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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Seg | 27.05.19

Rescaldo das Europeias

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O PS ganhou as eleições europeias com 33,39% dos votos, elegendo nove deputados e aumentando a sua representação no Parlamento Europeu. Pedro Marques provou que a falta de carisma também pode ganhar eleições, assim haja um aparelho e de uma máquina devidamente afinadas. O PS com esse resultado ganha novo fôlego para as legislativas de outubro.

 

Quem também ganhou foi o BE, que obtém 9,79% dos votos e dobra a sua representação, elegendo dois deputados, passando agora a ser a terceira força política. Este é um excelente resultado para a Marisa Matias que fez uma excelente campanha. Os portugueses gostam dela e premiaram-na com o seu voto.

 

Outro vencedor foi o PAN que obteve 5,05% e elegeu Francisco Guerreiro como eurodeputado. Passa a ter a legítima expectativa de eleger um grupo parlamentar na Assembleia da República, já em outubro. Tem consigo muito eleitorado jovem, proveniente dos maiores círculos de Lisboa e do Porto, e traz para a agenda mediática muitos temas que atraem a opinião pública.

 

Um dos derrotados destas eleições foi o PSD que se ficou pelos 22,15%, embora mantendo seis representantes. Não há, pois, disfarces ou spin que permitam mascarar o colapso eleitoral do PSD que teve simplesmente o pior resultado eleitoral de sempre. Em 45 anos de história eleitoral nunca bateu tão no fundo.

 

Outro dos derrotados foi o CDS com 6,20% e um eurodeputado, o pior resultado eleitoral de sempre do CDS em eleições europeias. E isto acaba com qualquer veleidade que possa existir por parte do CDS e de Assunção Cristas,  em constituir-se como uma alternativa à Direita.

 

Segue-se a CDU, com 6,70%, que perdeu dois dos três deputados que elegeu há cinco anos. Este foi o pior resultado eleitoral de sempre do PCP. Um partido que perde 2/3 dos seus deputados está definitivamente em crise. Aliás, se olharmos com frieza, os números não mentem: de todos os partidos parlamentares o PCP é o único que perde deputados. É, portanto, o maior derrotado da noite.

 

Na correlação de forças entre esquerda e direita fica clara a subida da esquerda em relação às últimas legislativas. A maioria de esquerda das legislativas de 2015, em que PS, BE e CDU atingiram 50,75%, mantém-se.

 

Mas o grande vencedor foi mesmo a abstenção. O número de pessoas que escolheu não ir votar em Portugal foi demolidor (cerca de 70%).

 

Contrariamente à maior taxa de abstenção de sempre em Portugal, assistiu-se à maior participação eleitoral nos 28 Estados Membros dos últimos 25 anos. O sentimento de que estas seriam as eleições mais importantes de sempre para o projeto europeu levou a uma forte subida na participação em países como França, Reino Unido ou Espanha.

 

Impõe-se a pergunta: o problema é dos portugueses, que não se mobilizam (por comodismo) ou é dos políticos, que não conseguem mobilizar e convencer os portugueses que são capazes de lhes resolver os problemas, aqui e a partir da Europa?

 

No caso português, a elevadíssima abstenção pode, em parte, ser enquadrada na perceção de que estas eleições serviriam de pouco – e que nada de verdadeiramente importante estaria em causa. Sem uma ameaça populista ou extremista séria, os eleitores portugueses não se terão sentido suficientemente mobilizados para trocar um belo dia de praia por uma ida à urnas, sem saberem muito bem as vantagens que isso terá nas suas vidas.

 

As eleições europeias deste domingo trouxeram alterações na composição do Parlamento de Estrasburgo. Socialistas e populares já não tem a maioria, enquanto os liberais e os verdes têm uma subida acentuada. A extrema-direita e os populismos autoritários e nacionalistas têm alguns focos de vitória, mas no global mostram estagnação ou até algum recuo na sua expressão eleitoral.

 

Ao contrário do que muitos temiam, a grande narrativa política desta noite de eleições europeias nos 28 Estados Membros não é o fantasma da extrema-direita, é, sim, o crescimento eleitoral dos Verdes: segundo lugar na Alemanha, à frente de SPD e AFD; terceiro lugar em França, com 12 eurodeputados; mais 70 mandatos para os Verdes/Aliança Europeia no total, uma subida de 20 em relação ao último ato eleitoral.

 

Por cá, o PAN que foi a surpresa da noite, já anunciou que vai integrar a família dos Verdes no Parlamento Europeu.

 

Em Tempo: Por cerca de 3400 votos o PCP consegue aguentar o seu 2º deputado e o PS não consegue eleger o seu 10º.