Sobre a tolerância de ponto pela visita do papa a Portugal
O Governo entendeu dar tolerância de ponto aos funcionários públicos por ocasião da visita papal a 12 de maio
A opção do Governo já mereceu críticas por parte de deputados do PS, entre eles Tiago Barbosa Ribeiro e Isabel Moreira. Os parceiros do Governo, BE e PCP, bem como os partidos de direita afirmaram não se opor à tolerância de ponto no primeiro dia da visita do Papa a Fátima, mas os comunistas têm dúvidas devido à «separação entre as Igrejas e o Estado».
Não vejo qualquer inconveniente em prejuízo da laicidade do Estado. O Estado é laico, mas a sociedade e os cidadãos não têm necessariamente de o ser, até porque a nossa matriz civilizacional é judaico-cristã. Se vamos por aí então teríamos que questionar os feriados religiosos e os dias concedidos pela Páscoa e pelo Natal. A laicidade do estado não deve significar hostilidade contra as convicções religiosas.
Parece-me exagerada se não mesmo ridícula esta tolerância de ponto por outros motivos: primeiro, porque as comemorações são a 13 de maio e não a 12. Depois, porque é discriminatória para com o setor privado e finalmente porque o facto do funcionalismo público gozar esta tolerância criará necessariamente entropias nos serviços, obrigando ao cancelamento de cirurgias, consultas e demais atos médicos; ao encerramento de escolas constituindo um problema para os encarregados de educação, ao adiamento de audiências em alguns tribunais e ao reagendamento de todos os serviços públicos calendarizados para esse dia.
Julgo, por isso, que seria mais sensato respeitar a visita do Papa e encará-la como uma visita de Estado não concedendo tolerância de ponto aos funcionários públicos.