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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sex | 11.12.20

O Sporting de Rúben Amorim

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Em março, escrevi que era um risco a contratação de Rúben Amorim, não pelo treinador em si, que já apreciava, mas porque naquele momento o Sporting era um clube sem uma estratégia delineada. Limitava-se a navegar à vista.

Esta contratação de risco assumido, e muito criticada, mas feita com os pés assentes na terra foi a base de toda a mudança na estrutura do futebol do sporting.

Rúben Amorim desde logo impôs um sistema e um modelo de jogo em que acredita e que lhe dão garantias de sucesso. Do sistema coletivo aos papéis individuais, em cada posição o que se tem visto são ideias e princípios de jogo muito próprios e consistentes. 

Esta época com contratações cirúrgicas, o Sporting melhorou substancialmente e isso é mérito do treinador. O salto qualitativo de uma temporada para a outra é colossal. As entradas de Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Pedro Porro, Palhinha e João Mário elevaram o nível da equipa de forma decisiva e mesmo Coates e Luís Neto estão motivados e a jogar a um nível muito superior que na época transacta. 

Somos a defesa menos batida do campeonato, o que significa que temos uma defesa eficaz e um meio campo com Matheus Nunes e João Mário que acrescentam critério à equipa, na qualidade da posse, na visão de jogo e João Palhinha que é um jogador fundamental na estratégia de Rúbem Amorin, quer no processo ofensivo, quer no processo defensivo, funcionado como trinco, pela sua capacidade de pressão, recuperação de bolas, de reação à perda e pelo equilíbrio que dá à equipa, trazendo, inegavelmente, mais qualidade ao plantel leonino.E na frente, Pedro Gonçalves, o melhor marcador do campeonato, com doze golos que nos vem enchendo as medidas, jogo após jogo.

Para além do plano técnico e tático, há duas coisas que eu gosto em Ruben Amorim: a primeira, é a forma como lê o jogo. A forma como “mexe” na equipa é sempre de forma extremamente inteligente, por vezes até arriscada, mas sabemos que quem entra no jogo irá sempre melhorar a equipa. Depois é a forma como comunica, algo que é fundamental nos dias de hoje, ter um treinador que saiba comunicar bem com a comunicação social e com os jogadores é um passo para o sucesso.

Rúben Amorim comunica de forma clara, competente e assertiva, de modo a que todos percebam a mensagem que quer transmitir. Acresce que o seu discurso é consistente e realista, o que transmite confiança e este é um dos aspetos elementares em qualquer equipa.

No final do jogo, nas conferências de imprensa, é hábil em tirar a pressão aos jogadores, a maioria jovens atletas, mas sem deixar de ter uma comunicação eficaz e motivacional para dentro, mostrando que ele é o líder e que ninguém tem lugar garantido na equipa.

Quando questionado sobre qual o segredo do atual Sporting, ao contrário de grandes egos que indiretamente colocariam a tónica no treinador, Amorim prefere destacar sempre a equipa, referindo a união e a qualidade dos jogadores.

Apesar de tudo, bem sabemos, que o Sporting não pode lutar com as mesmas armas que os seus rivais. Primeiro porque Amorim teve 17 milhões para gastar, ao contrário de outros clubes que dispuseram de maiores recursos financeiros (Conceição cerca de 22 e JJ mais de 100 milhões) e depois tem ainda que lutar contra inimigos internos e inimigos externos. Só assim se entende que Rúben Amorim seja, à nona jornada, o treinador mais penalizado com expulsões do campeonato português. Em dois jogos, como o mesmo árbitro, esta época, o Sporting foi penalizado em quatro pontos e Ruben Amorim duas vezes expulso.

Mas já se percebeu que este Sporting, com a liderança de Rúben Amorim, tem atitude e estofo mental para lutar com todas estas adversidades até para quando aparecerem alguns resultados negativos, que como sabemos vão aparecer. Todos unidos no espírito «onde vai um vão todos».

Todos os sportinguistas devem continuar a acreditar no trabalho da equipa técnica e dos jogadores. E depois estar na liderança e mantermo-nos lá, ajuda a ganhar confiança e vontade de querer ir sempre mais longe.

Porém, não podemos esquecer que estamos no início de um caminho, que irá ser duro. O campeonato é longo, cheio de obstáculos, e não sabemos como vai terminar. O que sabemos é que há ambição, motivação e muita garra.

O futebol é o momento, e este é um momento é de grande satisfação para os sportinguistas pelo trabalho que está a ser realizado.