«Ouro made in China»
O elo de ligação entre Passos Coelho e Paulo Portas ruiu. Não que alguma vez tenha sido fiável ou resistente ao roubo por esticão. Miguel Macedo sai pela porta que ele mesmo conseguiu fechar, permitindo a Portas revogar a sua decisão de saída "irrevogável" do Governo, em Julho de 2013. Miguel Macedo geriu esse conflito ao suspender o país por uns dias mas, agora e com tantos "amigos dos negócios" a morderem os calcanhares, deixou os seus "amigos do Governo" entregues à sua sorte. Se nunca se entenderam até agora dificilmente se virão a entender, terá pensado. É o momento em que vemos Passos Coelho verdadeiramente dentro da sua "Operação labirinto", nome de baptismo dado à investigação dos VG pela Polícia Judiciária, tapando um buraco ou remodelando o seu Governo da forma drástica que sempre rejeitou como solução. Uma vez mais, terá que ligar a Portas e já não tem o elo. E que lhe poderá exigir Portas, o cérebro pensante e criador dos VG? Um apartamento de 500 mil euros para albergar os seus deputados, evitando o aluguer do táxi do antigamente para o seu grupo parlamentar após as próximas legislativas? A um ano das eleições, duvido seriamente que Paulo Portas venha a equacionar VG para urbanidade com o seu parceiro de coligação no Parlamento.
Quando Miguel Macedo se demite do Governo afirmando que "um ministro com esta pasta não pode ter nunca a sua autoridade diminuída", utiliza o "killer instinct" que o acompanha desde o tempos da JSD, o mesmo que lhe permitiu sobreviver à força das polícias nas escadarias do Parlamento há um ano. A sua frase remete-nos imediatamente para a imagem de Nuno Crato e Paula Teixeira da Cruz, bem mais acossados pelo espectro da saída e pela necessidade das desculpas, na pasta da Educação e da Justiça. Mas foi Miguel Macedo que reconduziu Manuel Palos no comando do SEF, acusado de dois crimes de corrupção passiva na sua dependência directa; que nomeou o seu colega de faculdade António Figueiredo à frente da Direcção-Geral de Registos e Notariado; que mantém ou manteve ligações pessoais e profissionais com várias pessoas e empresas indiciadas no escândalo dos VG. Apesar do descontrolo ou questionável competência dos seus ex-colegas de Governo, não consta que o Citius ou o programa informático de colocação de professores tenha sido corrompido por altos quadros da administração pública nos mais diversos ministérios.
O escândalo de corrupção não deve ocultar o mais relevante. Os dados são revelados pela própria Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, parte interessada na manutenção dos vistos: 1076 milhões de euros entraram no país em investimento estrangeiro captado pelos VG, dos quais 972 milhões correspondem a aquisição de imobiliário nacional. Ou seja, os outros 100 milhões foram directamente para transferências bancárias. Pobre país que vende a sua cidadania desempoeirando e escoando as suas casas de 500 mil euros, permitindo negócios obscuros, fuga de capitais e lavagem de dinheiro sem criar um único posto de trabalho. Seguramente, nem habitando as casas ou comprando mobília. Só imobiliário, nada de mobiliário. Pessoas, zero. Só fantasmas e milionários sem rosto absolutamente desinteressados em financiar, investir ou capitalizar empresas. Portugal, porta de entrada na Europa, paraíso dourado para o aforro de vida de capitalistas predominantemente chineses. Só visto. Estamos mesmo à beira-mar plantados.».