Portugal Telecom, de «bestial a besta»
A Portugal Telecom (PT) era apontada unanimemente como um caso de sucesso. Uma multinacional de topo em que os seus gestores eram referenciados no mundo da gestão. O poder político curvava-se perante os seus órgãos executivos.
Agora percebe-se que estivemos perante mais um embuste do nosso regime, mas os muitos milhões de publicidade pagos às empresas de comunicação foram obstruindo a visão a boa parte da comunicação social. É que a PT era há muito um caso de promiscuidade com o poder político, com a banca e com alguns acionistas de referência.
O declínio da PT começou em 2010 com a venda da Vivo à Telefónica. Na altura o Governo de José Sócrates resistiu enquanto pode, mas foi ultrapassado pela pressão imposta pelos acionistas.
A Vivo é vendida por 7,5 mil milhões de euros, impondo-se como condição pelo Governo a compra outra empresa brasileira. E, sem qualquer critério, a PT investe 3,75 mil milhões de euros na Oi, uma empresa com acionistas endividados e problemáticos. O remanescente foi parar aos bolsos dos acionistas portugueses.
Já este ano, a Oi conseguiu atrair cerca de 2,4 mil milhões de euros dos investidores e a fusão PT/OI era anunciada até ao fim do ano. A PT ficava com 37% da companhia resultante da fusão.
Quando o BES colapsa, sabe-se que a PT tem 900 milhões de euros investidos na Rioforte, facto que levou à demissão de Henrique Granadeiro e colocou em causa a fusão entre as duas empresas.
Depressa se percebeu que Granadeiro não cairia sozinho e arrastaria consigo outros protagonistas. Cerca de um ano após o anúncio da fusão entre a Oi e a PT, Zenal Bava, um dos rostos da operação renunciou à presidência. Não são conhecidas a razões da sua saída, nem foi adiantada nenhuma explicação. No entanto, pode ter sido a ligação da PT ao escândalo do Grupo Espírito Santo a «gota de água» que está a fazer transbordar as relações entre portugueses e brasileiros. A imprensa brasileira refere que a renúncia terá acontecido devido ao «desconforto» causado pela operação Rioforte. Alguns acionistas brasileiros da OI têm sérias dúvidas de que Bava desconhecesse aquela operação.
Depois do afastamento de Bava da OI, a fusão entre as operadoras portuguesa e brasileira, com vista à criação de um mega operador luso-brasileiro no setor das telecomunicações e um mercado de 260 milhões de pessoas, arrisca-se a não vingar.
O afastamento entre as duas empresas parece evidente e poderá levar à venda da PT Portugal aos franceses da Altice – ou a outro interessado que eventualmente possa surgir. O clima de impaciência cresceu à medida que as ações caíram.
O que era há pouco o maior projeto multinacional da economia portuguesa poderá ter os dias contados.