos Coelho, a sua preferência pela realização de diretas em janeiro, opção essa que acabou por ser aprovada na segunda-feira em Conselho Nacional.
PSL é sobejamente conhecido dos portugueses. Foi líder do PSD, presidente das Câmaras da Figueira da Foz e da Capital e até primeiro-ministro. Desempenha atualmente as funções de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, desde 2011.
Como Marques Mendes referiu no passado domingo na SIC Notícias, a candidatura de PSL, neste momento, não deixa de ser um ato de coragem, uma vez que PSL tem mais a perder do que a ganhar. Mas também vai permitir que a disputa interna do futuro líder do PSD fique mais animada e acesa e, sobretudo, que não sejam «favas contadas» para Rui Rio.
Mas, como se explica que Santana Lopes, aos 61 anos e depois de ter sido tudo na política portuguesa, exceto Presidente da República, deixe para trás um lugar de certo prestígio, onde tem feito um bom trabalho e venha disputar a liderança de um PSD em frangalhos, trocando o certo pelo incerto? Será apenas o seu amor ao PPD/PSD?
Relembro aqui parte do artigo de Miguel sousa Tavares hoje no Expresso: Santana Lopes, (…) «o país inteiro conhece-o, até bem demais — com ele é como se fossemos todos família. A imprensa adora-o, porque ele é um incansável fabricante de emoções, animações e trapalhadas — o “menino guerreiro”. Tem sobre Rio essa vantagem: a ele não assustam as guerras perdidas (enfim, não todas…), e não há festa nem festança a que não compareça, convidado ou não. Infelizmente, tem, em relação a Rio, a imensa desvantagem daquele trágico e breve governo de 2002, que Durão Barroso deixou cinicamente de herança ao país quando se pirou para Bruxelas e que Santana chefiou como se chefia um clube de amigos. Mais do que uma amnésia colectiva, seria necessário que o país entrasse num processo de suicídio colectivo (como parece estar a acontecer com o PSD) para que voltássemos a passar por tão deliciosa experiência. Não obstante, eu prefiro sempre aqueles a quem falta em razão o que lhes sobra em coração: afinal de contas, eles são o sal da vida. E a Pedro Santana Lopes aplica-se como uma luva os versos do fado de Amália: “Coração independente/ coração que eu não comando/ vives perdido entre a gente… pára, deixa de bater/ se não sabes onde vais/ porque teimas em correr?».